Nos
últimos anos, o carnaval de rua de Uberaba ganhou um bloco muito simpático:
”Maria Boneca” em homenagem a uma das mais populares figuras da cidade. Quem
foi Maria Boneca?. Conto-lhes, carregado de emoção.
Figura
marcante no cotidiano uberabense, Maria dita Boneca povoou o nosso imaginário.
Quando criança, morrendo de medo. A sua pequenina figura causava receio de
aproximação. Quando jovem, as brincadeiras inocentes: ”quer casar comigo,
Maria?” A resposta vinha latente, quase gritando- “Não! Não!”. Maria chegava
cedo ao centro da cidade, antes das 10 horas. Postava-se à porta do bar
Eldorado, rua Artur Machado, onde, hoje, ergue-se o imponente edifício
“Geraldino”, à espera do primeiro café da manhã, servido pelo saudoso Farah
Zaidan, dono do bar. Tipo mignon, sempre muito limpinha. Vestido passado,
cabelo penteado, chinela de dedo. Nos braços, a balançar com desvelo e terno
carinho, enrolada em medidos panos alvos, a boneca que dizia ser sua filha.
Afirmo, sem medo de errar, que Maria, ao seu tempo, foi a mais doce, querida,
amada ,”paparicada” e agradável “dama de rua” de Uberaba, em todos os tempos.
Não se pode imaginar Maria sem a boneca nos braços…Chico Xavier, no livro
“Mãe”, psicografou do poeta Epiphânio Leite, uma poesia linda que retrata Maria
Luiza Tróis , filha de Crescêncio Tróis e Anunciata Trois, com uma abertura de
cortar corações: “Versos dedicados à dama feudal, há três séculos, que hoje
expia, na via pública, sob a alcunha de Maria Boneca, o delito de haver
exterminado o filho jovem que lhe estorvava a existência de irresponsabilidade
e prazer. Medite sobre os versos:
Reencontrei-te
, por fim, esmolando na rua / Nada recorda em ti a dama do castelo..
Lembro-me!
Dás à fossa , o filho louro e belo / Esqueces, gozas, ris.. E a festa continua
Depois
a morte vem… A memória recua / Escutas em ti mesma o trágico libelo
Choras,
nasces de novo e trazes por flagelo / A sede de ser mãe que a demência acentua!
Como
dó i ver-te agora os tristes olhos baços/ Guardas ,louca de amor, uma boneca
nos braços
Em
torno, há quem te apure a trilha merencória/ Mas, bendize senhora, lei piedosa,
austera
Alguém
vela por ti: o filho que te espera/ E há de levar-te aos Céus em cânticos de
glória!
A
nossa Maria Boneca, deve estar ao lado do filho que a dama feudal desprezou…
Ao
desfilar pelas ruas da cidade, espero que reverenciem, com o carinho que
merece, a nossa eterna Maria Boneca!
Luiz
Gonzaga de Oliveira