A feliz iniciativa de criar em Uberaba a ALTM – Academia de Letras do Triângulo Mineiro partiu dos idealizadores José Mendonça, Edson Prata e Monsenhor Juvenal Arduini, em reunião realizada na própria residência do primeiro, no mês de setembro de 1962.
No mês outubro, daquele mesmo ano, um número expressivo de intelectuais reunia-se na sede da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, atual ABCZ, à época localizada na Rua Manoel Borges, 84, para as primeiras deliberações.
Os idealizadores da ALTM (Dr. José Mendonça, Edson Prata e Monsenhor Juvenal Arduini).
Foi assim que, oficialmente, em 15/11/1962, no mesmo local, sob a presidência do Dr. José Mendonça, em presença dos 27 primeiros fundadores, foi apresentada a sugestão e, em seguida aprovado seu estatuto, sendo criado oficialmente esse nobre sodalício triangulino e, posteriormente, ocupadas paulatinamente as vagas restantes.
Nos mesmos moldes de nossa augusta ABL, Academia Brasileira de Letras, a recém inaugurada casa de cultura passou a contar com um total de 40 cadeiras, cujos próximos ocupantes seriam eleitos em escrutínio secreto, por ocasião do falecimento do respectivo titular.
Os ilustres membros da ALTM são tidos por imortais, graças à vitaliciedade que alcançam com a investidura, pois, a partir de então, seus respectivos nomes permanecerão ligados “ad aeternum” à respectiva cadeira para qual foram eleitos.
Reconhecida de Utilidade Pública Municipal, pela Lei nº. 1.125, de 21 de setembro de 1963; e Utilidade Pública Estadual pela Lei nº. 9.470, de 21 de dezembro de 1987, a ALTM é hoje um inegável marco na vida cultural da cidade de Uberaba e toda a região do Brasil central.
Nas palavras de um de seus idealizadores e seu primeiro presidente, José Mendonça:
“(...) Os motivos que me levaram a coordenar o movimento são baseados principalmente na necessidade de congregar a intelectualidade triangulina em torno de um centro de convergência comum, para melhorar estudo e debate dos problemas literários científicos e sociais do mundo atual”.
Uma meta plenamente alcançada ao longo desses 60 anos de sua meritória existência e a merecer especial registro em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira
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0S FUNDADORES
Conforme dispõe o estatuto da ALTM, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, a candidatura a uma vaga ocorre através de inscrição espontânea do candidato ou por indicação de cinco acadêmicos, posteriormente submetida ao parecer de uma comissão constituída de cinco membros e nomeada pelo presidente da instituição.
Fundadores da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Ao respectivo acadêmico fundador coube a escolha do patrono de sua cadeira, devendo essa opção, preferencialmente, recair em ilustre figura de intelectual das letras brasileiras, quiçá mineiro ou vinculado a região triangulina.
E foi assim que em Assembleia para Criação da Academia, ocorrida em 15/11/1962, na Sala de Reuniões da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, Rua Manoel Borges, 84- hoje ABCZ, foram definidos os ocupantes das 27 primeiras cadeiras e, posteriormente, as demais, conforme a ordem cronológica de ingresso, da esquerda para direita e de cima para baixo:
01 – José Mendonça 02 – Santino Gomes de Matos 03 – Victor de Carvalho Ramos 04 – Padre Thomaz de Aquino Prata 05 – Monsenhor Juvenal Arduini 06 – Ruy de Souza Novaes 07 – Ari Rocha 08 – Padre Antônio Thomás Fialho 09 – César Vanucci 10 – Antônio Édson Deroma 11 – Raimundo Rodrigues de Albuquerque 12 – João Rodrigues Cunha 13 – Augusto Afonso Neto 14 – Maurillo Cunha Campos de Moraes e Castro 15 – Georges de Chirée Jardim 16 – Lúcio Mendonça de Azevedo 17 – Quintiliano Jardim 18 – João Henrique Sampaio Vieira da Silva 19 – Lauro Savastino Fontoura 20 – Mário de Ascenção Palmério 21 – Dom Alexandre Gonçalves Amaral 22 – Jacy de Assis 23 – José Soares de Faria 24 – João Edson de Mello 25 – José Pereira Brasil 26 – Lycídio Paes 27 – Edson Gonçalves Prata 28 – João Alamy Filho 29 – Eurico Silva 30 – Leonardo Paulus Smeele 31 – João Modesto dos Santos Filho 32 – Edelweiss Teixeira 33 – Frei Francisco Maria de Uberaba 34 – Gabriel Toti 35 – Antônio Severino Muniz 36 – Valdemes Ribeiro Menezes 37 – José Marçal Costa 38 – José Soares Bilharinho 39 – Dom José Pedro Costa 40 - Guido Mendonça Bilharinho
Nesse mês de novembro em que se comemora os 60 Anos da ALTM, destaco os nomes de cada um desses ilustres e imortais fundadores para que figurem, com especial destaque, nos registros das Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira Fonte: site da ALTM
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GALERIA DOS PRESIDENTES
Criada oficialmente em 15 de novembro de 1922 a ALTM, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, foi exemplar na seleta escolha de luminares nomes entre os maiores intelectuais das letras, ciências e artes.
Galeria dos Presidentes da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
E para dirigir essa augusta instituição foram eleitos, entre os seus acadêmicos, aqueles que teriam a subida honra de ocuparem e de exercerem o importante cargo de sua presidência.
Assim, de cima para baixo e da esquerda para direita, assumiram, cronologicamente, o elevado e distinto cargo de Presidente da ALTM os seguintes e ilustres acadêmicos abaixo discriminados:
1º. – José Mendonça (1963 a 1968).
2º. – Augusto Afonso Neto (1968, em decorrência do falecimento do Presidente José Mendonça, falecido em 4/6/1968).
3º. – Edson Gonçalves Prata (1969 a 1974). 4º. – Guido Luiz Mendonça Bilharinho (1975 a 1976). 5º. – Maurillo Cunha Campos de Moraes e Castro (1977 a 1978). 6º. – Jacy de Assis (1979 a 1980). 7º. – José Soares Bilharinho (1981 a 1986). 8º. – Mário Salvador (1987 a 2008). 9º. – Terezinha Hueb de Menezes (2009 a 2010). 10º. – José Humberto Silva Henriques (2011 a 2012). 11º. – Jorge Alberto Nabut (2013 a 2014). 12º. – Ilcea Sônia Maria de Andrade Borba Marquez (2015 a 2016). 13º. – João Eurípedes Sabino (2017 a 2022).
Honrosamente eleitos por seus pares e tornados imortais, ao assumirem suas respectivas cadeiras na ALTM, incluo os seus nomes na Galeria dos Presidentes para que figurem, ora em diante e com especial destaque, em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira Fonte: site da ALTM
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PALAVRA DO PRESIDENTE
Muitos manifestaram ao longo do tempo a necessidade premente de criarmos uma entidade que congregasse os escritores de Uberaba e de toda a região do Triângulo Mineiro, considerando que o nosso seleiro literário sempre se destacou como centro vanguardista.
João Eurípedes Sabino - Presidente da ALTM.
Tal desejo coletivo remonta aos anos trinta do século passado, todavia, se arrastou pelo tempo, talvez por necessitar de intrépidos timoneiros munidos de coragem, vontade e decisão. Naqueles tempos, Uberaba mesmo tendo uma gama de expoentes literatos, tinha as suas dificuldades naturais para aglutiná-los.
No ano de 1953 o jovem José Rodrigues de Resende, escreveu na Revista do Estudante, editada pela então União Estudantil uberabense, o artigo: “Academia Triangulina de Letras”, no corpo do qual reclamou da demora para criarmos o sodalício. Inclusive citou nomes de escritores exponenciais que poderiam integrá-lo, tais como: Santino Gomes de Matos, José Mendonça, Quintiliano Jardim, Fidelis Reis, Ruy de Souza Novais, Jacy de Assis, prevendo ainda a participação de outros ícones das letras.
É de se notar que José Rodrigues de Resende previu tal fato nove antes da fundação oficial da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, que só viria a ocorrer no ano de 1962. Todos os nomes mencionados por ele, integraram a ALTM, à exceção de Dr. Fidelis Reis que faleceu antes, mas foi homenageado como patrono da cadeira n°1.
O irrepreensível Dr. José Mendonça, advogado, foi o primeiro Presidente.
Merece destaque o fato de que, o trio de frente, formado por ele, e mais; Dr. Edson Prata e Monsenhor Juvenal Arduíni, em face dos seus inquestionáveis talentos e conduta moral, conseguiram aglutinar outros consagrados escritores e assim, no dia 15 de novembro de 1962, há 60 anos, portanto, realizaram a primeira Assembleia para a criação desta que seria considerada, como hoje é, uma das mais creditadas Academias de Letras do Brasil.
Tal evento histórico ocorreu na Sede da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (hoje ABCZ), então situada `a R. Cel. Manoel Borges, 74 em Uberaba /MG.
Para nossa cidade se dirigiram notáveis intelectuais de várias regiões do País e assim, testemunharam o nascimento da Casa de Letras que ora recebe o honroso título de sexagenária.
Durante todos esses 60 anos, nossa querida ALTM funcionou sempre e ininterruptamente.
Trajetória física: este repositório literário, berço de ilustres imortais, funcionou por algum tempo na residência do seu primeiro Presidente Dr. José Mendonça, à Rua Segismundo Mendes, 408. Depois ficou por longos anos em salas pertencentes à Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães-R. Alaor Prata, 317. Sequenciando, usou como locatária a então sede da 14ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil-Rua Dr. Lauro Borges, 88. Finalmente, há seis anos a ALTM está sediada à mesma Rua Dr. Lauro Borges, 347, no imóvel que lhe foi cedido em comodato pela Universidade de Uberaba.
Falar da Academia de Letras do Triângulo Mineiro no ensejo dos seus 60 anos, é enaltecer o valor dos seus Membros que estiveram no instante do seu nascimento e também daqueles, cujos nomes deixaram e deixarão gravados com letras eternas e suas devoções nunca deixaram ou deixam arrefecer, razão pela qual num gesto afetivo, damos nossas mãos para dizer: a ALTM não tem um dono. Ela é de todos nós; dos Acadêmicos, dos Associados Correspondentes e toda a comunidade.
JOÃO EURÍPEDES SABINO
Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
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SEDE ATUAL
Até consolidar e conquistar um espaço físico onde pudesse funcionar com regularidade a ALTM, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, percorreu uma longa e árdua trajetória.
Imagens: ABCZ (acervo Uberaba em Fotos); Coloridas:
1 – Casa de José Mendonça, 2 – Biblioteca Pública, 3 – sede da OAB em Uberaba, 4 – sede atual da ALTM (por Antonio Carlos Prata).
Os primeiros encontros informais ocorreram na residência de José Mendonça, então localizada na Rua Segismundo Mendes 408, onde ele, em companhia dos outros dois idealizadores, Edson Prata e Juvenal Arduini, esboçaram o meritório projeto.
A viabilização da ideia se daria por ocasião de uma Assembleia Geral, ocorrida em 15/11/2022, na sede da antiga Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, atual ABCZ, à época ainda na Rua Manoel Borges, 74, e onde os seus fundadores assinaram ata formal de sua criação.
A partir de então e por longos anos, na falta de uma sede própria, a ALTM funcionaria em salas pertencentes à Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães, Rua Alaor Prata, 317. Depois, na condição de locatária, passaria a ocupar sala na sede da 14ª. Subseção da OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, Rua Dr. Lauro Borges, 88. Por último, desde o ano de 2016, passaria a funcionar em imóvel que lhe foi cedido em comodato pela UNIUBE, Universidade de Uberaba, em seu endereço atual localizado na Rua Dr. Lauro Borges, 347.
No mês em que essa augusta casa de cultura completará 60 ANOS de profícua e laboriosa existência faço minhas as palavras de William Shakespeare para dizer:
“Pois a natureza não nos faz crescer apenas em forças e tamanho. À medida que este templo se amplia, se amplia dentro dele o espaço reservado pra alma e pra inteligência.”
E nesse solene momento é preciso que registremos essa auspiciosa conquista da ALTM em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira
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PARA ENTRAR NA ALTM
Adentrar as dependências da ALTM, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, não é difícil já que as suas portas estão abertas para os amantes das belas artes literárias.
Sede - Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
Mas para ingressar nos quadros desse tabernáculo da cultura e assumir a condição de imortal terás que cumprir certas exigências como bem explicitado por seu presidente, João Eurípedes Sabino, atual ocupante da Cadeira 32, no poema intitulado:
QUERES ENTRAR NA ACADEMIA?
Faças então por merecer Conduza-te correto pela vida Cultives o pendor de escrever Tua vaga poderá ser conseguida Pelos umbrais da Academia Poderás passar se vencer Ela te receberá com fidalguia E tu deverás corresponder Se o teu coração não palpitar E dele sentimentos não nascer Para o seu nobre título avalizar “Sou acadêmico” não basta só dizer Podes entrar na Academia Casa de quem ama a cultura Serás imortal não só por um dia Nela edificarás a tua sepultura O que a Academia fará por mim? Pergunta que não deves formular O que posso fazer por ela? Sim Eis a tua prova de amor secular E por que não acrescentar, quiçá também uma forma de inscrever o seu próprio nome “ad aeternum” em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba Moacir Silveira Imagens: fachada e detalhes em fotos de João Eurípedes Sabino Fonte: Revista Convergência n. 32 – site da ALTM
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Clique em:
Hino - ALTM.
Para ver e ouvir a bela homenagem prestada por Arahilda Gomes Alves a ALTM, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, que no próximo dia 15/11/2022 completará 60 anos de existência. Na condição de atual ocupante e titular da Cadeira 33 da ALTM ela esbanja talento, engenho e arte ao reger o Grupo Coral Sounds, em música e letra de sua própria autoria.
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ATUAL DIRETORIA
No comando das festividades do sexagésimo aniversário da ALTM, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, a ser completado e comemorado no próximo dia 15 desse mês, estão os ilustres imortais de sua atual diretoria a saber, da esquerda para a direita e de cima para baixo:
Atual diretoria - Academia de Letras do Triângulo Mineiro
- Arahilda Gomes Alves, Vice-presidente
- João Eurípedes Sabino, Presidente
- Olga Maria Frange de Oliveira, 1ª. Secretária
- Antônio Pereira da Silva, 2º. Secretário
- Consuelo Pereira Resende do Nascimento, 1ª. Tesoureira
- Dimas da Cruz Oliveira, 2º. Tesoureiro
Ao ensejo de uma data tão especial na vida dessa gloriosa casa de cultura é preciso que os seus nomes figurem com elevado destaque e distinção em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
É bem provável que tenha pensado nas palavras do general romano Pompeu, “navegar é preciso, viver não é preciso”, quando empreendeu viagem por mais 18.000 km, distância a separar Uberaba da cidade de Calcutá, na Índia e para onde se dirigiu em 1914. Para tal era preciso vencer o Atlântico, passar pelo Mediterrâneo, atravessar o Canal de Suez, singrar o mar Vermelho, enfrentar a barreira da língua, as exigências sanitárias e longos períodos de quarentena. Tudo isso em busca de um sonho. Era o que faziam os jovens de então ao partir em busca de redenção econômica representada pelo majestoso gado zebu. Vale lembrar que tais viagens chegavam a durar até três longos anos.
Imagens: - 1 e 2 (no alto): os irmãos Virmondes, João e Otaviano; - 3 e 4 (ao centro):
Virmondes e Otaviano em solo indiano; e - 5 e 6 (em baixo): lápide e cerimônia de sepultamento em Calcutá, Índia (acervo do Museu do Zebu).
E foi assim que ele, aos 27 anos, viajando sozinho e com saúde frágil, saiu em busca de seu destino. Chegou, viu, gostou, selecionou e comprou o mais belo lote de animais que encontrou. Mas, infelizmente, não pode trazê-lo em face da eclosão da Primeira Grande Guerra Mundial. Saudoso de casa, após longa espera, resolveu voltar ao Brasil.
Tempos depois, em 1917, comunicou sua intenção de retornar à Índia para recuperar seu vultoso investimento. Seus familiares impuseram-lhe uma condição, teria que viajar escoltado por dois irmãos. Assim foi feito e, embora fluente na língua inglesa, idioma corrente nas repartições públicas indianas, muito penou ante os inúmeros entraves burocráticos exigidos para a liberação. Como num sonho premonitório ou em uma tragédia anunciada, ele tanto sofreu que acabou falecendo no ano seguinte, 1918, sendo velado e enterrado na distante cidade de Calcutá.
Decorridos quase 60 anos desse infausto acontecimento e reconhecendo a grandeza do empreendimento levado à efeito por um dos primeiros pioneiros na introdução do Zebu no país, a ABCZ resolve transladar, em 1975, seus restos mortais para o Brasil. E o faz com pompa e circunstância pois, na chegada à Uberaba, feita em carro aberto do Corpo de Bombeiros, ladeado por pelotão dos Dragões da Independência da PMMG, foi finalmente sepultado no jazigo da família, no cemitério local de São João Batista.
Ante tão grandioso feito, fazendo minhas as palavras de Kethlene Vanzeler, eu diria que: ... “Tudo bem deixar o tempo passar... / ou viver apenas a espera do que virá... / Tudo bem se afastar, ir bem longe... voar! / Desde que você tenha sempre um lar para voltar!”
Embora trágico, entendo que merece registro e é por isso que incluo os nomes do pioneiro João Martins Borges e de seus irmãos Virmondes e Otaviano Martins Borges nas Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.
Moacir Silveira
Para maiores detalhes dessa história clique no Vídeo:
No próximo dia 21/08/1999 às 17 horas, será oficializado o lançamento do “Instituto José Caetano Borges”. Este instituto nasce com o objetivo de coordenar as atividades do curso de Medicina – Veterinária que é oferecido, a partir de uma parceria entre a Universidade de Uberaba, FAZU e ABCZ. Dentre as grandes metas do instituto está, também, a coordenação dos trabalhos do Hospital veterinário que já se encontra em construção. A escolha do nome de José Caetano Borges se deu pelo papel relevante que este uberabense teve na divulgação da raça em Uberaba, em 1906.
À (esquerda Dr.José de Souza Prata (Presidente da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro), e José Caetano Borges), em foto histórica, em 15 de novembro de 1939 – Foto de Família.
O lançamento acontece no próximo dia 21, na Fazenda Cassu de propriedade de Renato Caetano Borges, com presença de autoridade, representantes das entidades e familiares dos homenageado.
Matéria publicada no Jornal da Manhã, em 13 de agosto de 1999.
Dr. José de Souza Prata - Foto - Acervo de Família.
Rua Dr. José de Souza Prata
Nome: José de Souza Prata ★1897 †1962
Bairro: São Benedito CEP.: 38.045-190
Naturalidade:
Ouro Preto – MG
Filiação:
Carlos Simões Prata e Maria Antonieta de Souza Prata
Casado
com: Nadir Cruvinel Borges Prata (3 filhos)
Profissão:
Advogado
Participação
da Comunidade: Formado pela Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, Rio
de Janeiro, exerceu os cargos de Promotor de Justiça, Delegado e Juiz Municipal
da Comarca de Sacramento e Uberaba. Deixando a magistratura, abriu escritório de
advocacia em Uberaba, distinguindo-se logo como profissional de altas
qualidades e impondo-se imediatamente ao apreço de seus colegas e clientes pela
sua consciência jurídica esclarecida, sólida cultura e elevada idoneidade
moral. Foi professor da Escola Normal Oficial e pertencia ao corpo docente da
Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro e Faculdade de Direito de Franca –
SP, sendo um dos professores fundadores, prestando a estes estabelecimentos de
ensino superior atéo fim de sua existência
os mais apreciáveis serviços. Exerceu também cargos eletivosna vida várias instituições uberabenses,
inclusive na Presidência da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, hoje ABCZ,
sendo um dos fundadores. Durante a sua administração foi erguido o edifício na
Rua Manoel Borges que lhe serviu de sedepor longos anos. Varias vezes diretor do Jockey Club de Uberaba;
Provedor da Santa Casa de Misericórdia: Presidente da Ordem dos Advogados do
Brasil, Subseção de Uberaba. Militou na imprensa local durante muitos anos,
como comentarista sagaz e cronista, sendo um de seus colaboradores efetivos,
contribuindo para maior projeção dos nossos jornais e elevação de seu conceito cultural.
A preocupação de servir foi a tônica de sua personalidade e dinamizou diversos setores na vida de Uberaba.
”A memória é que constrói a História”
(Jacques Le Goff)
Criação e Coordenação de Dorival Luiz Cicci.
Fonte: Documentos e Certidões em poder da família e publicações no Jornal Lavoura e Comércio. Publicado em 15 de outubro de 1999.
Já falamos aqui sobre os “anos dourados” da pecuária do zebu durante o início da década de 1940. Com os grandes países do mundo envolvidos numa guerra interminável, a demanda e o preço da carne bovina no mercado internacional foi às alturas.
Capa do jornal "Lavoura e Comércio" do dia 19 de abril de 1944
O governo brasileiro, por meio do Banco do Brasil, oferecia crédito fácil e barato a qualquer interessado em investir na criação de gado. O resultado foi uma “bolha especulativa” com o boi indiano: milhares de pessoas, muitas sem nenhuma familiaridade com o negócio, tomavam empréstimos ou aplicavam suas economias na criação de zebu, em busca de fortuna rápida. Como era de se esperar, o preço dos reprodutores disparou.
Um detalhe da foto de capa, tirada pelo fotógrafo Prieto.
De um momento para o outro, os pecuaristas do Triângulo Mineiro tornaram-se celebridades nacionais. A imprensa contava histórias e lendas sobre os novos milionários e seus touros transformados em verdadeiras minas de ouro. Dizia-se que, em Uberaba, havia estábulos com ar refrigerado – na época, um luxo que pouquíssimas casas dispunham – e que algumas reses tomavam banho com champanhe. Num tempo em que andar de avião era um sonho, divulgavam-se fotos de touros sendo transportados em aeronaves para fazer coberturas. Alimentando a fama, grupos de “zebuzeiros” fechavam bares e cassinos no Rio de Janeiro, em festas onde comentava-se que charutos finos eram acesos com notas de dólar americano.
Avenida Leopoldino de Oliveira, no final dos anos 1940. No canto esquerdo, o prédio da Associação Comercial, que tinha no térreo o Restaurante Ribamar.
Certamente havia excessos de novos-ricos deslumbrados com o dinheiro fácil, mas boa parte dessas lendas era simples invenção, ou exagero em cima de fatos reais. Houve, de fato, alguns casos em que reprodutores vendidos para regiões distantes do Brasil foram levados de avião – até porque eram poucas as opções de transporte. Mas a especulação com o preço dos animais gerou situações inusitadas. Algumas delas podem ser resgatadas nos jornais da época, como o velho “Lavoura e Comércio” de Uberaba.
Tantos eram os interessados na Exposição de Gado Zebu em 1944, que a SRTM solicitava à população que recebesse os visitantes em suas casas.
Em abril de 1944, a euforia estava no auge e nossa cidade se preparava para a abertura de mais uma Exposição. Eram tantos os interessados em conhecer “a Meca do Zebu” que os hotéis e pensões não davam conta. A Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, antecessora da ABCZ, publicou anúncios nos jornais pedindo às famílias uberabenses que se dispusessem a alugar quartos em suas casas para alojar os visitantes. No dia 19, o “Lavoura” estampou na capa uma grande notícia com direito a foto, onde se via uma jovem bezerra sendo atendida em uma barbearia no centro da cidade. E contava em detalhes a história.
O Salão Rex continua em funcionamento, mas desde os anos 1970 está na Galeria do Edifício Rio Negro. O cabeleireiro Vasco, veterano do estabelecimento, confirmou algumas das informações dessa história. Foto: divulgação Galeria Rio Negro
O criador José Campos, filho de uma família de fazendeiros da vizinha cidade de Veríssimo, contou que estava almoçando no restaurante Ribamar – na época um dos melhores da cidade, no lugar onde mais tarde funcionou o Bar Tip-Top – quando viu passar pela calçada da Avenida Leopoldino de Oliveira um homem conduzindo uma bezerra zebu. Largou os talheres, correu atrás do moço e disse que queria comprar o animal. O dono, José de Paula, relutou em vender – alegando que a havia ganho de presente, que a bezerra chamava-se “Boneca” e era criada em casa, como bicho de estimação. Mas não resistiu a um cheque de 10 mil cruzeiros oferecido pelo pecuarista.
Capa do jornal "Lavoura e Comércio" do dia 19 de abril de 1944
Criador experiente, José Campos achou que Boneca – uma Indubrasil bem puxada para o Gir – estava maltratada, que a aparência descuidada e os pelos longos escondiam suas boas qualidades. Sem muitas alternativas nas imediações, Campos levou a bezerra ao Salão Rex – tradicional barbearia que ficava na própria Av. Leopoldino, próximo à esquina da Rua Artur Machado, onde hoje há uma loja de celulares – e convenceu o proprietário Artur Riccioppo a “dar um trato” na menina. A cena foi flagrada pelo fotografo Prieto.
De banho tomado e com a toilette feita, Boneca despertou a cobiça de quem passava pelo local. Teve início na calçada um leilão improvisado, onde o novo proprietário teria “enjeitado” uma oferta de 40 mil cruzeiros pela nova estrela do seu plantel. “Boneca tem qualidades excepcionais” – dizia – “bem tratada, dentro de pouco tempo estará figurando entre as bezerras mais cotadas de região, e seu preço superará a casa dos 100 mil cruzeiros”. Para se ter uma ideia, com esse valor comprava-se na época um pequeno apartamento com vista para o mar no Rio de Janeiro.
Já no ano seguinte, com o fim da guerra e o corte nos financiamentos, a “farra do boi” terminou de forma trágica. O preço do gado despencou, inúmeros fazendeiros e investidores perderam tudo o que tinham e a classe dos pecuaristas passou uma década pendurada em dívidas e penhores – até conseguir um generoso perdão do governo em 1954.
(André Borges Lopes_Uma primeira versão desse texto foi publicada da na coluna "Binóculo Reverso”do Jornal de Uberaba, em 19/01/2020
Entre 1935 e 1940, a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (SRTM, antecessora da ABCZ) realizou suas exposições de gado Zebu em uma sede provisória que ficava na Rua São Sebastião, a pouco mais de uma quadra da Praça da Matriz.
Palácio Episcopal, o "quintal do Bispo".
Hoje há nesse local (nº 183) um edifício residencial (Condomínio São Jerônimo). A sede se comunicava com um enorme terreno descampado que havia aos fundos, onde ficavam os estábulos cobertos. Em 1938, a revista O Cruzeiro fez uma matéria sobre a "Rural" e seus diretores.
Matéria publicada na Revista Cruzeiro de 14/05/1938. Acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
Posição aproximada do terreno da sede provisória da SRTM e da área ao fundo, onde foram realizadas as exposições da gado Zebu entre 1935 e 1940.
Foto atual do Google Maps.
Livro "ABCZ 100 ANOS: história e histórias", lançado em 25 de abril de 2019.
Com a inauguração do prédio da SRTM na Rua Manoel Borges (1940) e do Parque Fernando Costa (1941) a sede provisória foi desativada e vendida.
Essa história é contada em um trecho do livro "ABCZ 100 ANOS: história e histórias", de Maria Antonieta Borges Lopes e Eliana Mendonça Marques de Rezende, lançado em 2019, durante a última Expozebu.
(André Borges Lopes)
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A EXTINÇÃO DA HBZ E A SEDE PROVISÓRIA
"As primeiras reuniões da nova sociedade realizaram-se na residência de Joaquim Machado Borges na Praça Rui Barbosa (Palacete Machado Borges, prédio tombado que hoje hospeda a Fundação Cultural de Uberaba), mesmo local onde anteriormente se faziam os encontros da Associação do Herd Book Zebu.
Logo na primeira reunião, ficou decidido que a SRTM incorporaria e assumiria as funções da HBZ (que foi extinta) – retomando a luta para a oficialização do registro junto ao Ministério da Agricultura. Em dezembro de 1934, os Estatutos da SRTM foram modificados: foi criado o Conselho Técnico do Serviço de Registro e também a Associação Brasileira de Gado Zebu (dentro da estrutura da SRTM), cabendo-lhe o registro genealógico das raças Indubrasil, Gir, Guzerá e Nelore.
Em fevereiro de 1935, a Sociedade Rural adquiriu de seu associado João Ferreira Gabarra um terreno situado à Rua São Sebastião, próximo ao centro da cidade. O engenheiro Abel Reis foi o responsável pela adaptação do local para sediar a associação e acomodar as exposições anuais de gado. No mês seguinte, as reuniões já se transferiram para a nova sede. Segundo informou um antigo funcionário, apesar da entrada imponente, o prédio era extremamente precário, semelhante a um grande barracão.
A primeira exposição realizada no local foi aberta no dia 2 de junho de 1935, que é também data provável da inauguração oficial da sede provisória. Os currais e estandes eram montados pelos próprios expositores nos fundos do terreno, que emendava com uma área descampada que havia atrás do Palácio Episcopal – conhecida por isso como “quintal do Bispo”.
A sede provisória alojou seis edições anuais da exposição, entre 1935 e 1940. Foram, basicamente, reuniões de trabalho e de negócios. Ainda que estivesse a poucos quarteirões da praça da matriz, a severa limitação do espaço disponível impossibilitava que a SRTM desse ao evento o caráter popular e recreativo dos certames de 1911 e 1934. Ao fim de cada dia, os animais expostos tinham de ser levados para chácaras nas vizinhança da cidade, retornando na manhã seguinte."
Infelizmente minha querida Uberaba tem se projetado no cenário nacional e mundial devido à ausência de alguns fatores que a colocam em evidência. A falta de segurança é um deles valendo dizer que o Triângulo Mineiro não é tratado pelo poder central com a importância que merece. Estamos numa região entre São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais propriamente dita. Tudo que é escória entrante Brasil afora, primeiro passa por Uberaba e depois dissemina para as demais regiões Brasil acima. Até quando Minas Gerais? Até quando Brasil?
José Guillermo Hetnández Aponte. Foto/reprodução.
A morte por assalto do colombiano e pecuarista José Guillermo Hetnández Aponte é mais do que eloquente para exigirmos das autoridades da Segurança Pública; municipais, estatuais e federais, providências preventivas em Uberaba e região! Nos 100 anos da ABCZ ela ganha três “presentes”: ausência do Presidente da República, descaso do Governador e a morte por assalto de um ilustre visitante. Você, ABCZ e Uberaba, não mereciam um presente “melhor”?
Envergonhado peço desculpas pela parte que me toca como uberabense. O presidente da ABCZ Arnaldo Manoel de Sousa Machado Borges, escorreito por excelência, e sua dedicada
diretoria não merecem esse infausto acontecimento. Todavia, solidarizamos com eles nesse momento de luto.
João Eurípedes Sabino-Uberaba/Minas Gerais/Brasil.
Presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.Escritor.
Dentro de um mês, Uberaba estará novamente às voltas com o seu grande evento anual. No dia 27 de abril será aberta a 85ª ExpoZebu que, este ano, tem uma atração extra: os criadores de gado indiano comemoram o centenário da fundação da “Herd Book Zebu”, a primeira associação fundada no País para apoiar o trabalho de seleção genética dos bovinos que foram buscados no outro lado do mundo para revolucionar a pecuária brasileira.
Funcionando desde 1941 no Parque Fernando Costa, pouca gente têm conhecimento de que a que os primeiras feiras de gado realizadas em Uberaba nem de longe dispunham de instalações adequadas. Em 1911, a exposição pioneira foi montada em pavilhões temporários, construídos pelo engenheiro Francisco Palmério (pai do escritor Mário Palmério) no antigo “Prado de São Benedito”, uma pista de corridas de cavalos que existiu até a década de 1950 num terreno entre a atual Estação Rodoviária e a avenida Fernando Costa.
Nas décadas seguintes, aconteceram exposições esporádicas, sem local fixo. Algumas foram feitas no Prado, outras no antigo “Largo da Misericórdia: um descampado que havia entre o Colégio N. Senhora das Dores e o antigo prédio do hospital Santa Casa de Misericórdia – onde mais tarde foi feito o Uberaba Tênis Clube. Em 1934, a grande “Exposição-Feira Agro Pecuária do Triângulo Mineiro”, realizada com apoio da prefeitura, ocupou o novo prédio (ainda em obras) da Santa Casa e seu quintal, onde hoje existe o Hospital Escola da UFTM.
Primeira sede da Sociedade Rural de Uberaba do Triângulo Mineiro. Rua: São Sebastião,259 - Década:1930. Foto/Acervo: Museu do Zebu.
Foi durante a exposição de 1934 que os pecuaristas da região decidiram montar uma nova associação para substituir a Herd Book Zebu. Sob a liderança do agrônomo Fidélis Reis, foi fundada a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro que, três décadas mais tarde, daria origem à ABCZ – Associação Brasileira de Criadores de Zebu. Conhecida pela população como “a Rural”, a SRTM assumiu o compromisso de realizar todos os anos uma exposição de gado na nossa cidade. Começou aí a tradição dos certames anuais, que logo se transformaram em um dos mais importantes eventos do sector agropecuário brasileiro.
Tendo que montar uma exposição por ano, a SRTM cuidou de arranjar um local apropriado, que acomodasse as feiras de modo permanente. Como a entidade não tinha sede própria, a diretoria conseguiu um terreno na Rua São Sebastião, a menos de dois quarteirões da catedral, onde ergueu provisoriamente um galpão com uma portaria em traços “art déco”, estilo em moda na época. Esse terreno (onde hoje está o edifício São Gerônimo) tinha uma vantagem: a parte traseira se comunicava com uma chácara, que se estendia por todo o terreno entre a rua Major Eustáquio e o córrego da Manteiga, sobre o qual surgiu mais tarde a Av. Santos Dumont. Uma inusitada área rural, a poucos metros da praça da Matriz, loteada a partir dos anos 1950 para dar origem às ruas Antônio Carlos e Getúlio Guaritá.
Nessa chácara, a SRTM mandou construir dez currais cobertos, que abrigavam os animais durante as exposições. Ficavam logo atrás do grande palacete que, poucos anos antes, havia sido comprado pela Cúria Metropolitana para servir de residência ao Bispo de Uberaba. Dai surgiu a expressão de que as exposições eram realizadas “no quintal do bispo”. Há uma foto, feita dos fundos da SRTM, onde se vê os currais quadrados – feitos de madeira, cobertos com telhas francesas – e, no alto do morro do outro lado do córrego da Manteiga, os antigos prédios do Colégio Diocesano.
O local acomodou seis exposições entre 1935 e 1940 era muito limitado para as pretensões de um evento, que crescia ano após ano. Ao final de cada dia, os animais precisavam ser retirados dos currais e levados para fazendas nas imediações da cidade, retornando na manhã seguinte. Pode-se imaginar o transtorno das boiadas cruzando a área central da cidade. Além do mais, faltava espaço para os estandes comerciais e de diversões, que haviam deixado boas lembranças nas exposições de 1911 e 1934. Por isso, todos se animaram quando o Fernando Costa – então ministro da Agricultura do governo Getúlio Vargas – sugeriu que fosse construído um novo parque de exposições em Uberaba, que acabou ganhando seu nome. Essa e outras curiosidades estarão no livro “ABCZ – 100 anos de história”, de autoria de Maria Antonieta Borges Lopes e Eliane Marquez de Rezende, que será lançado no dia 25 de abril, dentro das comemorações do centenário.
Vem chegando a Exposição e, com ela, os visitantes do exterior. Dentro de alguns dias, os “gringos” já estarão pela nossa cidade. Nas últimas décadas, o gado Zebu de Uberaba tornou-se famoso por todo o mundo, seja pela qualidade da sua genética, seja pela excelência do controle sanitário. Se a gente pouco vê boiada embarcando em avião rumo ao estrangeiro, não é porque nosso Zebu não emigre. Mas porque novas tecnologias dispensam os animais do incômodo transporte: no lugar vão botijões de sêmen e embriões congelados, levando o DNA do zebu triangulino para povoar pastos de outras terras.
De início, as coisas não eram tão fáceis. Sempre que a situação econômica apertava no Brasil, os criadores de Zebu fino tentavam recorrer à exportação de touros e matrizes para não ficar no prejuízo. E um dos locais mais sonhados era o México. Em parte porque o país asteca tem uma grande tradição em pecuária e condições ambientais semelhantes às que há no Brasil. Em parte porque sua enorme fronteira com os Estados Unidos sempre serviu de passagem para gado contrabandeado ao país vizinho – driblando a rígida vigilância sanitária dos EUA.
A primeira vez que uberabenses tentaram vender gado na América do Norte as coisas não correram nada bem. Era o ano de 1922 e os pecuaristas brasileiros estavam desesperados pela crise dos negócios no País – fruto do final da 1ª Guerra na Europa e de uma epidemia de peste bovina que obrigou o governo a proibir o tráfego de gado. Dois grupos de zebuzeiros (um de Uberaba outro do Rio de Janeiro) colocaram centenas de cabeças de zebu em navios e foram tentar vendê-los no sul dos EUA, onde os criadores estavam começando a formar os rebanhos de zebus Brahman. Foram impedidos pelas autoridades de desembarcar em Saint Louis, no Missouri, e desviaram o rumo a Vera Cruz, no México. Tiveram o azar de chegar bem no meio de uma guerra civil entre o presidente Álvaro Obregon e o caudilho Adolfo de la Huerta. Boa parte das reses finas foi confiscada pelas tropas em conflito para servir de churrasco. Só algumas poucas, talvez 20 ou 30, conseguiram entrar nos EUA pela fronteira. Os prejuízos para os uberabenses foram monumentais.
Em 1945 houve uma nova crise da pecuária no Brasil e uma nova oportunidade de exportação. No México havia interessados em comprar gado indiano para melhoramento da pecuária, entre eles o poderoso ex-presidente Lázaro Cárdenas. Mas a Secretaria de Agricultura do México impunha feroz resistência a esse negócio, alegando o risco de que o gado trouxesse ao país o vírus da febre aftosa. Contava com apoio dos EUA – na época o maior comprador de gado mexicano e interessado em vender aos vizinhos seus reprodutores Brahman.
Em Uberaba, alguns grandes criadores de Zebu montaram a “Sociedade Exportadora Brasil-América” para cuidar dessa transação. Por fim, com o apoio de Cárdenas, os uberabenses ganharam a queda-de-braço. Mas, para cumprir as exigências sanitárias, o rebanho foi levado para a Ilha do Sacrifício, no Caribe, onde ficou estabulado em longa quarentena, durante a qual foram submetidos a rigorosos testes por veterinários e zootecnistas. Finalmente, o rebanho – já todo vendido – foi considerado sadio e liberado para ir para as fazendas.
Poucas semanas depois explodiu a bomba: em abril de 1946, apareceram no México alguns casos isolados de aftosa, dando início a uma epidemia que se espalhou rapidamente. Imediatamente, os EUA suspenderam as importações de gado – jogando a pecuária mexicana em uma longa e profunda crise. Pesadas acusações foram lançadas sobre os zebus brasileiros e os defensores da importação, inclusive Cárdenas, politizando a discussão.
Nunca chegou a ser comprovado que os zebus uberabenses tenham sido os responsáveis pela essa epidemia. Mas o estrago estava feito. O combate à febre aftosa no México levou quase uma década para ser concluído e causou prejuízos incalculáveis à economia do país. Houve até algumas dezenas de mortes de fiscais sanitários, camponeses e soldados em revoltas de pequenos criadores que não se conformavam com o abate obrigatório dos seus rebanhos sob suspeita. O trauma demorou a ser superado e, por 50 anos, nenhum zebu brasileiro pode entrar no México. Somente em 1997 um acordo sanitário reabriu as negociações.
Esse e muitos outros causos, estão no livro “ABCZ 100 anos: história e histórias”, que será lançado na próxima Expozebu.