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sexta-feira, 14 de julho de 2017

“TERRA MADRASTA”

 Orlando Ferreira,”Doca” ao escrever seus livros, teve em “Terra Madrasta”, o de maior repercussão. Seu acendrado amor a Uberaba,sua terra natal, heroicamente, manifestou seu desagrado pelo que a cidade passava mormente a classe política que dominava a então “princesa do sertão”. “Doca” colocou à nu a cidade que tanto amava que, segundo a dedicatória do livro, “está pobre, andrajosa, descalça e maltrapilha”. “É preciso odiar nossos malfeitores , monstruosos e hediondos carrascos que usurpam a boa fé dos uberabenses”, escrevia. Eu, acrescento: Uberaba esperava mais dos seus representantes, desde a esfera municipal. A terrinha cresceu praticamente como uma filha órfã. De pai e mãe. Não fosse a nossa posição geográfica , banhada pelo grande propulsor de nossa economia, o Rio Grande, não sei o que seria da nossa cidade, tão carente de lideranças políticas. Sobre o grande rio, falarei depois das eleições.

Volto ao “Doca”. Agrada-me falar dele. Homem lúcido, audaz, inteligente,nascido sem medo, comunista assumido, espiritualista ardoroso, viajadíssimo e dotado de muito conhecimento.Critico feroz da corrupção, da tirania, da oligarquia.Polêmico para uns, desequilibrado para outros, “Doca” era acima de tudo, autêntico.Sem meias palavras. Os “pseudo-psicólogos” diziam ser portador de distúrbio bipolar, alienado, paranóico. “Doca” era um pensador.Dava vazão o que lhe clamava o espírito. Queria levar ao mundo, suas idéias. À época, não lhe permitia. A “internet”, hoje, mudou aquele conceito…

IMPRENSA LOCAL- “Doca” tecia críticas acerbas . Não suportava o “Correio Católico”, pelo principal fato de estar à serviço da Igreja Católica, religião que não tolerava e o jornal apenas noticiava fatos religiosos, pouco se incomodando com os problemas da cidade. Monsenhor Ignácio Xavier, era o seu “alvo” preferido. Dizia horrores do sacerdote. Sobre o centenário e o falecido “Lavoura e Comércio” escrevia que o jornal era o “órgão oficial do município”.Dizia que a dubiedade de opinião do jornal, chegava às raias do absurdo.Mordia e assoprava”, dizia. Ao mesmo tempo que denunciava fatos da cidade, os encobria se estivessem ligados aos “manda-chuvas” da terrinha…(Obs.minha:se vivesse aos dias de hoje, certamente suas críticas teriam continuado…)

Nunca se viu tanto servilismo pago de diversos setores e comunicação da cidade, como agora, digo eu. Formadores de opinião praticamente não existem. Editoriais desapareceram das páginas dos nossos matutinos. Alguns articulistas , semanalmente, emitem opiniões, ocupando pequenos espaços os nossos veículos como “colaboradores”. Estamos vivendo um momento onde “não mais se vende espaço.Vende-se opinião”.

Nos últimos anos, deixaram de circular na terrinha a “Gazeta de Uberaba”, “Vox”, “Correio Católico”, “Cidade Livre”e o centenário “Lavoura e Comércio”. “Doca”, deve estar remoendo no túmulo que não tem inscrição no cemitério, em saber que os jornais não mais circulam. Se soubesse que as rádios PRE-5, uma das pioneiras do interior do Brasil, a Difusora, que durou 50 anos, a TV Uberaba, primeira geradora de televisão local, desapareceram , por certo, espumaria no canto da boca ao saber que ninguém chorou, nem lágrimas de crocodilo derramou, por mortes tão prematuras… 

As 2 principais redes de televisão do Brasil, instaladas na terrinha, ocupam-se tão somente de pequenos noticiários da cidade, sem aprofundar-se nos nossos problemas e ou no enaltecimento de nossas conquistas. As emissoras de rádio (muitas, por sinal),tanto as “AM”quanto as “FM”, ocupam seus espaços com músicas sertanejas e um modesto noticiário local, extraído dos jornais. Pasmem ! o uberabense gosta de ler nos nossos periódicos , com intensidade e avidez, é o colunismo social. Fotos de uberabenses “correndo mundo”, em festinhas sociais, boates, gestantes mostrando o barrigão do primeiro filho, mansões bem decoradas…ou então, o lado reverso da medalha, acidentes nas ruas , avenidas e rodovias, fotos de bandidos, ladrões, drogados e etecétera.. Assuntos que a cidade precisa conhecer, ó,ó,ó…


 Luiz Gonzaga Oliveira