quinta-feira, 1 de agosto de 2024

A família Mercado Municipal conta sua história

Espaço democrático, plural e diverso, que há 100 anos é referência turística, comercial e de convivência em Uberaba, o Mercado Municipal recebe em média 10 mil pessoas, diariamente, em seus cerca de 40 boxes, onde se encontra “de um tudo”. Mais do que prédio histórico e comércio pujante, o “Mercadão” é um lugar de encontro, principalmente de calor humano e uma boa prosa. Ao percorrer os corredores, conversando com os frequentadores, turistas e comerciantes, foi possível sentir sua pulsação como espaço vivo. Um lugar de sons, aromas e beleza que é entregue, agora, totalmente reformulado. A entrega da revitalização do Mercado Municipal aconteceu em 22 de junho último.  

O Mercadão é uma família. Ao ouvir permissionários, trabalhadores e frequentadores, esse é o sentimento comum. Família com muitas histórias que passam de geração em geração. Um bom exemplo é o Bazar Ribeiro, fundado por Antônio Ribeiro dos Santos, herdado pelo filho Lauro Ribeiro dos Santos, 80 anos. Hoje o mais antigo permissionário do Mercado. Em 1965, abriu o seu comércio de miudezas, paralelo ao comércio do pai, e juntaram os dois bazares em 1970. Com sete anos levava comida para o pai no local, e ficava por ali. 

Um dos filhos, Anderson Rodrigues dos Santos, é o sucessor no Bazar e o outro, André Luiz Rodrigues dos Santos, herdou a vocação do pai e também é permissionário. "É uma vida inteira, somos uma família. A roda da vida girou e de todos os colegas antigos que a gente tinha, somente eu estou por aqui", lembrou, com saudade, Lauro dos Santos. 

Uma das figuras mais emblemáticas e tradicionais do Mercadão é o Pelé (Benedito Sebastião de Souza Coelho), entregador desde 1965, quando tinha 15 anos. São 73 anos de vida, sendo 59 dedicados ao trabalho. Nascido em Nova Odessa (SP), recebeu o título de Cidadão Uberabense há 12 anos. O entregador aprendeu a andar de bicicleta aos 23 anos e percorre cerca de 60 quilômetros por dia na cidade das Sete Colinas, mesmo com algumas limitações físicas.    

Dono de uma memória prodigiosa para datas, o sempre animado Pelé fez entregas a pé por oito anos, até comprar sua primeira bicicleta, em 1973, com ajuda do povo e do radialista e colunista Ataliba Guaritá Neto (Netinho), que abriu uma lista de contribuição para ajudar nessa compra. Arrecadaram mil e quarenta cruzeiros na época. Um dos permissionários, Ailson de Oliveira (Xibiu), foi até Ribeirão Preto (SP) buscar a "magrela", utilizada de 1973 a 1979. Como era uma bicicleta comum, logo estragou por conta do peso das entregas e, novamente, a comunidade ajudou Pelé a comprar uma bicicleta de carga, usada de 1979 a 1991, quando foi roubada. Para que conseguisse trabalhar, ganhou uma bike usada e, contando com ajuda, reformou e usou até 2012, quando ganhou uma nova. Hoje, essa relíquia faz parte do acervo da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).

Jornalista Maria Cândida Sampaio