No dia internacional das mulheres rendo minhas homenagens à duas brasileiras, infelizmente relegadas ao esquecimento em nossa história oficial.
A primeira, Ana Preta, de quem tudo o que se sabe é que foi humilde prostituta no bordel da Dadaça, ali na rua da Alegria, antiga São Miguel e hoje Dr. Paulo Pontes. E mais, quando da passagem por Uberaba das tropas brasileiras com destino à Guerra do Paraguai, ela não pensou duas vezes e escolheu seguir seu companheiro no trágico destino que a aguardava.
A segunda, Jovita Feitosa ou “Joana D’Arc brasileira”, cearense de Tauá, nascida em 8 de março de 1848 e cujo nome verdadeiro era Antonia Alves Feitosa, ficou conhecida como a primeira mulher a tentar se alistar em nossas forças armadas.
Ana Preta atuou como enfermeira acudindo e socorrendo os inúmeros soldados feridos. Chegou mesmo a entrar em combate, conforme o testemunho ocular do escritor Visconde de Taunay em seu célebre “Retirada da Laguna”. Sobre ela também nos fala Paulo Fernando Silveira em seu “Sertão da Farinha Podre: Uberaba na Guerra do Paraguai”. Mais recentemente, novo relato: “Ana Preta – Histórias de Minas”, em livro de João Batista Londe.
Jovita, depois de recusada e ridicularizada, travestiu-se de homem, vestiu farda e, como sabia atirar, foi aceita no corpo de “Voluntários da Pátria”. Descoberta a farsa foi denunciada, levada a uma delegacia e desligada, já na patente de sargenta. Chegaram a lhe oferecer para atuar como enfermeira, não aceitou. Preferiu voltar pra casa. Seu pai porém, ante tal “desonra”, não a quis de volta. Sem alternativas, retornou ao Rio de Janeiro, onde acabou se prostituindo. Amasiou-se com um engenheiro do País de Gales, Willian Noot, mas dele em breve receberia uma carta de despedida informando-a de seu retorno à terra natal. Inconformada, desiludida, prefere dar fim a própria vida. Ao lado do corpo foi encontrada singela carta de despedida: “Não culpem minha morte a pessoa alguma. Fui eu que me matei. A causa só Deus sabe”.
De ora em diante recuso-me a repetir o dito “Uberaba, terra madrasta”, pois ante lamentável omissão histórica prefiro qualificá-la como terra “padrast(a)”, já que não vejo mulheres se prestando a esse ingrato papel.
Moacir Silveira