Hoje, dia 22 de agosto de 2021, é dia de se comemorar o Folclore, conforme Lei promulgada em 1965 pelo Congresso Nacional. O Folclore, todavia, faz parte, diariamente, da vida de todo mundo. Lendas, superstições, hábitos, costumes, estórias, gestos, alimentações ou indumentárias, são tradições folclóricas como as manifestações populares de cantos e danças.
Diz Luiz da Câmara Cascudo, autor do “Dicionário do Folclore Brasileiro” editado em 1954, que “Onde estiver um homem, aí viverá uma fonte de criação e divulgação folclórica”.
As tradições de Catira, Folias com suas variações mais comuns como as de Reis, do Divino, de São Lázaro e de São Gonçalo, a Viola Caipira, as Congadas, Moçambique e Vilões, bem como outras manifestações da cultura afro, são centenárias em Uberaba. Outras manifestações foram gradativamente se inserindo no contexto folclórico, importadas de outras regiões como a Capoeira, na qual, o Berimbau tem um papel relevante.
Uberaba sempre foi centro de atenção na área do Folclore. Por mais de cem anos, grupos de catira como os do José Emídio, João Modesto, José Casimiro, Joaquim Prexedes, Zeca dos Anjos, Chico Carreiro e Valtercides, marcaram presença e fizeram história.
O mais conhecido dos grupos de catira foi o dos Borges comandado, nos últimos 60 anos, por Vilmondes Cruvinel Borges e seu eterno parceiro das violas, Gabriel Borges de Morais, tendo como com grande palmeiro a figura de Orozimbo Fabiano, mas a estrela máxima deste grupo foi Romeu Borges, o maior sapateador de catira que o mundo conheceu e que teve o privilégio de dançar com a maior bailarina brasileira, Ana Botafogo do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Não há como deixar de destacar o Catira dos Teles, sob o comando de Manoel Teles e seus filhos Negrinho e Vinicius, todos violeiros, cantadores e palmeiros. Manoel Teles, um patrimônio cultural pela sua dedicação ao Folclore, era também Capitão de Folia de Reis tendo em seu grupo, a dupla sertaneja Manoelzito e Doraí.
Recentemente Uberaba perdeu o Paulo José Cury, mais conhecido como Paulinho Leiteiro, compositor, cantador, violeiro, sapateador de Lundu que formou o grupo de Catira “Geração por Geração”, composto por seus filhos e netos. Foi um Capitão de Folia de Reis, “Folia Fonte do Amor” e que, por cinquenta anos, atendeu a todos os pedidos dos devotos de Reis. Toda uma família voltada para as tradições folclóricas.
Atualmente, o Catira “Raízes” sob o comando de André Medeiros e o do “Manoel Teles” ainda mantém a tradição. Destaca-se ainda o Catira “Tradição de Minas” criado pelo Wosley Torquato, (Cultura Manifestações) junto com sua família. Wosley vêm a anos mantendo uma escola para ensinar crianças, jovens e adultos os passos do catira. Ele é, hoje, um esteio na manutenção desta tradição.
A poesia é a alma da dança do catira e o sapateado, seu complemento e adorno. Centenas de poetas deixaram um legado de seu trabalho utilizado por diversos grupos de catireiros da região do Vale do Rio Grande. Alguns, como Manoel Rodrigues da Cunha de Jubai, autor de 300 poesias e que foi o mais destacado catireiro desta região. Outros como os poetas e catireiros, Vicente Caburé, Antônio Ananias, Antolino, João Emerenciano, Herculano, João Modesto, José Crioulo, Tertuliano Inácio, José Barbosa, Zé Ninguém, Agenor Teles, são ainda referências. Jair Gomes Seabra, compositor e palmeiro é testemunha viva destas manifestações.
Uberaba é considerada a capital das Folias de Reis, manifestação folclórica que remonta aos tempos de sua origem. É uma manifestação tombada pelo Patrimônio Cultural Municipal, como bem imaterial. São mais de cem grupos que anualmente envolvem milhares de pessoas em seus rituais. Grandes capitães de Folias de Reis, ao passar para eternidade, deixaram a bandeira que, por dezenas de anos, carregaram em devoção aos Três Reis Magos, nas mãos de seus discípulos. Sebastião Mapuaba, Labibe, Geraldo Pires, Evaristo Torquato, Jorge Bernardes, Paulo Cury, Manoel Teles, são alguns dos destaques.
Na viola caipira, difundida através da Escola de Viola “Gaspar Correa”, da Fundação Cultural de Uberaba, centenas de violeiros marcaram com seu talento, os sucessos das músicas sertanejas. Dos que hoje são apenas saudades, não há como esquecer o primeiro professor da Escola de Viola, Claudionor da Silveira, mestre e compositor. Destacam-se também, entre outros, a dupla Nicanor e Palmeri, Silveira e Silveirinha, Serenata, Panamá, Suzanito, Junior, Gaspar Corrêa e Claudio Viola.
Ainda está na memória de todos o falecimento precoce de José Nicodemos que por muitos anos dirigiu a Escola de Violas e criou a Orquestra Violas de Ouro. Comunicador, violeiro e professor, por muitos anos foi integrante da dupla “Odair e Nicodemos” com muitas gravações de sua bonita voz e seu talento na viola.
Os comunicadores sempre tiveram um importante papel na manutenção das tradições folclóricas. O maior destaque foi a dupla Toninho e Marieta. Toninho, violeiro, compositor e cantador com sua mulher, Marieta, foi quem criou, a cerca de 60 anos, o Festival de Folia de Reis, hoje chamado de “Encontro de Folias”. Criou também na década de 1950, seis grupos de catira nos bairros da cidade.
Toninho, além de compositor, violeiro e cantador, era Capitão de Folias e gravou dezenas de LP de músicas de sua própria autoria, no gênero sertanejo e de Folia de Reis. Seu filho, Edson Quirino de Souza, mais conhecido como Edinho deu continuidade ao pioneirismo de seus pais.
Nico Trovador foi uma revelação no comando de seu programa na Televisão, criando oportunidades para apresentações de Festivais de Viola, de Folias de Reis e de duplas sertanejas, de Uberaba e de todo o Brasil, em busca do sucesso.
Destaca-se também nesta área de apoio, o Jornal da Manhã que sempre teve suas portas abertas em apoio ao Folclore e um dos maiores divulgadores de nossa cultura popular, representado pela sua diretora Lídia Prata Ciabotti.
São integrantes do grupo de apoio ao nosso folclore os nomes de Marco Túlio Oliveira Reis que mantém o programa “Prosa Encantada”, Carlos Perez (Cacá Sankari), lutador pela manutenção do TEU, teatro onde sempre se apresentou grupos folclóricos, Beethoven Luis Teixeira, hoje residente em Peirópolis, Jorge Alberto Nabut, escritor; Marcelo Taynara, compositor; Carlos Pedroso, escritor; Toninho da Viola, cantor, violeiro e professor de viola, Jose Maria Dos Reis e a Câmara Municipal de Uberaba em parceria com a Associação Casa do Folclore no lançamento do Programa “Coisa Nossa Uberaba” na TV Câmara. Destaca-se ainda o nome do "Patrão de Minas" poeta e responsável por grande parte das poesias de nossos intérpretes da música sertaneja.
Na área Política há que se registrar a criação da Fundação Cultural de Uberaba no governo de Silvério Cartafina Filho. Todavia, a implantação desta Entidade só aconteceu no governo de Wagner do Nascimento que criou condições para inúmeros Festivais de Viola, de Catira, de Folia de Reis bem como criou e estruturou o Circo do Povo para sediar manifestações folclóricas.
Na gestão de Luiz Neto foram criados os Incentivos Fiscais para estimular projetos voltados para a cultura, disponibilizando maiores recursos para a Fundação Cultural manter todo o seu programa de apoio a todas manifestações culturais.
Foi a época de ouro dos projetos culturais. Foi a época em que as mulheres assumiram a direção da Fundação Cultural. Depois da passagem de Rosana Prata como presidente na gestão de Hugo Rodrigues da Cunha, chegou a vez de Lídia Prata, sucedida por Maria Antonieta Borges (1993/1996) que contou com a colaboração de Virginia Abdala.
Marcos Montes deu continuidade aos trabalhos da Fundação Cultural através de seu presidente, José Tomas da Silva Sobrinho e sua vice, Olga Frange, destacando-se o apoio aos Festivais de Viola e apresentações de Folias de Reis.
No Governo de Anderson Adauto, o presidente da Fundação Cultural foi o saudoso Luiz Gonzaga, sempre participante dos movimentos culturais da cidade.
Foi nesta gestão que ocorreram as comemorações dos Cinquenta Anos de Festivais de Folias de Reis, com o patrocínio da Petrobras, culminando com uma grande festa, lotando o Cine Teatro Municipal Vera Cruz com a distribuição de 100 violas e a presença de duplas sertanejas como a de Liu e Leo e a participação de Paulo Andrade.
Também neste governo, atuou como Presidente da Fundação Cultural, Rodrigo Mateus, um dos mais ardorosos defensores da cultura. Foi em sua gestão que se realizou o primeiro Festival Nacional de Catira, patrocinado pela Petrobrás, na Casa do Folclore, no ano de 2010.
Foram destaques a presença de Alexandre Guti Saad, Marcelo Taynara e Dércio Marques. Foi nesta festividade que a Orquestra Acqua, dirigida pelo maestro Jeziel, com a participação do coral Cidade de Uberaba, sob a batuta de Marly Gonçalves, e da Companhia de Reis do capitão Jorge Bernardes, entoou cantos de Folias de Reis, em compasso de música clássica, trazendo emoções ao público presente
Paulo Piau, em sua primeira gestão, deu todo apoio à então presidente da Fundação Cultural, Sumayra Oliveira, responsável pela realização de dois festivais de Violas e a criação do Centro de Cultura. Foi um período de grandes e marcantes realizações na área do Folclore, graças ao interesse e a vocação cultural da presidente.
Foi sob sua administração que se realizou o II Festival Nacional do Catira, apresentado na Casa do Folclore, em 2013, sob o patrocínio da Petrobrás.
Foi nesta gestão também que se apresentou no Cine Vera Cruz, em 2014, doze grupos de catira de seis estados brasileiros, em projeto patrocinado pela Cia. Vale do Rio Doce onde foi apresentado a edição do livro – Catira 450 Anos de História – pesquisa e autoria de Lisete Resende.
Na segunda gestão Paulo Piau prestigiou o folclorista Antônio Carlos Marques, pesquisador, folclorista e professor que deu uma grande contribuição para manutenção e expansão dos grupos folclóricos de Uberaba. Ex-diretor da Fundação Cultural por longos anos, Antônio Carlos deixou saudades pela sua dedicação à cultura popular.
Louvem- se os Folcloristas, pessoas que se dedicam à cultura popular, principalmente nas áreas de cantos e danças, pelo seu empenho em colaborar para não se perder as raízes culturais de uma cidade ou de uma região.
Uberaba têm, em sua história, magníficos exemplos desta carinhosa dedicação de verdadeiros missionários da Cultura Popular.
Edelweis Teixeira, criador do Instituto do Folclore Regional e Erwin Puhler, Professor por profissão e folclorista por vocação, dois intelectuais que dedicaram suas vidas em promover, colaborar, incentivar e manter todas as nossas manifestações folclóricas, tradições herdadas de nossos antepassados e que são nossas raízes culturais.
Destaca-se também o papel de Lisete Resende, que além do livro “Catira 450 anos”, foi responsável pela elaboração e aprovação dos grandes projetos canalizados para dois Festivais de Catira, dos encontros dos grupos de catira no Cine Teatro Vera Cruz, do jubileu dos Encontros de Folias de Reis, patrocinado pela Petrobras e da ópera Bodas de Fígaro, patrocinado pela Cemig.
Sem falsa modéstia ressalto o papel nesse processo da Associação Cultural Casa do Folclore criada em 1972 sob o nome de Casa do Folclore, palco de centenas de apresentações artísticas nestes últimos 49 anos e que vem registrando, divulgando e contribuindo para a manutenção de uma das coisas mais bonitas de nossas vidas que são representadas pelos grupos de folclore de Uberaba e região. No Facebook mantém o programa a página “Grupo da Difusão da Cultura” onde todas as manifestações culturais são divulgadas. No YouTube mantém a página “Coisa Nossa Uberaba”, divulgando o que é nosso na área cultural.
Hoje é o dia dos folcloristas, dos pesquisadores, dos comunicadores, das entidades voltadas para o folclore, dos participantes dos grupos das manifestações de Catira, Folia de Reis, das Violas Caipiras, das Congadas, dos Moçambiques, entre outros, e de todos aqueles que tem amor pelas nossas tradições.
Viva o Folclore. Viva às nossas tradições. Viva a todos que contribuíram para realçar as manifestações de cultura popular de nossa gente.
Como símbolo do Folclore, pela sua reconhecida posição de apoio continuo ao Folclore, coloco a foto da sede da Associação Cultural Casa do Folclore.
Gilberto Rezende – Presidente da Associação Cultural Casa do Folclore.
Uberaba 22 de agosto de 2021.