Nunca soube seu nome de pia, todos o conheciam assim: Profeta.
Altura mediana, cabelo cheio bem cortado, barba feita, bigode aparado, roupa clara, folgada no corpo (por vezes, cerzida nas pontas). O cinto escuro e largo marcava a silhueta. E sapatos bem engraxados. Circunspecto, não esboçava o mínimo sorriso. Respondia aos cumprimentos com breve aceno da cabeça, nunca se adiantava no reconhecimento. Unia o indicador ao polegar quando discorria sobre um assunto, pausado, de arranque, concluindo sem reticências.
Portava uma pasta com jornais, recortes, e seus escritos em letra de forma, grande, vírgulas e pontos bem colocados, suas reflexões de fatos e outros assuntos. Circulava próximo ao Fórum quando funcionou na Rua Coronel Manoel Borges, vi por vezes em balcões dos Cartórios.
Modesto, não mendigava. Aceitava quando conhecia o interlocutor, se muito uma lata de óleo, um pó de café, uma lata de sardinha.
Previdente tinha uma casa. Pré-moldada em madeira aparada e folha de flandres, que pelas estampas esmaecidas identificava-se produtos fora de linha. Tinha, admito que uns nove metros quadrados, elevada do chão, desmontável, e assim mutável no endereço.
Levado pelo meu irmão eu o conheci na Rua Afonso Teixeira, um trecho sem saída na Barão de Ituberaba paralelo à Rua dos Andradas. Muitos anos depois estava instalado na Rua Lauriston Prata (defronte à flora de Dona Geralda do Capitão), que é outro trecho sem saída da Rua Coronel José Ferreira, agora paralela à Rua Major Eustáquio. Soube que esteve nos fundos do Fórum noutra ocasião.
Fica aqui meu registro, sua imagem guardada na retina, d’o Profeta.
(Leonardo José R.Teixeira)