Esse caso vai para meus companheiros de loteria.
Antes de contar esse caso, cabe uma explicação para quem não sabe como funcionava a loteria esportiva na época:
O jogo custava CR$2,00 e o apostador marcava o resultado de treze jogos e se acertasse os treze palpites ganhava o prêmio. Além dessas marcações, na cartelinha de marcação (volante) deveria constar obrigatoriamente um palpite DUPLO que nada mais era do que duas marcações em um único jogo, por exemplo: digamos que um dos treze jogos constasse Bahia X Náutico e o apostador resolvesse colocar o duplo nele; então ele escolheria dois resultados possíveis (por exemplo: vitória do Bahia e empate) e se acontecesse um desses dois resultados, ele garantiria o ponto desse jogo.
Isso posto, vamos aos fatos: Já de tardezinha, depois de passar a tarde toda no caixa, me surge um senhor já entrado na casa dos setenta, acompanhado de um garoto, ao que tudo indicava, seu neto. Me entregou um punhado de “volantes” e eu, antes de perfurar os cartões na máquina, conferi os jogos para ver se estava certo, que era o procedimento para não fazer jogo errado.
Notando que um dos volantes faltava o palpite duplo alertei o senhor mostrando o volante:
- Senhor, esse volante tá faltando o duplo, o senhor esqueceu.
Uma fração de segundo e ele responde:
- Não taí não?
- Não.
Ele pensa um pouquinho e fala para o menino: - Dito, cadê o duplo?
- Uai, não sei, diz o menino, acho que esqueci em casa...
- Ô menino esquecido, puxou a mãe, né? Já te falei prá prestar atenção nas coisas.
Antes que a bronca aumentasse e me segurando para não rir, chamo o idoso:
- Senhor, eu tenho um duplo aqui de reserva e coloco para o senhor.
Dito isso fiz a marcação, registrei a aposta desejei boa sorte e ele saiu ainda ralhando com o menino.
(Marcelo Caparelli)