segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Rua Artur Machado

Rua Artur Machado, foi do comércio, no passado. “A Noiva”, do Primo Ribeiro, vi primeiro. Do Mário Pousa e do Clarimundo Gonçalves, tinha a “Insinuante”, sempre elegante. Chapelaria do Paschoal Bruno,alfaiataria do Teófilo Ricioppo, ternos não amarrotavam, eram fofos. 

“A Exposição”, do Aquilino Lóes, a “Feira dos Presentes” do João de Melo Maia, em frente ao “Café Uberaba”,sabor do cafezinho que a gente babava.Tinha também o “Bicho da Seda”,mais tarde,lugar do “Café JB”, que, hoje, não mais se vê. Na esquina da praça da Matriz,já sem chafariz,a “Notre Dame de Paris”, dos irmãos Amâncio,calmo como remanso e o Chiquinho,sorrindo, sempre quietinho; na esquina de baixo, a banca de jornais do Vilmondes,sobrenome Bastos, onde as noticias estão à mostra, não se escondem.

 Do outro lado da rua,as “Americanas”, do Manoel Santos Anjo, o “Mané Português”, casa que acabou de vez.Defronte,o sobrado do “seo”Salvador Bruno, no térreo, uma charutaria cujo nome nunca esqueci:”Saci”.Antes, era o “Bazar do Mário”, onde não entrava otário...Encostado, as “Casas do Linho Puro”, que me lembro sempre, juro. Parede e meia, a antiga “Drogasil”,atendimento correto,sempre gentil. Perdeu o lugar prá gente de fora, os pernambucanos das “Pernambucanas”. Em frente,o Piatti, seu alfaiate, jóias da loja do Achiles e, (oh peste!)a camisaria “Miveste”. Na parelha, bem ao lado, o “Bar Eldorado”, dos irmãos Elias e Farah Zaidan, dupla que sempre fui fã. Nos fundos, uma banca de “jogo de bicho” sarado. Jogo honesto, carteado movimentado, jogo bem jogado. Encostadinho, duas portinhas,uma do “Pepino”, vendendo frutas e a do Landry,que jamais esqueci.

Na esquina, o “Armazém Central”, dos irmãos Bruno e Walfrido Martinelli.Do outro lado da rua, a “Casa das Meias”, os donos Durval e Zinho Pizzi, primos dos Petinelli. Bem em frente, o “Rei dos Móveis”,do “seo” Benjamin, olho vivo e sempre torto parecia sempre olhando prá mim.Seguindo, a “Casa Guaritá”, do “seo”Luiz,pai do Netinho, vendia de tudo.Caso raro e, em frente, a “Loja Pignataro”...Ao lado, a “Casa Esporte”, do “velho” Benedito, sempre forte. Depois, o “Orlando Fida”, loja prá lá de bem sortida. 

Fotógrafo uberabense José Severino Soares, o velho “Juca Severino”

O prédio dos Correios,o único que comércio não tinha, abrigou depois a “Mirandinha”.Ao lado a “Casa Vitória”,pegado na tipografia do “seo” Chiquinho e, bem pertinho, a “Casa Guimarães”,cujo dono era apelidado “Benzinho”. No quarteirão 3, me vem a lembrança ,a “Alfaiataria do Parreira” e o “Café Caipira”, ponto dos comerciários contar mentira...”Vis a vis”, a “Casa Molinar”,do “seo” Luiz e os filhos Aleixo e Marinho e o adotivo Fernando e neles, a educação esmerando. Grudado , o ponto “chic” da mocidade, “Bar da Viúva”, chope gelado e escancarada felicidade. No meio,o “Foto Zuza”,máquina à tiracolo, sempre que precisava, usava. A “Loja do Piva”,estoque variado , clientela fiel e sempre viva; nos fundos, a primeira churrascaria de Uberaba, “El Toro”, do Ênio e do Vinicius, carne grelhada , espeto grande, alimentando nossos gulosos vícios. Antes do morro da Presidente Vargas, a roupa bem talhada, tinha endereço, a”Alfaiataria Caldas”. Primeira porta do prédio do “Modelo”, cachorrada no vicio, fazia “ponto”no estúdio do Kasuo Oshio. Ali funcionava o “Bar do Abel”, Arlindo, o engraxate e o Ilvor, que, na profissão, não deixou herdeiro.

Depois da esquina, no chamado 5º.quarteirão, Deus meu, quanta recordação!”Casa das Máquinas”,do paulista Audley Moretzhon, inauguração a época da prestação. Vendendo para gente honesta, que eu saiba, nunca levou “cano”,não... Paro, hoje, na esquina da João Caetano. A rua é grande e o comércio ativo. Dalí até a antiga estação da Mojiana, tem ainda muito atrativo. Lojas e nomes dos que já se foram e o que ainda estão vivos. Para não cansá-los , principalmente para os mais de cinqüenta e a memória não está cinzenta, peço a sua paciência, nesta tarde (3ª.feira) modorrenta. Abraços. Volto nesta quarta-feira, sem eira nem beira, mente aberta,lembrando a “nossa” Artur Machado, que os meus sonhos desperta Parei na esquina da rua do Comércio, com João Caetano. Em frente a” Casa das Máquinas”, uma farmácia tinha, o gerente era o Zequinha.De dia, bom farmacêutico, à noite, solteiro, um bom seresteiro.A seguir a “Casas do Babá”,material de construção,resolvia na casa, qualquer problemão. Perto dali, os “Grisi”, italianada danada.Pais e filhos falavam tão alto que parecia até “brigaiada”.”Casa Daló”, em frente.Gerente, o Hélio.Educado, inteligente, competente, fala mansa, cativava a gente. À auxiliá-lo , os irmãos Dininho e Luiz, não eram diferentes.

 O pintor Élvio Fantato,artista de proa,tinha loja bem pertinho.Para agradar o freguês, sempre dava um jeitinho. Na esquina da ladeira, a loja do Emilio Pucci,bonita, moderna, vitrinada e requintada.Artigos masculinos de primeira, sucesso na cidade inteira. Ali, quase “pegado”, saudade do Alfredo Antônio, barbeiro do salão do João Spiridião, onde “fofoca” política, era de montão. Um pouco à frente, sobrado bem cuidado.Era a “pensão da tia Lêda”.Portas sempre abertas e alertas, recebia a “homaiada” à transar com as lindas, loiras e morenas robustas, alegres prostitutas , sem barulho,nem algazarra, tinha de tudo, menos farra. Embaixo, a joalheria do Walter Gaia, delicado, delicado, que só vendo e nunca se “escondendo”...Do lado esquerdo de quem vai, guardava os transformadores da Cia.Força e Luz, que a verve popular cantarolava:” cidade que seduz, de dia falta água, de noite, falta luz”. Antes, a loja do Cantidio Bertoldi, caça e pesca, alegria prá quem gosta de pescaria.

 Na esquina da Padre Zeferino, a loja do Neyf Fakouri tem mais e quarenta anos.Sempre à porta, alegre e bonachão, esparrama mercadoria até pelo chão. Lado de baixo, o salão do Nazaré.Barbeiro que todo mundo botava fé.Lado de cima, a farmácia do Ferreirinha e a lembrança eterna do Brasilino Felipe, botafoguense e homem de fina estirpe.

 Na sequência, veio a benevolência.Poucas lojas abertas, o nó nos grogumilo, saudade, eis na porta a casa a Maria Augusta,prostíbulo conhecido, afamado e respeitado.Educada e justa, recebia bem a moçada com a “grana curta”.A padaria Espéria,prédio imponente,abrigou panificadora florescente, anos mais tarde (a crise?) tornou-se impotente.Decadente. Ao lado, uma portinha decente, recebia o Garcia,técnico de rádio. Como a Conceição, sumiu. Ninguém sabe, ninguém mais o viu...O “Bazar Azul”, começou de um lado e depois mudou-se para o outro.

 Geração Santos Anjo, ainda domina. Avô passou para os filhos, esses ao neto, que mantém acesa, a dignidade da sina. Entre o Garcia e o Bazar Azul, a memória não me falha, tinha a Farmácia Santa Barbara, de um farmacêutico que admiro , o saudoso Cassimiro. Já a “Pensão da dona Ema”, acabou. Que pena ! A frondosa Gameleira foi ao chão. Durou, durou.Judiada, maltratada, não resistiu. Sem forças, alquebrada, sucumbiu. Morta e sepultada. Para os jovens não quer dizer nada. Para os velhos, uma saudade danada...

 Na subida da Mojiana, lado direito, apenas escombros e tombos da velha máquina de arroz dos Castejon...haja “corazon”. Nada resta mais. O “terrenão” é da Diva de Moraes. À esquerda , quase chegando no topo do morro, o armazém do João Corrêa, sortido até a tampa.Mantimento não faltava nenhum. Afinal, ao lado, morava o saudoso Moisés Sallum. Encostado, ainda resiste e perdura o imponente “chatô” do cônsul italiano, Augusto Buchianeri, que jurava não ter parentesco com a Ana Neri... Falta muita coisa ainda. Essa lembrança não se finda. O cansaço me dominou. As lágrimas começam a escorrer por esse rosto cujas rugas fizeram avenidas de saudade. Tento resistir.Consigo. Se me permitirem, amanhã, recomeço na praça Rui Barbosa, com muita lembrança e prosa. Rua comprida.

 Hoje, a minha memória se finda, embora ela ande uma lambança. Falta lembrança...Querem ver? Esquina da Rui Barbosa, tinha o “Bar Indubrasil”, ponto certeiro da minha fase juvenil. Descendo, lado esquerdo, dona do melhor carnaval, o sobrado da “Associação Esportiva e Cultural”. Embaixo, os “Bilhares Atlântico”, do Waldemar Vieira, ladeado pela loja de presentes e talher, pertencente ao Lino Pegorer. Ainda do mesmo lado, os bancos, Triângulo, Nacional da Lavoura e Produção e Crédito Real, que mais foram saltimbancos, fachadas em mármore preto e branco.Reconheço, assino e dou fé, faltam ainda a Riachuelo,Casa do Livro,Gráfica Zebu, Marabá e Hawai Café, pois não?, todos no primeiro quarteirão. Depois da Alaor Prata, a saudade quase me mata, “A Gaúcha”, do Gonçalo Nascimento, me vem logo ao pensamento. No sobrado, um médico de grande poder, o carismático dr. Boulanger.Depois, três relojoarias, Freitas Mundim, Paris e Londres, sem esquecer a Casa Victor e mais a loja chique dos turistas , a sempre lembrada “A Futurista”, calçados os mais finos e os donos, Wolney e Halley, esse, exímio dançarino.

 Do lado esquerdo, se a “cuca” não me trai, ”A Musical” e o tempo já se vai longe, a simpatia do Bilo Miranzi. A “Tabacaria do “Nhonhô”, “O Cacique”, a “Louçadada”, “Casa Kosmos”, além da “EletroCentral”, como as outras, também tradicional. Ali pertinho, a “Loja da Bênção”,esquina da ladeira do Fórum, bem antes do ponto virar a” Jomar”.Lembro-me também, não posso mentir, da “Nave Tecidos”, do Evanir. Quase em frente, estilo bem brejeiro, ficava o “Bá relojoeiro”.Parede e meia ao casarão dos Toti, funcionava a Tipografia do Godofredo, cuja lembrança nunca me causou medo, que essa cabeça conserva a doce figura do Ítalo Biagi, da “Sapataria Minerva”. Ah! ,me deu na telha e pergunto: e o “Chez moi” e a “Barrica Vermelha”, quem nunca foi lá? A lado da “Alfaiataria do “Manoel Caldas”, na esquina da Presidente Vargas, lembrar me arrisco, ficava o bar do Juquita, o saudoso.

“Bom Petisco”. No quinto quarteirão, não se pode olvidar da “Casa Lord”, sobrado do antigo Conservatório Musical e no térreo, a loja do Chucri Palis.Um pouco à frente, a “Americana”, de Donato Cicci,comandada pelos irmãos Donaldo,Dodô e Dorival Cicci, ponto de encontro da “ turma do disse me disse”. Do outro lado da rua, o armazém “Barros &Borges”, vendia fiado e à vista, famílias oriundas da vizinha Conquista. Alí, coladinho, o foto do Adolfinho Nomelini, que queria por que queria, a filha chamasse Jaquelini. Bem sei, esqueci muita loja e gente. Meu coração pulsa fremente e uma saudade ardente. A rua é comprida. Muita história vivida. 

Hoje, quase esquecida...Grande reta; o que me resta, perdoem esse pobre indigente se a minha esteira da memória se perdeu na torrente. A mente fraqueja: a luz não mais lampeja, tudo que de bom almeja. Se os novos “donos” da rua fico sem destacar; essa turma nova pouco conheço, por obséquio, me poupem ao criticar. É a vida. Na minha cabeça rogo, a rua do Comércio nunca desapareça, pois, de real agora, só está a imortal “Casa da Sogra”...a “Nora”? Foi embora... Ontem, na Artur Machado, eu subia. Agora, descia. Ontem, de costas para o Cristo da praça. Hoje, pouca simpatia, de frente, mostra o ar da graça ... Penhorado, agradeço a companhia pelas andanças que fizemos 
pela mais tradicional rua da nossa santa terrinha. A saudade sem exagero é um tônico para o coração. Abraços do “M.C.”



Cidade de Uberaba