sábado, 3 de fevereiro de 2018

BLOCO “MARIA BONECA” - UBERABA

Nos últimos anos, o carnaval de rua de Uberaba ganhou um bloco muito simpático: ”Maria Boneca” em homenagem a uma das mais populares figuras da cidade. Quem foi Maria Boneca?. Conto-lhes, carregado de emoção.

Figura marcante no cotidiano uberabense, Maria dita Boneca povoou o nosso imaginário. Quando criança, morrendo de medo. A sua pequenina figura causava receio de aproximação. Quando jovem, as brincadeiras inocentes: ”quer casar comigo, Maria?” A resposta vinha latente, quase gritando- “Não! Não!”. Maria chegava cedo ao centro da cidade, antes das 10 horas. Postava-se à porta do bar Eldorado, rua Artur Machado, onde, hoje, ergue-se o imponente edifício “Geraldino”, à espera do primeiro café da manhã, servido pelo saudoso Farah Zaidan, dono do bar. Tipo mignon, sempre muito limpinha. Vestido passado, cabelo penteado, chinela de dedo. Nos braços, a balançar com desvelo e terno carinho, enrolada em medidos panos alvos, a boneca que dizia ser sua filha. Afirmo, sem medo de errar, que Maria, ao seu tempo, foi a mais doce, querida, amada ,”paparicada” e agradável “dama de rua” de Uberaba, em todos os tempos. Não se pode imaginar Maria sem a boneca nos braços…Chico Xavier, no livro “Mãe”, psicografou do poeta Epiphânio Leite, uma poesia linda que retrata Maria Luiza Tróis , filha de Crescêncio Tróis e Anunciata Trois, com uma abertura de cortar corações: “Versos dedicados à dama feudal, há três séculos, que hoje expia, na via pública, sob a alcunha de Maria Boneca, o delito de haver exterminado o filho jovem que lhe estorvava a existência de irresponsabilidade e prazer. Medite sobre os versos:

Reencontrei-te , por fim, esmolando na rua / Nada recorda em ti a dama do castelo..
Lembro-me! Dás à fossa , o filho louro e belo / Esqueces, gozas, ris.. E a festa continua
Depois a morte vem… A memória recua / Escutas em ti mesma o trágico libelo
Choras, nasces de novo e trazes por flagelo / A sede de ser mãe que a demência acentua!
Como dó i ver-te agora os tristes olhos baços/ Guardas ,louca de amor, uma boneca nos braços
Em torno, há quem te apure a trilha merencória/ Mas, bendize senhora, lei piedosa, austera
Alguém vela por ti: o filho que te espera/ E há de levar-te aos Céus em cânticos de glória!
A nossa Maria Boneca, deve estar ao lado do filho que a dama feudal desprezou…
Ao desfilar pelas ruas da cidade, espero que reverenciem, com o carinho que merece, a nossa eterna Maria Boneca!


Luiz Gonzaga de Oliveira