Há
uma condicionante que, volta e meia, gosto de lembrar: Uberaba é uma cidade exemplar.
Tudo aquilo que os nossos homens públicos propuseram realizar, conseguiram
vitoriar-se em suas conquistas. Começou com a saga do zebu, o pioneirismo da
nossa gente, o intrépido homem do campo, melhorando a genética do rebanho
bovino e seus avanços. Na Educação, fomos vanguardeiros, iniciando no ensino
profissionalizante e a culminância dos cursos universitários.
Em
tempos idos, os bailes homéricos de uma cidade rica, incluindo até “prado de
corridas de cavalos”, cassinos luxuosos, a terrinha se fez presente também .
Uberaba, entre tantos fatores altamente positivos, não poderia deixar de
receber o título de “cidade boêmia”. Cabarés, jogos de azar, prostituição,
juntos e misturados, aliados aos “chiques” clubes sociais ...Turistas,
forasteiros, visitantes que aqui aportavam em outros tempos, se assustavam
quando ouviam falar que o nosso puteiro, tinha nome de santo: São
Miguel...Arcanjo ? Não tenho certeza...
Rua São Miguel – atual Rua Dr. Paulo Pontes |
Bem
central,início do bairro São Benedito, atrás da Catedral Metropolitana,
encravada entre ruas familiares, a “São Miguel”, era conhecida no Brasil
inteiro. Bem mais “falada” que a “casa da Eny”, em Baurú (SP).Logo na esquina
da praça Frei Eugênio, o “Tabu”,Bar-restaurante, famoso e que resiste ao tempo,
só que em outro local e inteiramente familiar. Do outro lado da rua, a “venda”
do Armando Angotti. Descendo a rua, feéricamente iluminada,
lâmpadas”pisca-pisca”, vermelhas , anunciavam as casas:
Tunica,Amelinha,Negrinha,Jovita,”tia Moça”,a travessa Ernesto Pena,conhecida
como o “beco dos aflitos”.
Do
outro lado da rua, a Erotildes, o “Cassino Brasil”, a Tubertina, Nena, Isolina
e, quase chegando à rua Vigário Silva, o bar “Boca da Onça”(Não confundir com o
sério”Buraco da Onça”...)do Caio “Guarda”,que não fechava nunca, pois,não tinha
porta...Final de semana, o movimento na rua, “dobrava”.O “Tabu”,com o Chin e o Antônio,
varavam madrugada. O churrasquinho do Jaime,cheirava até no bar do “Yassu”, na
rua Tristão de Castro...
A
rua do “santo”,também era conhecida como”baculerê”,puteiro,”rua das primas” e
outras alcunhas. A “São Miguel”, era freqüentada pela fina flor da sociedade
masculina, sem distinção de classe, cor ou credo.Ali, se misturavam homens
sisudos,figuras patéticas, jovens bem vestidos,maltrapilhos,pais com os filhos
e outras extravagâncias.
O
“Cassino Brasil”, era a atração. A mulherada vestia suas melhores roupas, os
perfumes mais caros, a “maquiagem” mais atraente, a fim de conseguir o melhor
“programa”. O “show” comandado pelo Paulo, amante da Negrinha, culminava com a
apresentação da dupla”Birinha e Diquinha”,dois “frescos”( naquele tempo,
ninguém falava em homossexual,bicha,travesti,transgênero ou outra espécie) era
“fresco” ou “viado”..Além deles, tinha o Amador,viado metido a intelectual,
vivia com livros debaixo do braço e puxava a “lili”, sua cachorrinha de estimação,
por um cordão encardido...
O
respeito na “São Miguel”,era total.Qualquer desavença entre , “gigolô”
agredindo mulher,bêbado inconveniente,lá estava o “cabo Tatá”, colocando ordem
na “casa”, escoltado pelo “cabo Ranulfo” e o “investigador “ Benedito.
“Andei”
pesquisando sobre as “moças de vida nada fácil” que residiam na “São Miguel”.
Confesso-lhes,não encontrei nenhuma mãe da atual safra de políticos da santa
terrinha...
Luiz
Gonzaga de Oliveira