Igreja Matriz São Miguel da antiga cidade.
Foto do acervo
pessoal de Mariza Aparecida Queiroz.
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Seminarista Vitor Lacerda
O povoado de Ponte Nova
Tendo sido instituída Paróquia pela Lei nº. 2916 de
26 de setembro de 1882, a matriz de São Miguel da cidade de Nova Ponte está
prestes a comemorar seus 135 anos de fundação. Muitas são as memórias que se
acumulam nestes mais de cem anos e que se misturam com as próprias lembranças e
suspiros de seu povo e cidade.
Esta história começa no período colonial, inserida
no processo de exploração e expansão territorial pelos sertões promovido pelos
bandeirantes. A bandeira de Castanho Taques, que passou por Desemboque e Araxá,
em busca de um caminho mais curto para Paracatu, atingiu as terras que se
tornariam Nova Ponte. Os fazendeiros Manoel Pires de Miranda e Antônio Lúcio de
Resende receberam uma sesmaria, dividida pelo rio Araguari, e doaram uma gleba,
onde foram construídas as igrejas de São Miguel e São Sebastião, nos arredores
das quais desenvolveram-se dois povoados. As pontes que foram sendo construídas
ao longo da história com o propósito de ligar as duas margens do rio deram à
cidade de Nova Ponte o nome como hoje é chamada.
Mais adiante, em 1882 (fim do período imperial) foi
criada a freguesia de São Miguel da Ponte Nova. A inversão do nome para Nova
Ponte justificou-se posteriormente por conta da quantidade de municípios
brasileiros com o mesmo nome. Sua elevação a município se daria um pouco mais
tarde, em 1938, desmembrando-se de Sacramento.
Um rico histórico de pastores
O primeiro pároco foi Pe. Joaquim Severino
Ribeiro, cuja provisão se deu em 1884. Ele também atendia a Paróquia de Dores
de Santa Juliana. Seguiram a ele outros três padres diocesanos quando, em 1899,
assumiu o governo da paróquia Frei Agostinho Cristóbal OSA. Os freis agostinianos permaneceram na paróquia
até 1908 sendo que passaram ao todo cinco párocos desta ordem religiosa. Em
1908 reassumiu a condução paroquial o clero diocesano na pessoa de Pe. José
Sanroman (1908-1912), sendoservido aquela comunidade eclesial a um importante
propósito social naquele momento histórico.
Quando se deu a inundação da antiga cidade, em
meados de 1993/1994, nos relatos de muitos moradores, o momento mais sofrido
foi quando a cabeça da grande imagem de São Miguel, feita de pedra, que ornava
a grande torre externa da matriz, caiu por chão. Mais tarde, este patrimônio
histórico e religioso seria transferido para a praça da nova matriz como
símbolo de continuidade do novo templo que foi construído com aquele que
permanecera debaixo d’água.
Em muitos sentidos a história da Paróquia de São
Miguel de Nova Ponte é didática em nos ensinar que o maior patrimônio de uma
paróquia, aquilo que de fato é indissolúvel ao tempo, é justamente o produto da
evangelização que geração após geração vai edificando na fé e na virtude toda
uma comunidade de pessoas reunidas no amor e no seguimento a Jesus Cristo. Pois
assim como o povo de Israel, cativo no Egito e na Babilônia, peregrino no
deserto, perdidos por vezes no culto a outros deuses, não perdeu sua identidade
e seu compromisso, assim também somos nós em nossas paróquias: pequenas parcelas
do povo eleito por Deus que encontram sua identidade Nele próprio.
Continuidade de um longo trabalho
Desde janeiro de 2016 é Pároco de São Miguel de Nova
Ponte o Revmo. Pe. Rone Carlos da Silva que vem se esforçando na elevação do
patrimônio espiritual e material desta paróquia. Desde sua posse muito tem sido
feito: a Capela de São Sebastião, símbolo resistente da época em que a cidade
se dividia em dois povoados separados por um rio, teve portas trocadas, bancos
restaurados e o telhado foi todo colocado. Na capela de São José foi construído
um banheiro e uma pequena secretaria. Na capela de Nossa Senhora da Medalha
foram colocadas rampas de acesso para portadores de necessidades especiais.
Em relação à matriz, agora um templo com quase vinte
e cinco anos, foram reformadas as portas laterais e o pórtico central e está
sendo concluída a troca total do telhado e das calhas. No interior da matriz
está sendo ampliada a sacristia e uma capela para o Santíssimo. Foram
adquiridos vitrais para a parte inferior da nave com o propósito de dotá-la de
maior encanto seguido pelo Pe. Domingos da Silva (1912-1917) e
pelo Pe. Albino Figueiredo de Miranda (1917-1925).
Igreja Matriz São Miguel da antiga cidade.
Foto do acervo pessoal de Mariza Aparecida Queiroz
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A chegada de nosso segundo bispo, Dom Antônio de
Almeida Lustosa SDB em fevereiro de 1925, coincidiu com a anexação da
Paróquia de São Miguel de Nova Ponte à Paróquia de Nossa Senhora da Abadia de
Água Suja (Romaria) e a entrega de ambas aos recém-chegados padres da
Congregação dos Sagrados Corações, dentre os quais o Beato Pe. Eustáquio van
Lieshout que certamente marcou presença, como os demais padres de sua
congregação, em Nova Ponte. Mas aquele que deixaria contribuição mais
significativa, seja por ser o primeiro a de fato residir na cidade, como pelo
tempo em que lá permaneceu, foi o holandês Pe. Panfílio van den Broek SSCC. Chegou em Nova Ponte em 1953 e durante os trinta e
três anos em que foi pároco foi responsável pela construção de várias capelas
rurais, pela remodelação da antiga matriz e por um eficaz trabalho pastoral e
missionário.
Em 1986, todavia, a Paróquia haveria por mais uma
vez, e de forma definitiva, retornar à condução do clero diocesano diante do
desejo do então arcebispo Dom Benedito de Ulhoa Vieira, após prestados os
devidos agradecimentos aos Padres dos Sagrados Corações que ali colaboraram por
mais de sessenta anos. O primeiro pároco desse período de transição foi o Pe.
José Lourenço da Silva Júnior.
A construção da represa: uma “nova”
paróquia?
Em 1952, quando Juscelino Kubitschek era governador
de Minas Gerais, várias pequenas usinas hidroelétricas foram reunidas numa
única empresa energética que serviria como propulsora do crescimento industrial
de todo o estado: a Cemig. Desse momento em diante, vários pontos hidrográficos
do estado passaram a ser cogitados para ampliar nosso fornecimento de energia
elétrica e, desde a década de 1970, começaram a serem feitos estudos no rio
Araguari, que cortava Nova Ponte.
Quando se anunciou, no início da década de 1990,
que a cidade seria inundada por ocasião da construção de uma usina
hidroelétrica no local, e que a Cemig indenizaria os danos sociais causados por
meio da construção de uma nova cidade, muita foi a relutância do povo. Neste
sentido, vale destacar que muitas reuniões entre representantes da empresa e
moradores novapontenses aconteceram na antiga matriz de São Miguel, tendo,
pois, Para o futuro, o pároco diz ter como projeto
readequar o presbitério, pintar toda a igreja, construir armários na secretaria
e na sacristia e buscar, junto à Prefeitura de Nova Ponte, uma parceria para
revitalização da praça onde se encontra a matriz de São Miguel.