Com o passar do tempo, o
teatro São Luís volta ao abandono e, em 1888, o prédio novamente ameaça a ruir.
Nova associação é organizada, desta feita presidida por Manuel Rodrigues
Barcelos, sendo as obras dirigidas por Crispiniano Tavares, engenheiro, escritor,
proprietário e organizador da modelar e legendária “Quinta da Boa Esperança”.
Em 1891, afastando-se
Rodrigues Barcelos da presidência da Associação, assume-a João Teodoro
Gonçalves de Oliveira, tendo Bento José Dantas como vice, José Augusto de Paiva
Teixeira, o Casusa, como secretário, e Manuel Terra como tesoureiro. Essa
diretoria também efetua muitas obras no prédio, tanto de conservação, como de
ampliação e modernização.
Em 1897, João Teodoro é
vítima, em Mato Grosso, de latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte. Com
isso e o afastamento de vários membros da diretoria, é entregue o teatro São
Luís à Câmara Municipal de Uberaba, que, à época, mercê de regime
parlamentarista vigente a nível municipal, representa o que hoje é o município,
passando a Câmara, daí em diante, a se responsabilizar pelo teatro, operando
nele, em diversas ocasiões, reformas e melhoramentos diversos.
Cine Theatro São Luis - Foto da década de
1930.(APU) |
Conta, ainda, Hildebrando
Pontes no notável ensaio citado, que o teatro chega a ter em seu arquivo 72
(setenta e duas) peças teatrais oferecidas por Antônio Borges Sampaio, figura
que dificilmente será suplantada, em Uberaba, como seu maior e mais
extraordinário benfeitor em todos os setores. Talvez por isso mesmo, a cidade o
tenha “homenageado”, como diz Santino Gomes de Matos, com “um vago nome [apenas
Coronel Sampaio], numa vaga rua, com afundamento melancólico na indiferença
popular, eis a injustiça que se deve corrigir em relação a Antônio Borges
Sampaio” (“Palavras de Apresentação”, in Uberaba: História, Fatos e Homens, de
Antônio Borges Sampaio. Uberaba, Academia de Letras do Triângulo Mineiro/Bolsa
de Publicações do Município de Uberaba, 1971). Em contrapartida, deu à atual
praça Rui Barbosa, transferido posteriormente para a praça onde está a Concha
Acústica, o nome de seu maior malfeitor, Afonso Pena, responsável por
transferir para São Paulo a estrada de ferro Uberaba-Coxim, perdendo a cidade,
de um dia para outro, todo o intenso comércio mantido com Mato Grosso.
Como não poderia deixar
de ser numa sociedade que se preocupa quase exclusivamente com a materialidade
da vida, salvo raríssimas e, por isso, insuficientes exceções, o referido
arquivo, já em 1907 e ainda em vida de Borges Sampaio, desaparecera.
Acrescente-se: criminosamente. Eis que o é toda ação e omissão que atente
contra a memória da comunidade.
Com o passar dos anos, a
teor do texto da lei municipal 529, de 8 de maio de 1926, até o próprio prédio
do teatro não mais existe.
É que essa lei concede a
Orlando e Olavo Rodrigues da Cunha, para a construção de um teatro, o terreno
situado na praça Rui Barbosa, “onde existia o Theatro S. Luiz”.
Em maio de 1931 é
inaugurado o então cine-teatro São Luís, cuja edificação é realizada pela firma
Santos Guido & Cia., sob a fiscalização do engenheiro Guilherme de Oliveira
Ferreira.
A inauguração do prédio,
de propriedade da empresa Orlando Rodrigues da Cunha & Cia. Ltda., a partir
de então destinado a cinema e representações teatrais, alcança grande
repercussão à época, dada a modernidade não só da obra e do mobiliário, como da
aparelhagem de projeção e de som.
Em 1938 é feita ampla
reforma no prédio, inclusive com aquisição de terreno limítrofe para ampliação
de sua capacidade. No ano subsequente, a empresa proprietária do prédio adota o
nome do antigo teatro, passando a denominar-se Empresa Cinematográfica São
Luís.
Entre inúmeras peças
encenadas no São Luís, citam-se: em 1933, pelo Grupo Dramático Artur Azevedo,
presidido pelo compositor e maestro Renato Frateschi, além de outras, o drama A
Órfã de Goiás e a comédia Zazá, esta de autoria de César Mendonça; em janeiro
de 1954, pelo Teatro do Estudante, a comédia A Incrível Genoveva, de Franklin
Botelho, triangulino de Patrocínio, sob a direção de Reinaldo Domingos
Ferreira; em novembro de 1963, pelo NATA, O Auto da Compadecida, de Ariano
Suassuna, sob a direção de Deusedino Martins.
Na década de 1960 O
Núcleo Universitário Teatral Uberabense – NUTU, fundado por Hildo Nunes
Lourenço e Paulo Silva, leva no São Luís duas peças: O Rapto da Cebolinha, de
Maria Clara Machado, dirigida pelo primeiro, e O Transviado, também dirigido
por Hildo Nunes Lourenço.
Nas décadas seguintes,
além das sessões cinematográficas diárias, vez por outra ocorrem representações
teatrais por companhias profissionais, principalmente de São Paulo, sendo uma
das últimas, e das mais significativas e importantes, a encenação da peça
Coriolano, de Shakespeare, em julho de 1974, interpretada por, entre outros,
Paulo Autran e Henriette Morineau.
Em 1978, o prédio sofre
nova reforma, passando daí por diante a apresentar apenas sessões de cinema,
sendo as representações teatrais transferidas para o cine Vera Cruz.
Guido Bilharinho
Advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão, de 1980 a 2000. e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional, entre eles Brasil: Cinco Séculos de História, inédito
19/02/2012
Advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão, de 1980 a 2000. e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional, entre eles Brasil: Cinco Séculos de História, inédito
19/02/2012