Orlando Ferreira,”Doca” ao escrever seus
livros, teve em “Terra Madrasta”, o de maior repercussão. Seu acendrado amor a
Uberaba,sua terra natal, heroicamente, manifestou seu desagrado pelo que a
cidade passava mormente a classe política que dominava a então “princesa do
sertão”. “Doca” colocou à nu a cidade que tanto amava que, segundo a
dedicatória do livro, “está pobre, andrajosa, descalça e maltrapilha”. “É
preciso odiar nossos malfeitores , monstruosos e hediondos carrascos que
usurpam a boa fé dos uberabenses”, escrevia. Eu, acrescento: Uberaba esperava
mais dos seus representantes, desde a esfera municipal. A terrinha cresceu
praticamente como uma filha órfã. De pai e mãe. Não fosse a nossa posição
geográfica , banhada pelo grande propulsor de nossa economia, o Rio Grande, não
sei o que seria da nossa cidade, tão carente de lideranças políticas. Sobre o
grande rio, falarei depois das eleições.
Volto
ao “Doca”. Agrada-me falar dele. Homem lúcido, audaz, inteligente,nascido sem
medo, comunista assumido, espiritualista ardoroso, viajadíssimo e dotado de
muito conhecimento.Critico feroz da corrupção, da tirania, da
oligarquia.Polêmico para uns, desequilibrado para outros, “Doca” era acima de
tudo, autêntico.Sem meias palavras. Os “pseudo-psicólogos” diziam ser portador
de distúrbio bipolar, alienado, paranóico. “Doca” era um pensador.Dava vazão o
que lhe clamava o espírito. Queria levar ao mundo, suas idéias. À época, não
lhe permitia. A “internet”, hoje, mudou aquele conceito…
IMPRENSA
LOCAL- “Doca” tecia críticas acerbas . Não suportava o “Correio Católico”, pelo
principal fato de estar à serviço da Igreja Católica, religião que não tolerava
e o jornal apenas noticiava fatos religiosos, pouco se incomodando com os
problemas da cidade. Monsenhor Ignácio Xavier, era o seu “alvo” preferido.
Dizia horrores do sacerdote. Sobre o centenário e o falecido “Lavoura e
Comércio” escrevia que o jornal era o “órgão oficial do município”.Dizia que a
dubiedade de opinião do jornal, chegava às raias do absurdo.Mordia e
assoprava”, dizia. Ao mesmo tempo que denunciava fatos da cidade, os encobria
se estivessem ligados aos “manda-chuvas” da terrinha…(Obs.minha:se vivesse aos
dias de hoje, certamente suas críticas teriam continuado…)
Nunca
se viu tanto servilismo pago de diversos setores e comunicação da cidade, como
agora, digo eu. Formadores de opinião praticamente não existem. Editoriais
desapareceram das páginas dos nossos matutinos. Alguns articulistas ,
semanalmente, emitem opiniões, ocupando pequenos espaços os nossos veículos
como “colaboradores”. Estamos vivendo um momento onde “não mais se vende
espaço.Vende-se opinião”.
Nos
últimos anos, deixaram de circular na terrinha a “Gazeta de Uberaba”, “Vox”,
“Correio Católico”, “Cidade Livre”e o centenário “Lavoura e Comércio”. “Doca”,
deve estar remoendo no túmulo que não tem inscrição no cemitério, em saber que
os jornais não mais circulam. Se soubesse que as rádios PRE-5, uma das
pioneiras do interior do Brasil, a Difusora, que durou 50 anos, a TV Uberaba,
primeira geradora de televisão local, desapareceram , por certo, espumaria no
canto da boca ao saber que ninguém chorou, nem lágrimas de crocodilo derramou,
por mortes tão prematuras…
As 2 principais redes de televisão do Brasil,
instaladas na terrinha, ocupam-se tão somente de pequenos noticiários da
cidade, sem aprofundar-se nos nossos problemas e ou no enaltecimento de nossas
conquistas. As emissoras de rádio (muitas, por sinal),tanto as “AM”quanto as
“FM”, ocupam seus espaços com músicas sertanejas e um modesto noticiário local,
extraído dos jornais. Pasmem ! o uberabense gosta de ler nos nossos periódicos
, com intensidade e avidez, é o colunismo social. Fotos de uberabenses
“correndo mundo”, em festinhas sociais, boates, gestantes mostrando o barrigão
do primeiro filho, mansões bem decoradas…ou então, o lado reverso da medalha,
acidentes nas ruas , avenidas e rodovias, fotos de bandidos, ladrões, drogados
e etecétera.. Assuntos que a cidade precisa conhecer, ó,ó,ó…
Luiz Gonzaga Oliveira