Acervo
Cúria Metropolitana
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Os
dicionários costumam atribuir à palavra ermida como referente a uma capela
rústica construída em lugar ermo, isto é, longínquo ou de difícil acesso. A
primeira capelinha construída em Uberaba sob o cuidado de Santo Antônio e São
Sebastião se situava próxima ao córrego Lajeado em 1812 e ali permaneceu ate
1818 quando a população decidiu transferi-la para antiga Praça Frei Eugênio por
ser mais conveniente e mais próximo do núcleo de povoação daquela região
nascente ainda tão desprovida de recursos no coração sertanejo do Brasil
central. Antes de prosseguirmos, penso ser conivente refletirmos sobre a
escolha pelas pessoas daquela época de Santo Antônio e São Sebastião como
padroeiros da primeira ermida uberabense. Longe de ser uma escolha aleatória,
ela reflete o projeto civilizacional em
que marcava o espírito daquela época.
Enquanto Santo Antônio, santo português e padroeiro de Lisboa, demonstrava o
forte vinculo com a metrópole num período em que o Brasil ainda era colônia
portuguesa, São Sebastião, Santo Romano e padroeiro dos soldados, simbolizava a
força militar com a qual seria realizada a conquista do sertão Brasileiro. O
sargento-mor Antônio Eustáquio que recebeu provisões para desbravar e colonizar
essa região foi agente de grande etnocídio contra as populações indígenas aqui
previamente estabelecidas, sobretudo da etnia caiapó, hoje com poucos membros e
bem longe do Triângulo. A escolha de Santo Antônio e São Sebastião simboliza,
assim, a cruz e a espada, usava na conquista e conversão do Brasil como nação
católica e portuguesa. Se hoje nossos valores nos fazem enxergar isso de forma
crítica, e bem o fazemos, ao ponto do Papa João Paulo ll por diversas ocasiões pedir perdão publicamente daquilo que
ele dizia serem os pecados da Igreja ao
longo dos séculos precisamos tomar o cuidado para não sermos anacrônicos. É cômodo julgar personagens
distantes de nos por mais de séculos; difícil, todavia, é compreender que
provavelmente o faziam para por ignorar as modernas teorias relativismo
cultural e ecumenismo e que foram motivados por uma convicção autentica de que
estavam por fundar uma terra cristã e civilizada neste agreste sertão e nos
mais louváveis valores cristãos.
Foto: Antônio Carlos Prata
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No final do século XIX teremos o início de
um período de grande prosperidade para as elites uberabenses com advento da
criação do gado de raça zebuína buscado na Índia. No começo do século XX, já
sobe o regime republicano, e inspirado pelas reformas modernizantes e
arquitetônicas baseadas na Europa (o Rio de Janeiro abriu suas primeiras grande
avenidas e Manaus construiu se Teatro Municipal)os uberabenses receberam sua energia
elétrica em 1904 e varias reformas urbanas, como na praça Rui Barbosa. Esse
rápido avanço conquistado com os capitais excedentes da pecuária zebuína e com
a vinda da Companhia Ferroviária Mojiana atraiu para a cidade o bispo de Goiás,
D.Eduardo Duarte Silva que acabou por se tornar o primeiro bispo da Diocese de
Uberaba, criada em 1907 pela bula Goyaz Adamantina Brasiliana República pelo
Papa PioX .
Por
determinação desta bula o padroeiro da diocese seria o Sagrado Coração de Jesus e
D.Eduardo inaugurou deste modo a igreja do Sagrado Coração – atual igreja da Adoração
Perpétua ao lado do Palácio Episcopal (Cúria Metropolitana ) – com a
prerrogativa de catedral permanecendo a igreja da praça Rui Barbosa como matriz
de Santo Antônio e São Sebastião.
Em 1910 a matriz passou por grande
reforma em que se definiu o estilo arquitetônico gótico manuelino e que seria dotada de apenas uma grande torre
como até hoje se encontra desde esta data.Finalmente,em1926 por determinação do
bispo Luís Maria de Sant’Ana decreto da Sagrada Congregação Consistorial a catedral seria transladada para a matriz de Santo
Antônio e São Sebastião a à Praça Rui Barbosa e os padroeiros seriam invertidos, permanecendo assim, em
definitivo, como Catedral Metropolitana
do Sagrada Coração de Jesus a partir de 20 de maio de 1926.Ainda assim, de modo
a manter viva a memória de mais de cem
anos que Uberaba permaneceu sob a proteção de Santo
Antônio e São Sebastião, decidiu-se que uma estátua de cada santo
ladearia a catedral metropolitana, imagens que permanecem até hoje em local de
visibilidade e veneração.