Antuza Ferreira Martins
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Uma
das páginas mais luminescentes da Doutrina Espírita em Uberaba e também em toda
a vasta região do Triângulo Mineiro, chamava-se Antuza Ferreira Martins.
Filha
de Manoel Ferreira Martins e D. Júlia Maria do Espírito Santo, nasceu em uma
fazenda nos arredores de Uberaba, no dia 09 de setembro de 1902.
Aos
4 anos, acometida de meningite, foi desenganada por muitos médicos, tendo, em
conseqüência, ficado surda e perdido o sentido da fala. Posteriormente,
mudou-se com a família para Uberaba.
Antuza,
segundo Erenice sua irmã a quem carinhosamente chamávamos de Nice, desde
pequena via os espíritos. Cresceu dentro de um clima psíquico que não
compreendia, nem mesmo os familiares, posto que ninguém na família era
espírita.
Quando
completou 15 anos, em 1917, a família transferiu-se para Sacramento, cidade
que, desde 1904, se transformara em ponto central do Espiritismo em todo o
Brasil, pelo trabalho que vinha desempenhando o inesquecível Eurípedes
Barsanulfo.
Em
lá chegando Antuza foi levada pela mãe à presença de Eurípedes, o qual, ao
vê-la, foi logo dízendo da tarefa que deveria desempenhar no campo da
mediunidade.
Tornaram-se,
a partir daí, espíritas.
Durante
alguns meses, quase dois anos, Antuza trabalhou lado a lado com Eurípedes
Barsanulfo, ora ajudando na limpeza da farmácia, ora auxiliando na manipulação
dos medicamentos homeopáticos. Com esse “estágio espiritual” junto ao grande
Missionário da Caridade, Antuza equilibrou-se, aprendeu a viver dentro de suas
limitações,a comunicar-se por meio de sinais e as suas faculdades psíquicas
ampliaram-se dando-lhe extraordinária lucidez.
Quando
Eurípedes desencarnou, em 1918, ela e a família mudaram-se definitivamente para
Uberaba. Mas, antes disso, ainda em Sacramento, Antuza encontrava-se
desconsolada com a partida do Benfeitor para o Plano Espiritual e chorava
muito. Através da mímica e de algumas poucas palavras que com o tempo aprendeu
a articular, conta-nos ela que, certo dia, quando, em prantos, ouviu uma voz a
chamar-lhe: – “Antuza, Antuza!..” Ela, assustada, ao voltar-se, percebeu
Eurípedes pairando no ar a dizer-lhe ainda: – “Não chore. Você precisa
trabalhar muito! . . .”
Quando
ainda morava em fazenda, uma criança foi levada pela mãe até Antuza para ser
“benzida”. A criança estava muito mal, com o abdome muito dilatado. Antuza
conversou com os espíritos (via-se que ela estava ouvindo e respondia, com
gestos e com balbucios a alguém invisível), estendeu as mãos com as palmas para
cima e da espiritualidade desceu uma quantidade grande de fluido esverdeado e
luminoso (a irmã mais velha de Antuza era médium e viu essa massa fluídica).
Antuza modelou essa massa com as mãos e colocou sobre o abdome da criança,
massageando de leve. O abdome da criança foi diminuindo e em poucos dias ela
estava saudável.
Quando
a família se instalou em Uberaba, contava ela 17 anos e começou a freqüentar o
tradicional Ponto “Bezerra de Menezes”, em casa de Da Maria Modesto Cravo. Numa
das reuniões do Ponto Antuza recebeu instruções sobre a sua missão do espírito
de Santo Agostinho que seria, durante toda a sua vida, seu protetor. Note-se
que através da psicofonia de Da Maria Modesto todos os presentes ouviram a
comunicação, inclusive Antuza que, apesar de surda, ouvia os espíritos.
Por
essa época, Antuza começou a transmitir passes, cuja mediunidade curadora,
coadjuvada pela vidência, audição, desdobramento e efeitos físicos, foi
empregada para ajuda aos necessitados com raro discernimento evangélico.
Antes
de passar a atender em sua própria casa, num galpão construído nos fundos,
trabalhou como médium no C. E. Uberabense, Sanatório Espírita e na Comunhão
Espírita Cristã, logo que Chico Xavier se transferiu para Uberaba.
A
seu respeito, o nosso estimado Chico já se pronunciou em diversas ocasiões,
tendo, inclusive, afirmado trazer Antuza “o remédio nas mãos”. Quando
homenageado na Capital do Estado, Chico disse que existia em Uberaba uma
senhora que, no anonimato de seu trabalho em favor dos que sofrem, deveria ali
estar sendo alvo das homenagens prestadas a ele, que reconhecia não as merecer,
de forma alguma, e citou o nome de Antuza Ferreira Martins!
Em
sua própria casa e depois no “Barracão”, recebia extensa fila de pessoas, entre
crianças e adultos. Quantas vezes, após exaustiva concentração, Antuza nos
descrevia o problema orgânico, ou espiritual, de quem lhe buscava o concurso
carinhoso e abnegado!
Uma
senhor obsedada foi trazida amarrada para a casa onde morava Antuza. Era
necessário, mesmo assim que várias pessoas a segurassem, ela se debatia e
retorcia constantemente. Antuza entrou em prece e daí a pouco uma médium
vidente presente viu uma luz vinda de muito alto descer e tomar a forma de
Eurípedes Barsanulfo. Este incorporado na médium disse “boa noite, irmãos” e os
espíritos que subjugavam aquela senhora afastaram-se imediatamente. Aí Eurípedes
pediu que desamarrassem e soltassem a mulher. Ela se tornou imediatamente
lúcida e curada daquela obsessão.
Um
moça vinda do estado de Mato Grosso chegou até a casa da Antuza andando de
“quatro”, isto é como um quadrúpede, sem falar e sem consciência de si mesmo. A
família já havia procurado inúmeros médicos sem resultados. Antuza “conversou”
com o espírito que a obsedava, fez gestos indicando a ele que se retirasse,
fosse embora e em alguns minutos a moça se levantou e perguntou ao pai que a
acompanhava: onde estamos? O que estamos fazendo aqui? Na sessão de desobsessão
que ocorria à noite no Barracão, dois espíritos vingadores da moça foram
doutrinados: haviam sido torturados e mortos por ordem dela quando eram seus
escravos e a perseguiam desde então. Faziam-na ficar como um animal e montavam
sobre ela, fazendo-a conduzi-los no “lombo”, entre outras coisas.
Além
das atividades mediúnicas Antuza ajudava nas tarefas da casa, ao lado de sua
irmã Erenice, irmãos e de seus sobrinhos que vieram morar com eles. Fazia
tapete de crochê usando cordões cortados de malhas; esses tapetes eram vendidos
e o dinheiro era usado para comprar algumas coisas para seu uso pessoal,
presentes, brinquedos e outras necessidades.
Conta-nos
Nice (intérprete de Antuza para os que não se familiarizam com a sua maneira de
“falar” com as pessoas) que, certa vez. uma mulher, chorando muito e
extremamente desesperada, ao receber o passe, é indagada pela médium se tinha
bebido alguma coisa corrosiva, pois o interior dela estava parecendo “velho”.
Ainda em lágrimas, a infeliz irmã lhe diz que, tempos atrás, havia ingerido
soda cáustica (!) e ainda sentia fortes dores, encontrando dificuldade de
alimentar-se normalmente.
Para
que tenhamos uma idéia da presença dos espíritos na vida de Antuza, vejamos o
que ocorreu quando ainda era criança. Ela e a mãe, morando na fazenda foram até
a horta colher legumes e sua mãe deixou-a; um pouco para trás; nisto, surge uma
cobra prestes a picar a menina. Ela ficou como que hipnotizada e, como não
falava, não tinha como gritar por socorro. Eis quando, ao seu lado, um
espírito, com aspecto de padre, a pega pelos braços e lhe dá um violento
impulso, distanciando-a, assim, do peçonhento réptil. Antuza começa a chorar e
sua mãe, correndo, chama alguns lavradores, os quais dão cabo da enorme
serpente.
Dr.
Henrique Krüger, médico uberabense, Agostinho, Eurípedes Barsanulfo e muitos
outros a quem não conhece pelo nome, são os espíritos que lhe assistem o
trabalho cristão ao qual devotou a própria vida.
Por
volta de 1979, Antuza que ainda enxergava, porém surda e muda, vivia em Uberaba
na companhia dos irmãos Euphranor e Erenice; e, aos domingos, como de costume,
almoçava na casa do sobrinho Antônio Carlos, o qual possuía um piano francês.
Antuza
era capaz de ver dentro do corpo das pessoas, a doença que tinha ou não tinha;
fazia curas à distância, especialmente à noite.
Após
a refeição, Antuza se dirigia para a sala onde se encontrava o piano, e
acomodando-se em uma poltrona, permanecia imóvel por mais de uma hora. Depois,
levantando-se, vinha dizer em seu modo característico (gestos e fala precária)
que Frederico, um rapaz muito bonito, estava tocando piano para ela; e que sua
música era maravilhosa. Tai fato se repetiu por anos, e era de conhecimento de
toda a família. Certa vez, em visita a outro sobrinho: Euphranor Jr., que era
professor de História e possui uma bela biblioteca em sua casa; este entregou à
Antuza um belo exemplar de um livro sobre os maiores compositores da musica
clássica (nota-se que tal livro continha fotografias de todos compositores, os
quais, já haviam desencarnado). Enquanto Antuza folheava o livro, Euphranor Jr.
ia lhe perguntando se ela conhecia as pessoas das fotos, o que lhe era negado:
“Não…,não…, não!” Em dado momento, diante da foto do grande músico Frederico
Chopin ela se manifestou por gestos: “- É ele! Frederico, o moço que toca piano
para mim”.
Como
Eurípedes, Antuza igualmente “casou-se com os mais pobres”, doando-se
inteiramente ao serviço cristão, na edificação do Reino de Deus no coração das
criaturas.
Em
seus lábios, a palavra “trabalhar” (uma das poucas que conseguia articular com
certa nitidez) soava de maneira diferente: é imperiosa e definitiva!
Por
mais de 70 anos ela exerceu seu legítimo “mandato mediúnico”. E não são poucos
os que, através de suas abençoadas mãos, receberam o amparo do Mais Alto.
Em
seu humilde recanto de trabalho, sobre tosca mesa de madeira, cujos pés estão
fincados no piso, um único livro: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, o qual,
de quando em quando, solicitava a um dos colaboradores ler uma página.
Nos
últimos seis anos de existência física, Antuza ficou cega, agravando as suas
limitações físicas e no dia 30 de julho de 1996, aos 94 anos incompletos, desencarnou
em Uberaba, em decorrência de complicações naturais da idade avançada.
Antuza,
uma “baixinha” de um metro e alguns quebrados de altura, mas um espírito
gigante na seara evangélica foi, sem dúvida alguma, uma das mais legítimas
representantes da mediunidade com Jesus!
Um
exemplo a ser seguido pelos espíritas de hoje e de amanhã!…
(texto
baseado no livro “O Espiritismo em Uberaba”, no “Anuário Espírita” de 1997, em
um “Boletim Informativo” da AME Uberaba e em informações pessoais de parentes)
Elizabeth Martins
Cidade de Uberaba
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