Foto
Arquivo Público de Uberaba
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Rua
Artur Machado, foi do comércio, no passado. “A Noiva”, do Primo Ribeiro, vi
primeiro. Do Mário Pousa e do Clarimundo Gonçalves, tinha a “Insinuante”,
sempre elegante. Chapelaria do Paschoal Bruno,alfaiataria do Teófilo Ricioppo,
ternos não amarrotavam, eram fofos. “A Exposição”, do Aquilino Lóes, a “Feira
dos Presentes” do João de Melo Maia, em frente ao “Café Uberaba”,sabor do
cafezinho que a gente babava.Tinha também o “Bicho da Seda”,mais tarde,lugar do
“Café JB”, que, hoje, não mais se vê. Na esquina da praça da Matriz,já sem
chafariz,a “Notre Dame de Paris”, dos irmãos Amancio,calmo como remanso e o
Chiquinho,sorrindo, sempre quietinho; na esquina de baixo, a banca de jornais
do Vilmondes,sobrenome Bastos, onde as noticias
estão à mostra, não se escondem. Do outro lado da rua,as “Americanas”,
do Manoel Santos Anjo, o “Mané Português”, casa que acabou de vez.Defronte,o
sobrado do “seo”Salvador Bruno, no térreo, uma charutaria cujo nome nunca
esqueci:”Saci”.Antes, era o “Bazar do Mário”, onde não entrava
otário…Encostado, as “Casas do Linho Puro”, que me lembro sempre, juro. Parede
e meia, a antiga “Drogasil”,atendimento correto,sempre gentil. Perdeu o lugar
prá gente de fora, os pernambucanos das “Pernambucanas”. Em frente,o Piatti,
seu alfaiate, jóias da loja do Achiles e, (oh peste!)a camisaria “Miveste”. Na
parelha, bem ao lado, o “Bar Eldorado”, dos irmãos Elias e Farah Zaidan, dupla
que sempre fui fã. Nos fundos, uma banca de “jogo de bicho” sarado. Jogo
honesto, carteado movimentado, jogo bem jogado. Encostadinho, duas
portinhas,uma do “Pepino”, vendendo frutas e a do Landry,que jamais esqueci.Na
esquina, o “Armazém Central”, dos irmãos Bruno e Walfrido Martinelli.Do outro
lado da rua, a “Casa das Meias”, os donos Durval e Zinho Pizzi, primos dos
Petinelli. Bem em frente, o “Rei dos
Móveis”,do “seo” Benjamin, olho vivo e sempre torto parecia sempre olhando prá
mim.Seguindo, a “Casa Guaritá”, do “seo”Luiz,pai do Netinho, vendia de
tudo.Caso raro e, em frente, a “Loja Pignataro”…Ao lado, a “Casa Esporte”, do
“velho” Benedito, sempre forte. Depois, o “Orlando Fida”, loja prá lá de bem
sortida. O prédio dos Correios,o único que comércio não tinha, abrigou depois a
“Mirandinha”.Ao lado a “Casa Vitória”,pegado na tipografia do “seo” Chiquinho
e, bem pertinho, a “Casa Guimarães”,cujo dono era apelidado “Benzinho”. No
quarteirão 3, me vem a lembrança ,a
“Alfaiataria do Parreira” e o “Café Caipira”, ponto dos comerciários contar
mentira…”Vis a vis”, a “Casa Molinar”,do “seo” Luiz e os filhos Aleixo e Marinho e o adotivo
Fernando e neles, a educação esmerando. Grudado , o ponto “chic” da mocidade,
“Bar da Viúva”, chope gelado e escancarada felicidade. No meio,o “Foto
Zuza”,máquina à tiracolo, sempre que precisava, usava. A “Loja do Piva”,estoque
variado , clientela fiel e sempre viva; nos fundos, a primeira churrascaria de
Uberaba, “El Toro”, do Ênio e do Vinicius, carne grelhada , espeto grande,
alimentando nossos gulosos vícios. Antes do morro da Presidente Vargas, a roupa
bem talhada, tinha endereço, a”Alfaiataria Caldas”. Primeira porta do prédio do
“Modelo”, cachorrada no vicio, fazia “ponto”no estúdio do Kasuo Oshio. Ali
funcionava o “Bar do Abel”, Arlindo, o engraxate e o Ilvor, que, na profissão,
não deixou herdeiro.Depois da esquina, no chamado 5º.quarteirão, Deus meu,
quanta recordação!”Casa das Máquinas”,do paulista Audley Moretzhon, inauguração
a época da prestação. Vendendo para gente honesta, que eu saiba, nunca levou
“cano”,não…
Paro,
hoje, na esquina da João Caetano. A rua é grande e o comércio ativo. Dalí até a
antiga estação da Mojiana, tem ainda muito atrativo. Lojas e nomes dos que já
se foram e os que ainda estão vivos. Para não cansá-los , principalmente para
os mais de cinqüenta e a memória não está cinzenta, peço a sua paciência, nesta
tarde (3ª.feira) modorrenta. Abraços.
Fotógrafo:
José Severino Soares, o “Juca Severino”
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Volto
nesta quarta-feira, sem eira nem beira, mente aberta,lembrando a “nossa” Artur
Machado, que os meus sonhos desperta
Parei
na esquina da rua do Comércio, com João Caetano. Em frente a” Casa das
Máquinas”, uma farmácia tinha, o gerente era o Zequinha.De dia, bom
farmacêutico, à noite, solteiro, um bom seresteiro.A seguir a “Casas do
Babá”,material de construção,resolvia na casa, qualquer problemão. Perto dali,
os “Grisi”, italianada danada.Pais e filhos falavam tão alto que parecia até
“brigaiada”.”Casa Daló”, em frente.Gerente, o Hélio.Educado, inteligente, competente,
fala mansa, cativava a gente. À auxiliá-lo , os irmãos Dininho e Luiz, não eram
diferentes. O pintor Élvio Fantato,artista de proa,tinha loja bem pertinho.Para
agradar o freguês, sempre dava um jeitinho. Na esquina da ladeira, a loja do
Emilio Pucci,bonita, moderna, vitrinada e requintada.Artigos masculinos de
primeira, sucesso na cidade inteira. Ali, quase “pegado”, saudade do Alfredo
Antônio, barbeiro do salão do João Spiridião, onde “fofoca” política, era de
montão. Um pouco à frente, sobrado bem
cuidado.Era a “pensão da tia Lêda”.Portas sempre abertas e alertas, recebia a
“homaiada” à transar com as lindas, loiras e morenas robustas, alegres
prostitutas , sem barulho,nem algazarra, tinha de tudo, menos farra. Embaixo, a
joalheria do Walter Gaia, delicado, delicado, que só vendo e nunca se
“escondendo”…Do lado esquerdo de quem vai, guardava os transformadores da
Cia.Força e Luz, que a verve popular cantarolava:” cidade que seduz, de dia
falta água, de noite, falta luz”. Antes, a loja do Cantidio Bertoldi, caça e
pesca, alegria prá quem gosta de pescaria.
Na esquina da Padre Zeferino, a loja do Neyf Fakouri tem mais e quarenta
anos.Sempre à porta, alegre e bonachão, esparrama mercadoria até pelo chão.
Lado de baixo, o salão do Nazaré.Barbeiro que todo mundo botava fé.Lado de
cima, a farmácia do Ferreirinha e a lembrança eterna do Brasilino Felipe,
botafoguense e homem de fina estirpe. Na sequência, veio a benevolência.Poucas
lojas abertas, o nó nos grogumilo, saudade, eis na porta a casa a Maria Augusta,prostíbulo
conhecido, afamado e respeitado.Educada e justa, recebia bem a moçada com a
“grana curta”.A padaria Espéria,prédio imponente,abrigou panificadora
florescente, anos mais tarde (a crise?)tornou-se impotente.Decadente. Ao lado,
uma portinha decente, recebia o Garcia,técnico de rádio. Como a Conceição,
sumiu. Ninguém sabe, ninguém mais o viu…O “Bazar Azul”, começou de um lado e
depois mudou-se para o outro. Geração Santos Anjo, ainda domina. Avô passou
para os filhos, esses ao neto, que mantém acesa, a dignidade da sina. Entre o
Garcia e o Bazar Azul, a memória não me falha, tinha a Farmácia Santa Barbara,
de um farmacêutico que admiro , o saudoso Cassimiro.
Já
a “Pensão da dona Ema”, acabou. Que pena !
A
frondosa Gameleira foi ao chão. Durou, durou.Judiada, maltratada, não resistiu.
Sem forças, alquebrada, sucumbiu. Morta e sepultada. Para os jovens não quer
dizer nada. Para os velhos, uma saudade danada… Na subida da Mojiana, lado
direito, apenas escombros e tombos da velha máquina de arroz dos Castejon…haja
“corazon”. Nada resta mais. O “terrenão” é da Diva de Moraes. À esquerda ,
quase chegando no topo do morro, o armazém do João Corrêa, sortido até a
tampa.Mantimento não faltava nenhum. Afinal, ao lado, morava o saudoso Moisés
Sallum. Encostado, ainda resiste e perdura o imponente “chatô” do cônsul
italiano, Augusto Buchianeri, que jurava não ter parentesco com a Ana Neri…
Falta
muita coisa ainda. Essa lembrança não se finda. O cansaço me dominou. As
lágrimas começam a escorrer por esse rosto cujas rugas fizeram avenidas de
saudade. Tento resistir. Consigo. Se me permitirem, amanhã, recomeço na praça
Rui Barbosa, com muita lembrança e prosa. Rua comprida.
Hoje,
a minha memória se finda, embora ela ande uma lambança. Falta lembrança…Querem
ver? Esquina da Rui Barbosa, tinha o “Bar Indubrasil”, ponto certeiro da minha
fase juvenil. Descendo, lado esquerdo, dona do melhor carnaval, o sobrado da
“Associação Esportiva e Cultural”. Embaixo, os “Bilhares Atlântico”, do
Waldemar Vieira, ladeado pela loja de presentes e talher, pertencente ao Lino
Pegorer. Ainda do mesmo lado, os bancos, Triângulo, Nacional da Lavoura e
Produção e Crédito Real, que mais foram saltimbancos, fachadas em mármore preto
e branco.Reconheço, assino e dou fé, faltam ainda a Riachuelo,Casa do
Livro,Gráfica Zebu, Marabá e Hawai Café, pois não?, todos no primeiro
quarteirão.
Depois
da Alaor Prata, a saudade quase me mata, “A Gaúcha”, do Gonçalo Nascimento, me
vem logo ao pensamento. No sobrado, um médico de grande poder, o carismático dr.
Boulanger.Depois, três relojoarias, Freitas Mundim, Paris e Londres, sem
esquecer a Casa Victor e mais a loja chique dos turistas , a sempre lembrada “A
Futurista”, calçados os mais finos e os
donos, Wolney e Halley, esse, exímio dançarino.
Do
lado esquerdo, se a “cuca” não me trai, ”A Musical” e o tempo já se vai longe,
a simpatia do Bilo Miranzi. A “Tabacaria do “Nhonhô”, “O Cacique”, a
“Louçadada”, “Casa Kosmos”, além da “EletroCentral”, como as outras, também
tradicional. Ali pertinho, a “Loja da Bênção”,esquina da ladeira do Fórum, bem
antes do ponto virar a” Jomar”.Lembro-me também, não posso mentir, da “Nave
Tecidos”, do Evanir. Quase em frente, estilo bem brejeiro, ficava o “Bá
relojoeiro”.Parede e meia ao casarão dos Toti, funcionava a Tipografia do Godofredo, cuja lembrança nunca me causou
medo, que essa cabeça conserva a doce figura do Ítalo Biagi, da “Sapataria
Minerva”. Ah! ,me deu na telha e pergunto: e o “Chez moi” e a “Barrica
Vermelha”, quem nunca foi lá? A lado da “Alfaiataria do “Manoel Caldas”, na
esquina da Presidente Vargas, lembrar me arrisco, ficava o bar do Juquita, o
saudoso “Bom Petisco”.
No
quinto quarteirão, não se pode olvidar da “Casa Lord”, sobrado do antigo
Conservatório Musical e no térreo, a loja do Chucri Palis.Um pouco à frente, a
“Americana”, de Donato Cicci,comandada pelos irmãos Donaldo,Dodô e Dorival
Cicci, ponto de encontro da “ turma do disse me disse”. Do outro lado da rua, o
armazém “Barros &Borges”, vendia fiado e à vista, famílias oriundas da
vizinha Conquista. Alí, coladinho, o foto do Adolfinho Nomelini, que queria por
que queria, a filha chamasse Jaquelini.
Bem
sei, esqueci muita loja e gente. Meu coração pulsa fremente e uma saudade
ardente. A rua é comprida. Muita história vivida. Hoje, quase esquecida…Grande
reta; o que me resta, perdoem esse pobre indigente se a minha esteira da
memória se perdeu na torrente. A mente fraqueja: a luz não mais lampeja, tudo
que de bom almeja. Se os novos “donos” da rua fico sem destacar; essa turma
nova pouco conheço, por obséquio, me poupem ao criticar.
É
a vida. Na minha cabeça rogo, a rua do Comércio nunca desapareça, pois, de real
agora, só está a imortal “Casa da Sogra”…a “Nora”? Foi embora…
Ontem,
na Artur Machado, eu subia. Agora, descia. Ontem, de costas para o Cristo da
praça. Hoje, pouca simpatia, de frente, mostra o ar da graça …
Penhorado, agradeço a companhia pelas andanças
que fizemos pela mais tradicional rua da nossa santa terrinha. A saudade sem
exagero é um tônico para o coração. Abraços do “M.C.”