Frei
Eugênio Maria da Gênova
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Frei Eugênio Maria da
Gênova nasceu em Oneglia Província de Gênova, Itália, em 04 de novembro de
1812. Foi batizado com o nome João Batista Maberino. Ingressou na ordem dos
capuchinhos e tomou as ordens sacras em 1836, com o nome Frei Eugênio Maria.
Chegou ao Brasil em 1843, a mando do Papa Gregório XVI, como missionário
capuchinho. Ficou dois anos no Rio de Janeiro. Saiu do Rio e foi para Cuiabá
catequizar a cidade, vilas e aldeias. Em 1856, o Major Joaquim Alves Teixeira
ofereceu-se à Câmara Municipal de Uberaba para ir pessoalmente a Pitangui (MG),
onde o Frei se encontrava e convidá-lo para missionar em Uberaba e aqui,
construir um Cemitério.
Chegou em Uberaba no dia
12 de agosto de 1856, abriu a Santa Missão e Iniciou a construção do cemitério
que ficou pronto dentro de 02 anos. Eugênio se revelou uma pessoa calma, de
educação polida, paciente, caridoso, zeloso quanto ao cumprimento de sua
missão. Pessoas de regiões distantes vinham confessar com o Frei. Era
despojado, vivia como pobre, com as doações dos fiéis. Nunca abandonou seu
primeiro hábito com que professou na ordem franciscana. Era continuamente
remendado e com ele se paramentava em variadas ações na comunidade.
Sua biblioteca era
extensa e as obras variadas: escrituras sagradas, teologia, direito canônico,
direito civil, filosofia, liturgia, literatura, ciência, medicina, história e
geografia. Destacava-se na oratória, possuía memória prodigiosa. Diariamente
escrevia as ações do dia, confissões, comunhões, batizados, casamentos, visitas
a enfermos e missas. Anotava os fenômenos meteorológicos e fatos da cidade. Com
a chegada de Frei Eugênio a Uberaba, vieram pessoas de outras localidades,
aumentando a população e consequentemente às concessões de terras. Fizeram-se
muitas casas e foram abertos mais de 17 negócios. Casais divorciados se
juntaram, protestantes se converteram, se dissolveram mais de 80 concubinários,
fizeram muitas restituições, reconciliaram-se inimigos.
A Igreja em Uberaba ganhou um novo impulso. Vários oratórios e irmandades surgiram neste período. De gênio empreendedor, Frei Eugênio, não se limitou à caridade para com os mortos. Olhou para a povoação, e com espírito prático percebeu o progresso aumentar a população, anteviu a mendicância, a miséria e a precisão de abrigo para a pobreza enferma. Daí seus esforços para a construção dessa grandiosa obra – o Hospital de Misericórdia. (Mendonça; 1974, p. 46) Conhecido e chamado por “Padre Mestre” foi considerado o maior benfeitor de Uberaba, suas ações foram sempre dirigidas para proteção e assistência aos pobres e desvalidos. Não se limitava às Missões, estabelecia melhoramentos básicos: cemitérios, hospitais, serviços de água, estradas cisternas e fossas. Promovia ao mesmo tempo assistência aos órfãos, aos índios e aos escravos.
Numa carta ao Bispo de Mariana ele escreveu: “Hoje conto com nove anos e vinte e seis dias que saí do Rio de Janeiro. Preguei com todo o espírito apostólico, e nunca preguei a respeito da escravatura e isso assevero a V. Exa. com fé de sacerdote e sacerdote capuchinho. Nunca me ocupei com semelhante matéria, para não parecer subversiva a minha doutrina. Limitei-me a apadrinhar alguns escravos de corrente, pega, argola e outros instrumentos de ferro. Preguei contra os pais que tinham seus filhos em seu próprio cativeiro; e que os vendiam ou davam em dote; mas sempre com cautela. Eu pregava que quem tivesse furtado o escravo alheio, o devia restituir ao seu dono.” (Mendonça; 1974, p. 41) Nas entrelinhas dos seus discursos percebe-se que era um defensor dos escravos e como tal sempre agiu. Era nítida a fé e a esperança que os negros tinham em Frei Eugênio ou Padre Mestre como o chamavam. Os negros escravos vinham assistir à Santa Missa e depois recebiam uma bênção especial do Padre Mestre, que lhes ungia e colocavam em seus pescoços medalhinhas ou patuás com orações para se protegerem contra o mau. CEMITÉRIO DE SÃO MIGUEL A construção do cemitério iniciou-se em 1856, e por volta de dois anos, o cemitério estava pronto, tendo o Frei sido auxiliado por fiéis de todas as idades e classes sociais.
O cemitério, denominado de São Miguel, situado onde hoje é a Praça Frei Eugênio, cobria a área hoje ocupada pelos prédios do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e pela Escola Estadual Minas Gerais. A planta foi traçada pelo engenheiro civil Fernando Vaz de Melo. Naquele período foi considerado o mais sólido e amplo do interior do Brasil. Dentro do cemitério, Frei Eugênio construiu a Capela de São Miguel. A maioria dos túmulos eram de madeira. O mármore somente entrou em Uberaba por volta de 1880, quando passou a ser empregado na construção de residências e túmulos, inclusive o de Frei Eugênio.
O Cemitério São Miguel funcionou 44 anos, de 1856 a até 1900. Foram enterrados neste período cerca de 4.400 pessoas. Foi interditado depois da construção do Cemitério Municipal, na época conhecido por Cemitério do Brejinho, atual São João Batista. Em 1900 a administração do novo Cemitério foi passada à Igreja Matriz. Em 1917, Monsenhor Inácio Xavier da Silva, no governo do Município, demoliu a capela e suas muralhas. Iniciou também a construção de um novo Cemitério chamado São Francisco, no fundo do hospital, porém o Frei não chegou a concluir a obra, ficou só nos alicerces. Além do Cemitério e da Capela São Miguel, Frei Eugênio projetou ainda a construção de uma ponte sobre o Rio Grande, no Porto de Ponte Alta, em direção a Uberaba, no intuito de ligar o litoral a Província de São Paulo às de Minas, Goiás e Mato Grosso. Pretendia outra ponte no Rio Paranaíba. Abriu ruas, fez estudos para canalizar as águas do Rio Uberaba, para o abastecimento da cidade, as mesmas cujos estudos a Câmara Municipal incumbiu o engenheiro Ataliba Vale de construir.
A Igreja em Uberaba ganhou um novo impulso. Vários oratórios e irmandades surgiram neste período. De gênio empreendedor, Frei Eugênio, não se limitou à caridade para com os mortos. Olhou para a povoação, e com espírito prático percebeu o progresso aumentar a população, anteviu a mendicância, a miséria e a precisão de abrigo para a pobreza enferma. Daí seus esforços para a construção dessa grandiosa obra – o Hospital de Misericórdia. (Mendonça; 1974, p. 46) Conhecido e chamado por “Padre Mestre” foi considerado o maior benfeitor de Uberaba, suas ações foram sempre dirigidas para proteção e assistência aos pobres e desvalidos. Não se limitava às Missões, estabelecia melhoramentos básicos: cemitérios, hospitais, serviços de água, estradas cisternas e fossas. Promovia ao mesmo tempo assistência aos órfãos, aos índios e aos escravos.
Numa carta ao Bispo de Mariana ele escreveu: “Hoje conto com nove anos e vinte e seis dias que saí do Rio de Janeiro. Preguei com todo o espírito apostólico, e nunca preguei a respeito da escravatura e isso assevero a V. Exa. com fé de sacerdote e sacerdote capuchinho. Nunca me ocupei com semelhante matéria, para não parecer subversiva a minha doutrina. Limitei-me a apadrinhar alguns escravos de corrente, pega, argola e outros instrumentos de ferro. Preguei contra os pais que tinham seus filhos em seu próprio cativeiro; e que os vendiam ou davam em dote; mas sempre com cautela. Eu pregava que quem tivesse furtado o escravo alheio, o devia restituir ao seu dono.” (Mendonça; 1974, p. 41) Nas entrelinhas dos seus discursos percebe-se que era um defensor dos escravos e como tal sempre agiu. Era nítida a fé e a esperança que os negros tinham em Frei Eugênio ou Padre Mestre como o chamavam. Os negros escravos vinham assistir à Santa Missa e depois recebiam uma bênção especial do Padre Mestre, que lhes ungia e colocavam em seus pescoços medalhinhas ou patuás com orações para se protegerem contra o mau. CEMITÉRIO DE SÃO MIGUEL A construção do cemitério iniciou-se em 1856, e por volta de dois anos, o cemitério estava pronto, tendo o Frei sido auxiliado por fiéis de todas as idades e classes sociais.
O cemitério, denominado de São Miguel, situado onde hoje é a Praça Frei Eugênio, cobria a área hoje ocupada pelos prédios do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e pela Escola Estadual Minas Gerais. A planta foi traçada pelo engenheiro civil Fernando Vaz de Melo. Naquele período foi considerado o mais sólido e amplo do interior do Brasil. Dentro do cemitério, Frei Eugênio construiu a Capela de São Miguel. A maioria dos túmulos eram de madeira. O mármore somente entrou em Uberaba por volta de 1880, quando passou a ser empregado na construção de residências e túmulos, inclusive o de Frei Eugênio.
O Cemitério São Miguel funcionou 44 anos, de 1856 a até 1900. Foram enterrados neste período cerca de 4.400 pessoas. Foi interditado depois da construção do Cemitério Municipal, na época conhecido por Cemitério do Brejinho, atual São João Batista. Em 1900 a administração do novo Cemitério foi passada à Igreja Matriz. Em 1917, Monsenhor Inácio Xavier da Silva, no governo do Município, demoliu a capela e suas muralhas. Iniciou também a construção de um novo Cemitério chamado São Francisco, no fundo do hospital, porém o Frei não chegou a concluir a obra, ficou só nos alicerces. Além do Cemitério e da Capela São Miguel, Frei Eugênio projetou ainda a construção de uma ponte sobre o Rio Grande, no Porto de Ponte Alta, em direção a Uberaba, no intuito de ligar o litoral a Província de São Paulo às de Minas, Goiás e Mato Grosso. Pretendia outra ponte no Rio Paranaíba. Abriu ruas, fez estudos para canalizar as águas do Rio Uberaba, para o abastecimento da cidade, as mesmas cujos estudos a Câmara Municipal incumbiu o engenheiro Ataliba Vale de construir.
SANTA CASA DE
MISERICÓRDIA
Frei Eugênio não se
limitou ao auxílio aos mortos. Observando o crescimento da cidade, o aumento da
população, a precária situação dos pobres enfermos, baseado na Lei nº 148 de
1839, que autorizava as Câmaras Municipais a construir hospitais de caridade em
seus municípios, dirigiu-se a Câmara de Uberaba e requisitou licença para
construção de uma casa de caridade em um terreno denominado Largo do Rancho,
hoje Bairro Nossa Senhora da Abadia.
De acordo com Borges Sampaio: Está situada a Casa de Misericórdia de Uberaba na colina deste nome, isto é: “Aquela que dá entrada na cidade, a quem vier do Porto da Ponte Alta, pelo lado da Misericórdia. É separada à direita da Colina Estados Unidos pelo regato que nasce na chácara Joaquim dos Anjos; a esquerda da Colina Barro Preto pelo regato que nasce no capão conhecido por – Capão do Barro Preto – no Frasquinho” (Sampaio, 2001, p. 187). Em 1858, a Câmara Municipal concedeu o terreno e Frei Eugênio iniciou imediatamente as obras. As medições do local no período em questão eram: trezentos e vinte palmos de frente, e duzentos ao fundo.
O Frei solicitou ao Dr. Henrique Raimundo des Genettes, a planta do hospital, porém o capuchinho foi aumentando e modificando conforme as necessidades exigiam. Junto à comunidade recolheu donativos. Estes consistiam em peças de ouro como rosários, relicários, cordões, moedas do Império e de Portugal, peças de prata e materiais de construção. O Frei pode contar ainda com quantias consideráveis vindas das famílias ricas da cidade.
Frei Eugênio conseguiu junto a Câmara Municipal autorização para construir um açude nas imediações do hospital. O local não possuía água suficiente para a demanda da construção. O açude, além da construção, favoreceu toda a população que vivia nos arredores e sofria com a falta de água. Ergueu uma boa casa ao lado da Santa Casa destinada à administração, onde também passou a residir. Ficava na atual Praça Dr. Tomas Ulhôa, esquina com a Rua Frei Paulino.
A partir de 1921, até 1934, quando foi inaugurado o segundo prédio do Hospital da Misericórdia, esta casa serviu para internação dos pacientes. Entre 1862 e 1863, por conta da epidemia de varíola no país, às pressas foi preparada uma ala do prédio em que a construção estava mais adiantada, para receber os doentes. Em 1865 as obras seguiam graças à colaboração de pessoas com maior poder aquisitivo. Neste ano uma ala do hospital abrigou as tropas do Corpo Expedicionário que aqui se aquartelaram a caminho de Mato Grosso para a Guerra do Paraguai durante 45 dias, cujos doentes de bexiga (varíola) ali se internaram. A estada das tropas no prédio inacabado foi desastrosa, estragos se viam por toda parte. Camas, cozinha, utensílios, nada restou.
A Câmara requereu ao Governo Provincial indenização pelos prejuízos sofridos. Os prejuízos foram reparados. A construção da Santa Casa da Misericórdia foi agigantando-se, um grande prédio foi surgindo para os parâmetros do período. Durantes os anos de construção da Santa Casa, Frei Eugênio enfrentou diversos contratempos. Há alguns anos fora atacado por um boi ficando bastante ferido e sofrendo com sequelas. Idade avançada, enfermidades e ainda a hostilidade e intrigas de autoridades da Comarca do Paraná a qual pertencia Uberaba, juízes locais e outros que passaram por censuras feitas pelo missionário solicitando sua retirada da cidade, o abateram. Porém, a defesa feita pela Câmara Municipal e da população da cidade, conseguiram que ele permanecesse em Uberaba e continuasse o trabalho.
Frei Eugênio esforçou-se para dotar o hospital de recursos financeiros permanentes e gerar receitas oficiais. Lidava com a descrença de alguns dos seus importantes auxiliares, que afirmavam que ele não conseguiria terminar a Casa de Misericórdia, e se conseguisse, esta não se sustentaria por falta de verbas. O Poder Judiciário da cidade estabelecia prestações de contas detalhadas e exigências insignificantes. O missionário firmava-se em sua fé e continuava seu trabalho.
A descrição da Santa Casa de acordo com Sampaio: “este grande edifício com o quintal cercado de muros de pedra bem construídos forma um quadrilongo, ocupando todo o quarteirão que fazendo frente para o Largo da Misericórdia. A área ocupada pelo hospital é de 73 metros por 273, produzindo 19.929 metros quadrados. Entre a capela, enfermarias e outros compartimentos que se encontram ao entrar na frente à grande portaria, há, no centro, o jardim rodeado de largas sarjetas a cimento para esgotos pluviais. Toda a construção, descansa em grossos e profundos alicerces de pedra. Eleva-se o pavimento sustentado por fortes esteios de madeira de aroeira, da qual também são os portais das janelas e das portas do exterior. (…) A colocação do Hospital de Uberaba, sob o ponto de vista higiênico merece toda aprovação. (…) O astro solar banha com sua luz a frente do edifício quase todo o dia e em todas as estações do ano. Enfim, pode se considerar imune de emanações impuras, advindas do solo ou dos ares, bem como dos córregos. (…) O Largo da Misericórdia, que dá grande elegância ao hospital, mereceu do benemérito franciscano especial cuidado. (Sampaio, 2001, p. 163) Sem ver sua obra finalizada, Frei Eugênio Maria da Gênova, faleceu vítima de angina, aos 59 anos de idade em 14 de junho de 1871, às 23 horas, em sua residência, ao lado do hospital, que por muito tempo foi conhecida por “casa de Frei Eugênio”. Uma hora depois os sinos anunciaram a morte do Frei, reunindo grande parte da população à sua porta. Seu sepultamento foiconsiderado o maior em termos de acompanhamento por aqueles tempos, cerca de 4.000 pessoas seguiram o funeral. Todos os seus bens foram considerados patrimônio da Santa Casa, dinheiro, objetos valiosos das doações e livros.
Tudo que foi arrecadado foi como donativo para a finalização da Santa Casa. No outro dia, à noite seu corpo foi levado à Capela de São Miguel e sepultado, vestido com o mesmo hábito que, dizia ele, tinha prestado o voto na ordem. Sobre a sepultura de Frei Eugênio foi colocada uma lápide que data de 15 de junho, dia referente ao seu sepultamento. Sepultura do Missionário Apostólico O Rmo. Pe. Me. Fr. FREI EUGÊNIO MARIA DE GÊNOVA Falecido a 15 de junho de 1871.
Após sua morte a Câmara Municipal em virtude de uma lei provincial elegeu uma mesa administrativa, constituiu a pessoa jurídica que deveria representar os direitos públicos da Santa Casa de Misericórdia de Uberaba. A Fazenda Pública constatou que essa mesa tentou desviar a função do hospital. Mas um “acordão” tomado em sessão da junta do Tribunal do Tesouro Público Nacional decidiu a questão em favor do hospital, mantendo a mesa administrativa, a posse dos imóveis, móveis, direitos e ações que estavam em poder do Frei Eugênio. A mesa foi eleita em 1871 e durou até 1896, mantendo o hospital.
Depois de muitas turbulências, após 27 anos da morte de Frei Eugênio, foi finalmente inaugurada a Santa Casa de Misericórdia de Uberaba, no dia 14 de junho de 1896. Com a demolição do Cemitério de São Miguel, em 1917, seus restos mortais, foram encaminhados para o Cemitério Municipal do Brejinho, atual São João Batista e, de acordo com José Soares Bilharinho, em 1965 encaminhados para a Igreja Santa Teresinha: As 15h45min horas do dia 22 de agosto de 1965, a urna contendo seus restos mortais foi retirada do Cemitério Municipal. Acompanhada por um grande cortejo de automóveis, foi conduzida pelo seguinte itinerário: Avenida da Saudade, Rua São Sebastião, Praça Frei Eugênio, Rua Capitão Manoel Prata, Rua Olegário Maciel, Rua Carlos Rodrigues da Cunha, Praça Thomas Ulhoa, Rua Frei paulino, Capela da Santa Casa – onde permaneceu por alguns momentos – Rua Quintino Bocaiúva, Praça Manoel Terra, Avenida Leopoldino de Oliveira, Praça Henrique Kruger – ponto de concentração da grande massa popular – até a Igreja Santa Terezinha. Alí a urna foi depositada diante do Santuário. (…) Movidos por necessidades inadiáveis, os irmãos de hábitos do Padre Mestre venderam a cobertura de mármore do seu túmulo.
A peça encontrava-se sob a custódia da UFU – Universidade Federal de Uberlândia – constituindo a superfície da Mesa do salão nobre da Faculdade de Direito desta instituição. Por iniciativa da Fundação Cultural de Uberaba, a lápide retornou a Uberaba no dia 21 de maio de 2014, e foi colocada na Igreja de Santa Terezinha onde se encontram os restos mortais de Frei Eugênio. Luciana Maluf Vilela Historiadora da equipe técnica do Conphau Maria Aparecida R. Manzan Coordenadora da equipe técnica do Conphau Referências:
De acordo com Borges Sampaio: Está situada a Casa de Misericórdia de Uberaba na colina deste nome, isto é: “Aquela que dá entrada na cidade, a quem vier do Porto da Ponte Alta, pelo lado da Misericórdia. É separada à direita da Colina Estados Unidos pelo regato que nasce na chácara Joaquim dos Anjos; a esquerda da Colina Barro Preto pelo regato que nasce no capão conhecido por – Capão do Barro Preto – no Frasquinho” (Sampaio, 2001, p. 187). Em 1858, a Câmara Municipal concedeu o terreno e Frei Eugênio iniciou imediatamente as obras. As medições do local no período em questão eram: trezentos e vinte palmos de frente, e duzentos ao fundo.
O Frei solicitou ao Dr. Henrique Raimundo des Genettes, a planta do hospital, porém o capuchinho foi aumentando e modificando conforme as necessidades exigiam. Junto à comunidade recolheu donativos. Estes consistiam em peças de ouro como rosários, relicários, cordões, moedas do Império e de Portugal, peças de prata e materiais de construção. O Frei pode contar ainda com quantias consideráveis vindas das famílias ricas da cidade.
Frei Eugênio conseguiu junto a Câmara Municipal autorização para construir um açude nas imediações do hospital. O local não possuía água suficiente para a demanda da construção. O açude, além da construção, favoreceu toda a população que vivia nos arredores e sofria com a falta de água. Ergueu uma boa casa ao lado da Santa Casa destinada à administração, onde também passou a residir. Ficava na atual Praça Dr. Tomas Ulhôa, esquina com a Rua Frei Paulino.
A partir de 1921, até 1934, quando foi inaugurado o segundo prédio do Hospital da Misericórdia, esta casa serviu para internação dos pacientes. Entre 1862 e 1863, por conta da epidemia de varíola no país, às pressas foi preparada uma ala do prédio em que a construção estava mais adiantada, para receber os doentes. Em 1865 as obras seguiam graças à colaboração de pessoas com maior poder aquisitivo. Neste ano uma ala do hospital abrigou as tropas do Corpo Expedicionário que aqui se aquartelaram a caminho de Mato Grosso para a Guerra do Paraguai durante 45 dias, cujos doentes de bexiga (varíola) ali se internaram. A estada das tropas no prédio inacabado foi desastrosa, estragos se viam por toda parte. Camas, cozinha, utensílios, nada restou.
A Câmara requereu ao Governo Provincial indenização pelos prejuízos sofridos. Os prejuízos foram reparados. A construção da Santa Casa da Misericórdia foi agigantando-se, um grande prédio foi surgindo para os parâmetros do período. Durantes os anos de construção da Santa Casa, Frei Eugênio enfrentou diversos contratempos. Há alguns anos fora atacado por um boi ficando bastante ferido e sofrendo com sequelas. Idade avançada, enfermidades e ainda a hostilidade e intrigas de autoridades da Comarca do Paraná a qual pertencia Uberaba, juízes locais e outros que passaram por censuras feitas pelo missionário solicitando sua retirada da cidade, o abateram. Porém, a defesa feita pela Câmara Municipal e da população da cidade, conseguiram que ele permanecesse em Uberaba e continuasse o trabalho.
Frei Eugênio esforçou-se para dotar o hospital de recursos financeiros permanentes e gerar receitas oficiais. Lidava com a descrença de alguns dos seus importantes auxiliares, que afirmavam que ele não conseguiria terminar a Casa de Misericórdia, e se conseguisse, esta não se sustentaria por falta de verbas. O Poder Judiciário da cidade estabelecia prestações de contas detalhadas e exigências insignificantes. O missionário firmava-se em sua fé e continuava seu trabalho.
A descrição da Santa Casa de acordo com Sampaio: “este grande edifício com o quintal cercado de muros de pedra bem construídos forma um quadrilongo, ocupando todo o quarteirão que fazendo frente para o Largo da Misericórdia. A área ocupada pelo hospital é de 73 metros por 273, produzindo 19.929 metros quadrados. Entre a capela, enfermarias e outros compartimentos que se encontram ao entrar na frente à grande portaria, há, no centro, o jardim rodeado de largas sarjetas a cimento para esgotos pluviais. Toda a construção, descansa em grossos e profundos alicerces de pedra. Eleva-se o pavimento sustentado por fortes esteios de madeira de aroeira, da qual também são os portais das janelas e das portas do exterior. (…) A colocação do Hospital de Uberaba, sob o ponto de vista higiênico merece toda aprovação. (…) O astro solar banha com sua luz a frente do edifício quase todo o dia e em todas as estações do ano. Enfim, pode se considerar imune de emanações impuras, advindas do solo ou dos ares, bem como dos córregos. (…) O Largo da Misericórdia, que dá grande elegância ao hospital, mereceu do benemérito franciscano especial cuidado. (Sampaio, 2001, p. 163) Sem ver sua obra finalizada, Frei Eugênio Maria da Gênova, faleceu vítima de angina, aos 59 anos de idade em 14 de junho de 1871, às 23 horas, em sua residência, ao lado do hospital, que por muito tempo foi conhecida por “casa de Frei Eugênio”. Uma hora depois os sinos anunciaram a morte do Frei, reunindo grande parte da população à sua porta. Seu sepultamento foiconsiderado o maior em termos de acompanhamento por aqueles tempos, cerca de 4.000 pessoas seguiram o funeral. Todos os seus bens foram considerados patrimônio da Santa Casa, dinheiro, objetos valiosos das doações e livros.
Tudo que foi arrecadado foi como donativo para a finalização da Santa Casa. No outro dia, à noite seu corpo foi levado à Capela de São Miguel e sepultado, vestido com o mesmo hábito que, dizia ele, tinha prestado o voto na ordem. Sobre a sepultura de Frei Eugênio foi colocada uma lápide que data de 15 de junho, dia referente ao seu sepultamento. Sepultura do Missionário Apostólico O Rmo. Pe. Me. Fr. FREI EUGÊNIO MARIA DE GÊNOVA Falecido a 15 de junho de 1871.
Após sua morte a Câmara Municipal em virtude de uma lei provincial elegeu uma mesa administrativa, constituiu a pessoa jurídica que deveria representar os direitos públicos da Santa Casa de Misericórdia de Uberaba. A Fazenda Pública constatou que essa mesa tentou desviar a função do hospital. Mas um “acordão” tomado em sessão da junta do Tribunal do Tesouro Público Nacional decidiu a questão em favor do hospital, mantendo a mesa administrativa, a posse dos imóveis, móveis, direitos e ações que estavam em poder do Frei Eugênio. A mesa foi eleita em 1871 e durou até 1896, mantendo o hospital.
Depois de muitas turbulências, após 27 anos da morte de Frei Eugênio, foi finalmente inaugurada a Santa Casa de Misericórdia de Uberaba, no dia 14 de junho de 1896. Com a demolição do Cemitério de São Miguel, em 1917, seus restos mortais, foram encaminhados para o Cemitério Municipal do Brejinho, atual São João Batista e, de acordo com José Soares Bilharinho, em 1965 encaminhados para a Igreja Santa Teresinha: As 15h45min horas do dia 22 de agosto de 1965, a urna contendo seus restos mortais foi retirada do Cemitério Municipal. Acompanhada por um grande cortejo de automóveis, foi conduzida pelo seguinte itinerário: Avenida da Saudade, Rua São Sebastião, Praça Frei Eugênio, Rua Capitão Manoel Prata, Rua Olegário Maciel, Rua Carlos Rodrigues da Cunha, Praça Thomas Ulhoa, Rua Frei paulino, Capela da Santa Casa – onde permaneceu por alguns momentos – Rua Quintino Bocaiúva, Praça Manoel Terra, Avenida Leopoldino de Oliveira, Praça Henrique Kruger – ponto de concentração da grande massa popular – até a Igreja Santa Terezinha. Alí a urna foi depositada diante do Santuário. (…) Movidos por necessidades inadiáveis, os irmãos de hábitos do Padre Mestre venderam a cobertura de mármore do seu túmulo.
A peça encontrava-se sob a custódia da UFU – Universidade Federal de Uberlândia – constituindo a superfície da Mesa do salão nobre da Faculdade de Direito desta instituição. Por iniciativa da Fundação Cultural de Uberaba, a lápide retornou a Uberaba no dia 21 de maio de 2014, e foi colocada na Igreja de Santa Terezinha onde se encontram os restos mortais de Frei Eugênio. Luciana Maluf Vilela Historiadora da equipe técnica do Conphau Maria Aparecida R. Manzan Coordenadora da equipe técnica do Conphau Referências:
Prata, Pe.Thomaz de
Aquino: Memória da Arquidiocese de Uberaba. Edição: Fundação Cultural de
Uberaba e Museu de Arte Sacra, 1987.
Sampaio, Antônio Borges:
Uberaba: História, Fatos e Homens. 2ª Edição: Prefeitura Municipal de Uberaba e
Arquivo Público de Uberaba. 2001,
Pontes, Hildebrando:
História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central. Edição: Academia de
letras do Triângulo Mineiro. 1978
Livros de Atas da Câmara
Municipal de Uberaba nº 01/02. Acervo do Arquivo Público de Uberaba. Data:
1859, 1860,1862, 1863, 1869,1871.
Bilharinho, José Soares.
História da Medicina em Uberaba. Edição: Academia de Letras do Triângulo
Mineiro; 1982 vol. II