Foto: Arquivo Público Mineiro/Anos: 1859 a 1889 |
Foram várias as dificuldades na criação da Diocese de Uberaba. Naquela época em
que a viagem de navio durava vinte dias, Dom Eduardo foi quatro vezes à Europa.
Uma para estudar; outra quando nomeado bispo de Goiás e na terceira para
conseguir missionários para sua Diocese. Na quarta vez, por tratar da saúde, abalada
por neurastenia, na França, o fato lhe deu a oportunidade de contratar Irmãos
Maristas para o Colégio de Uberaba, e trazer consigo Redentoristas alemães.
Um
detalhe: de passagem por Lisboa, Dom Eduardo foi preso por portar dois pacotes
de rapé, espécie de tabaco em pó para inalar, cujo consumo era bastante comum
no Brasil até o início do Século XX, mas explicou-se e foi solto. Ele já tinha
sido preso por indígenas, por ocasião de uma visita pastoral aos selvagens
Javés, em Goiás (Autobiografia, Goiânia, 2007, pag. 154).
Dom
Eduardo foi eleito Bispo de Goiás pela Bula de 22 de janeiro de 1890. Em 08 de
fevereiro de 1890, em Roma, foi sagrado Bispo pelos cardeais Parochi e Rampola
del Tindaro — este, Secretário de Estado do Papa Leão XIII — que, por sua vez,
atuava como protetor de Dom Eduardo em Roma e praticamente o absoluto
coordenador de tudo o que se referiu à criação da Diocese de Uberaba.
Por
que uma nova Diocese no interior do Brasil?
A
Diocese de Uberaba foi criada como forte sinal de reparação ao ultraje
republicano que prejudicou a Diocese de Goiás e humilhou seu Bispo Diocesano.
Interpretando bem o Apocalipse, a Igreja reconheceu Dom Eduardo como perseguido
e o reconduziu à condição do justo vencedor perante a Justiça Eterna. Não foi
só uma revanche, foi uma atitude de fé em Cristo Nosso Senhor, Cabeça da
Igreja, o Divino Criador e Eterno Estabilizador de sua Igreja.
Dom
Eduardo foi um herói; mesmo já tendo missionários e missionárias da Ordem
Dominicana, muitas paróquias em Goiás e no Triângulo Mineiro estavam acéfalas e
providas unicamente de padres idosos. Ele, então, procurou na Europa
congregações religiosas que o ajudassem na evangelização. Com auxílio do
Cardeal Rampola, conseguiu os Irmãos Maristas franceses e os Redentoristas
alemães.
Certa
feita, Dom Eduardo, a contragosto, mas por determinação do Cardeal Rampola,
cedeu dois Redentoristas para o Santuário de Aparecida/SP, e teve de contar somente com os Redentoristas
de Barro Preto (hoje Trindade/GO) para cuidar da Devoção do Divino Pai Eterno.
Na viagem até Goiás, os padres alemães só podiam conversar com Dom Eduardo em
latim. Já em Uberlândia, Padre Speelt e Dom Eduardo foram homenageados com as
danças do Congado Moçambique. Ao fim da apresentação, Dom Eduardo perguntou a
Padre Speelt:
-
Qui tibi videtur? (Que tal te parece?)
-
Admirabilia. (Admirável folclore).
A
vinda de Dom Eduardo para Uberaba
Em
razão da perseguição religiosa republicana, Dom Eduardo resolveu sair de Goiás
e vir para Uberaba, onde chegou em 10 de agosto de 1896 e foi recebido festivamente com discursos, banda de música e
desfiles, após desconfortável viagem em lombo de burro, com seminaristas,
cabido diocesano, livros, biblioteca, paramentos e arquivos.
Daqui,
Dom Eduardo visitava sempre as paróquias de Goiás e do Triângulo Mineiro. Em
1907, no povoado de Água Suja (hoje Romaria-MG), ele elevou a humilde capela a
Santuário Episcopal de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja — hoje frequentado
por milhares de romeiros —, entre julho e agosto.
Em
homenagem à cidade que o acolheu tão bem, Dom Eduardo conseguiu do Cardeal
Rampola a promessa da criação da Diocese de Uberaba, desmembrando-a da Diocese
de Goiás, sob duas condições: conseguir um grande patrimônio destinado a
garantir a subsistência diocesana e a construção de uma nova igreja de cimento
armado, que seria alçada ao status de Catedral.
O
cimento armado já tinha sido introduzido em Uberaba por construtores italianos,
em 1900, na restauração das duas atuais torres da Matriz, na Praça Rui Barbosa.
A exigência do cimento armado foi para que não se reproduzissem as péssimas
condições de conservação da antiga Matriz, vetada por Roma para ser a futura
Catedral e que era praticamente um pardieiro de ripas despencando do telhado em
um simplório salão de paredes de pau a pique. Por isso, a primeira Catedral de
Uberaba não seguiu a regra geral de todas as outras novas Dioceses brasileiras,
que sempre escolhem a Igreja Matriz no centro da cidade para ser Catedral.
Uberaba
tem o dia 02 de março como festiva data municipal em memória à criação da
Paróquia, em 1820, por ato do Rei de Portugal (e não por ato de um Bispo) Até a
instituição dos atuais cartórios civis (republicanos), todo pároco era
praticamente um funcionário de cartório a serviço do Império, que usava os
registros paroquiais como listagem de possíveis contribuintes de impostos.
Durante o Império, todos os bispos e párocos recebiam vencimentos, as
“côngruas”. O livro paroquial tinha três colunas: batismo, casamento e óbito.
As
côngruas estavam atrasadas. Assim, Dom Eduardo as requereu e empregou sua verba
na construção de sua Catedral e do Palácio Episcopal, reforçando as generosas
ofertas das paróquias.
Enfim,
a diocese de Uberaba
Pronta
a Catedral e garantido o patrimônio diocesano, com terrenos no Alto das Mercês
a partir do Largo Cuiabá (hoje Praça Dom Eduardo), em 29 de setembro de 1907,
pela Bula Goyaz Diamantina Brasiliana Respublica, do Papa São Pio X, foi criada
a Diocese do Sagrado Coração de Jesus, desmembrada das Dioceses de Goiás e
Diamantina, sufragânea da Arquidiocese de Mariana.
A
posse de Dom Eduardo na Diocese de Uberaba foi complicada, em razão do extravio
do “Breve” Apostólico Apostolatus Officium, de 8 de novembro de 1907, que o
desligava de Goiás e o nomeava Bispo de Uberaba – tudo isso porque, naquele
tempo, a comunicação postal com Goiás era impossível em época de enchentes de
rios. A correspondência de Roma se extraviou porque endereçada a Goiás, e não a
Uberaba, onde morava Dom Eduardo. Assim, a posse dele ocorreu somente em 24 de
maio de 1908 (oito meses após sua nomeação).
Quase
três anos antes da criação da Diocese, a Catedral já estava pronta; foi
terminada com festa na colocação da última telha, com direito a rojões e
cervejada, em 30 de setembro de 1905. Tempos depois, já bem ornamentada para o
Culto Divino, foi inaugurada como Catedral, em Missa Solene realizada em 27 de
janeiro de 1907.
Em
17 de outubro de 1908, Dom Eduardo assinou o Decreto de instalação do Curato da
Sé (transferido para a Praça Rui Barbosa no ano de 1926), com licença papal
para a recíproca transferência entre os respectivos padroeiros da Igreja das
Mercês e a Igreja da Praça Rui Barbosa – esta, a partir de 1926 até hoje, nossa
Catedral no centro da cidade de Uberaba.
Dois
fatos históricos em 1923: em 7 de março de 1923, Dom Eduardo renunciou à Diocese
de Uberaba e se retirou para o Rio de Janeiro, para tratamento de saúde. Já em
6 de abril de 1923, foi nomeado Bispo de Uberaba Dom José Tupinambá da Frota
(Bispo de Sobral/CE desde 1916).
Outros
dois fatos históricos em 1924: em 1º de fevereiro de 1924, a Diocese de Uberaba
foi desligada da Arquidiocese de Mariana e adida à Arquidiocese de Belo
Horizonte. Por seu turno, em 04 de junho de 1924 foi tornada sem efeito a
nomeação de Dom José Tupinambá da Frota para Uberaba, proclamando-se a nomeação
do padre diretor do Colégio Salesiano de Bagé/RS, Dom Antônio de Almeida
Lustosa. Ele recebeu a sagração episcopal em 11 de fevereiro de 1925, com posse
na Diocese de Uberaba, em 1º de março de 1925.