Uberaba sempre viveu horas de pesadelo com as pesadas
chuvas que caem sobre a terrinha e que, rapidamente, tornam-se quase em
catastróficas enchentes...Aliás, enchentes é como doença; quando menos se
espera ,ela chega. Estava todo mundo queixando-se do calor infernal que
assolava a cidade, pedindo uma chuvinha leve para refrescar o ambiente,verdejar
nossos campos, lavar a poeira que paira sobre ruas e calçadas empoeiradas. De
repente, a chuva cai ! Sem dó, nem piedade, levando tudo de roldão:carros, motos,lixo,bicicletas,biroscas,sanitário
ambulante e outros pertences...A cidade virou um caos. A população
estupefata,medrosa sem acreditar no que via no centro e alguns bairros. Aquela
torrente levando sujeira,muita sujeira,além de obras(?)públicas , só preservando
almas imundas,bem sujas, dos nossos políticos...”Selfies” registrados aos
montes,de baixo e de cima dos prédios da avenida...Em menos de hora de
tormento,o centro da cidade,ficou barro só.Carro sobre carro,água sobre
casas,água no leito do rio, água fora do leito de córregos e canais,água nos
bancos,água nas lojas... a poeira e o calor maldito,cederam lugar às águas
barrentas da volumosa enxurrada. Chuva que se pedia branda, manhosa,dengosa,
que pudéssemos controlar a mão divina, não veio...Chegou sim, a chuva de
alerta,de raiva, a chuva forte que a mão do homem não pode conter..Jogaram a
culpa no coitado do S.José..fazer o quê ? Diz o ditado dos antigos que “ a água
leva e água lava”...Lava a alma e o corpo, lava nossas verdades, como também
lava nossas mentiras.
Dondico,homem
simples,iletrado,formado na escola da vida, meu ídolo eterno,meu
pai,contou-me,ainda garoto e que guardei para sempre, uma historinha de água, “
a mãe natureza”.Seguinte:
-“Pequeno
sitiante,lá pelas bandas do Cassú,a duras penas, mantinha a família(pai e
mãe),com o leite de 10 vaquinhas.Depois ,os pais faleceram.Ele,recatado,vida
honesta,ali. Um belo dia,recebeu terrível “cantada”- porque não colocar água no
leite?ninguém ficaria sabendo e a sua renda, aumentaria.O corguinho do
“Óleo”,passava nos fundos do sitio.Tentado pela indecente proposta,adotou a
desonesta prática.Um litrinho hoje,2,amanhã,ninguém desconfiava e viu a renda
aumentar.Gostou.A “coisa”,prosperando.Comprou mais vacas, melhores do que as
suas.Alugou mais pastos.”Zé Rita”,era só alegria.Comprou cavalo novo,um bonito
“mangalarga marchador”.Dinheiro no bolso,gado no pasto,montaria de
primeira,iniciou namoro com a filha do fazendeiro,seu vizinho de divisa.Homem rico,de
muitas terras,gado bom e filha bonita.Namoro vai, namoro vem, marcaram o
casamento.”Zé Rita”,comprou sela pronta,apetrechos dourados na cabeça do
arreio,camisa “xadrez da moda”,calça”jeans”,bota cano longo,bico
fino,prateado.Certa noite,lua cheia,clareava o caminho.Era atravessar o
“Õleo”e, do outro lado, a namorada. Felicidade maior, impossível! Foi nada,
não. O tempo mudou.A água caiu de montão.O corguinho,transbordou. O
“toró”custou a passar. Na volta,conhecendo o caminho,local da ponte de madeira,
cavalo ensinado,acostumado a desafios,tentou passar.O “mangalarga”não
resistiu,rolou córrego abaixo; com muito esforço,”Zé Rita”,alcançou o outro
lado do barranco.Sem a calça de grife,só pé direito da bota, camisa
rasgada...Com lágrimas nos olhos,via os últimos movimentos do cavalo,rodando
rio abaixo,com a arreata cara, estribo prateado e as rédeas de crina de
burro,mais caras ainda..
Com
feição de dar pena, “Ze Rita”,vendo tudo indo embora água abaixo, só se lembrou
de uma frase que ouvira há muito anos, “ a água dá; a água leva”..
EM
TEMPO: - Qualquer semelhança com as enchentes de Uberaba, é mera
coincidência...