sexta-feira, 12 de maio de 2017

INAUGURAÇÃO DO “ UBERABÃO “

 
Foto: Paulo Nogueira    


Dez horas da ensolarada manhã do dia 10 de junho de 1972.O aeroporto da terrinha soltando “gente pelo ladrão”, a espera da chegada do Boeing ”737”, que trazia a seleção brasileira de futebol, tricampeã do mundo e a seleção olímpica que fizera apaga figuras nos Jogos Olímpicos daquele ano. Vinham inaugurar o “ “Uberabão”, apelido dado ,carinhosamente, ao estádio municipal “João Guido”,nome oficial daquela praça de esporte.A auto-estima do uberabense estava que era pura adrenalina. O “Uberabão”,depois do “Mineirão”, em BH., era o melhor estádio de Minas Gerais. Gente, quanta alegria coberta de satisfação! Nem imaginam !

   Foram mais de 10 anos de luta,de expectativa, de decepção,de alegrias, trabalho, trabalho árduo, diga-se, por parte do Uberaba Sport,liderado pelo seu então presidente, Edgard Rodrigues da Cunha, conhecido advogado e professor universitário, industrial de méritos e próspero fazendeiro.Edgard,sonhou alto, tentou dar ao seu clube e a cidade, um estádio monumental. Faltou-lhe, infelizmente, o apoio da cidade e seus líderes. Fazer o quê? Despreendido, doou a área, aquele enorme “buracão”, parecido com as históricas arenas romanas, ao município para que o seu sonho não fosse consumido pelas trevas...

   O “elefante branco” como certa parte da imprensa local, se referia ( na terrinha sempre existiram os do “contra”...)ao inacabado estádio, no “pasto do Pereira”, estava ganhando contornos de realidade.

João Guido, Randolfo Borges e Arnaldo Rosa Prata, “peitaram” a obra , encarregaram-se de encher de orgulho , a alma do uberabense. Ainda “em meia boca”, o estádio seria inaugurado. Belo gramado, arquibancadas (uma parte coberta) , vestiários, cabines de rádio e TV, tribuna de honra, bares, sanitários, áreas essenciais para sua pronta inauguração. Ficou faltando tão somente a conclusão da elipse (ferradura), fechando o estádio.

   No aeroporto, o governador de Minas, autoridades municipais e regionais, políticos de todas as matizes, além de jornalistas e radialistas de todo o Brasil.A ex-Rede Tupi de Televisão,à postos para documentar a chegada dos tricampeões do mundo e. à tarde, transmitir para o Brasil, o jogo de inauguração do “Uberabão”.Gerson,Brito,Piazza,Jairzinho,Rivelino( fez o primeiro gol do estádio), freneticamente aplaudidos , o mesmo acontecendo com os “olímpicos”,cuja estrela maior era Paulo Roberto Falcão.O “Uberabão”,super lotado.Ora,pois.

   Mas,a figura central,alvo de todas as atenções,era João Havelange,presidente a Confederação Brasileira de Futebol.Na cidade,receberia o título de “cidadão uberabense” pelos relevantes serviços prestados ao futebol brasileiro.Tão logo desceu do avião,atrás dos jogadores,comissão técnica,jornalistas e convidados,a emoção tomou conta do povão aglomerado no saguão e lado de fora do aeroporto.Era gente que não acabava mais.Só comparável quando das visitas de Getúlio e depois JK, na abertura das Exposições agropecuárias. Hoje...bem ... hoje... deixa prá lá...Espocar de fogos se ouvia por todos os cantos da terrinha.Escolares com bandeirinhas do Brasil,formavam extensa fila por onde,obrigatoriamente, passariam os ilustres visitantes.Fanfarras dos nossos colégios e a Banda do 4ºBatalhão , esmeravam nas marchas militares. Emoção, gritos, palmas, vivas se ouviam por todos os lados...

   Foi nada não.O último a descer foi João Havelange.Elegante,bem vestido,sorriso discreto, pose de rei, o presidente da CBF,foi cumprimentado pela famosa “fila do beija-mão”.Quando entra no saguão do aeroporto,povão espremido como “sardinha na lata”,Havelange para.Olha fixo na porta de saída do recinto.Lá estava um homem alto,meia-idade,ralos cabelos grisalhos e que não fora convidado para formar na fila de cumprimentos.Havelange,esboça um largo sorriso, levanta os braços e chama:- “Meu querido Waldomiro Campos,venha cá.Quero lhe abraçar!’Atônitas, seguranças,autoridades,jornalistas,abrem alas e aquele senhor,semi obeso,de terno surrado e gravata velha,humildemente. dirige-se a Havelange e trocam na presença de todos, um fraterno abraço com direito a beijo no rosto...

  Waldomiro Campos, “Nenê Mamá”, na sua simplicidade , era a figura mais importante para o importante futuro presidente da FIFA! 45 anos são passados! Nunca mais Uberaba “viu”, de perto, a seleção brasileira!Uberaba, conhecida,”ao vivo”,pela TV-Uberaba, em todo o Brasil, nunca mais apareceu! O nosso futebol, que foi grande, está na UTI dos eventos esportivos!Uberaba, não viu mais nem Havelange, nem “Nenê Mamá”! Uberaba, até hoje,não viu o término do “Uberabão”! Uberaba,tristemente, não viu “ a banda passar”...


Luiz Gonzaga de Oliveira