domingo, 16 de abril de 2017

TERRA MADRASTA

Orlando Ferreira, doca 


     Orlando Ferreira, era filho do negociante Bento José Ferreira e nasceu em 1887, em Uberaba. Foi seminarista, recenseador, escritor e crítico ferrenho dos maus políticos, da igreja católica e de algumas famílias tradicionais da cidade. Faleceu 1957, aos setenta anos. O livro Terra Madrasta (1928?), tece críticas à política mineira, afirmando que ela é a responsável pelo atraso do estado e exemplifica, com dados dos recenseamentos de 1872, no qual a população mineira era maior que a paulista, e de 1920, quando São Paulo já alcançava Minas em número de habitantes.

Critica também o governo político de Uberaba, qualificada como “...uma obra de liliputianos."[1] e afirma que as forças oponentes ao progresso do município são: a administração, a política, o clero, a empresa Força e Luz e algumas famílias tradicionais.

Afirma que, embora houvesse na cidade uma razoável arrecadação – mostrada por meio de quadros estatísticos da receita e da despesa, de 1836 a 1925 – ela não era bem aplicada e as ações dos prefeitos não iam além de tapar buracos com terra, capinar ruas, construir pinguelas, matar cachorros, nomear e demitir funcionários e arrecadar impostos. Questiona porque em um século, das 155 ruas da cidade, apenas 11 foram pessimamente calçadas e 3 praças, das 19 existentes, estão em bom estado. Ironicamente, aponta a falta de seriedade nos critérios para se classificar as cidades mineiras no ranking do desenvolvimento, pois, apesar de todo o retrocesso, Uberaba ainda conseguiu ocupar o terceiro lugar na classificação.

Apresenta como entraves do progresso municipal: uma gestão destrói as realizações da outra; administra-se a esmo, sem uma diretriz segura; emprega-se material barato nas construções; trabalha-se às pressas e falta espírito cívico aos administradores. Afirma ainda que edifício da Câmara é novíssimo e já apresenta “assoalho em falso que estremece e sacode os móveis.”

Descreve positivamente a administração do Dr. Leopoldino de Oliveira, apontando-o como o prefeito que não deixou dívidas para a gestão seguinte, exonerou funcionários inúteis, prestou assistência técnica às escolas, apoiado por Alceu Novaes, e elaborou um novo programa de ensino municipal que previa o aumento no salário dos professores, a realização de concursos e a seleção de pessoas habilitadas para o exercício do magistério.

Confronta por meio de quadros demonstrativos, a taxa de mortalidade de Uberaba com a de outras cidades, no período de 1908 a 1920, e expõe as péssimas condições de higiene da cidade devido à falta de água.
Assegura que havia corrupção, assassinatos, espancamentos, compra de votos, suborno e registros em atas falsas, nos pleitos eleitorais na cidade.
Dedica uma parte a criticar a empresa Força e Luz e a atuação política de seus proprietários e o clero uberabense.

Registra os nomes das ruas do município, em 1923, e relatos sobre as fotografias usadas na edição.
A obra é um rico conjunto de dados relacionados à trajetória dos prefeitos da época vivida por Orlando Ferreira que, além de reunir fotos, documentos de jornais e estatísticas do município, importantes para a visão da cidade como um todo, também desperta no leitor o pensamento crítico.

Marise Soares Diniz

Outras obras do acervo: Forja de Anões (1940) e Pântano Sagrado (1948)

Acervo: Arquivo Público de Uberaba