quinta-feira, 2 de março de 2017

E por falar em Uberaba, 197


Talvez pelo fato de ter nascido na Rua do Carmo, nas redondezas do Mercado Municipal, considero esta região, de especial encanto e beleza, o símbolo histórico, cultural e arquitetônico de Uberaba. Integra esse cenário a faculdade de medicina, hoje UFTM, palco de memoráveis encontros e momentos de grandeza da vida acadêmica de nossa cidade, abastecida durante décadas pelo saudoso Bar do Mil Réis. Morro acima encontra-se o majestoso Colégio Nossa Senhora das Dores, que continua a educar e com certeza está na lembrança de várias gerações que por ali passaram e nos remetem ao tempo da escola das irmãs dominicanas, exclusiva para o sexo feminino, e dos irmãos maristas do Diocesano, para o sexo masculino. Aliada ao colégio das “freiras”, como era carinhosamente chamado, vem a bela capela, com sua íngreme escadaria. Dentro da nave, o silêncio estrondoso nos revela a importância de reverenciar o passado para dele depreender o que somos, cultuar nossa origem, perpetuando-a pelo tempo. Do outro lado, Santa Rita e São Domingos. Ela, barroca de inestimável conteúdo e forma, abençoa-nos desde os primórdios do nosso arraial. Hoje é o Museu de Arte Sacra, que reúne paramentos, imagens, vestes, mobiliário que dão o sentido histórico da Cúria Metropolitana. Com um fôlego a mais alcançamos a Igreja São Domingos, comparável às mais suntuosas obras góticas europeias, com um detalhe especial: edificada com pedra tapiocanga. Por ali havia a presença ativa dos dominicanos, congregando para refletir a formação cristã e humanista, características eloquentes da ordem. No centro desse invejável complexo situa-se o tradicional Mercado Municipal, com sua maturidade secular, sobrevivendo em meio a tantas inovações de consumo. Consegue firmar-se exatamente por preservar a essência de origem, o vínculo informal e estreito entre “freguês” e dono da “venda”. Neste espírito de pouco requinte e de agradável conforto humano, com uma boa “roda de prosa”, não é apenas um local de compras, mas, sobretudo, um espaço de convivência intensa, principalmente aos domingos, dos que aqui residem e daqueles que vêm visitar seus familiares. São tantas passagens pitorescas e peculiaridades das várias genealogias que aqui proliferaram e hoje se espalham em profusão. São inúmeras gerações que tão bem souberam acolher novos conterrâneos e estabelecer elos de amizade e de sangue. Essa, a meu ver, é a principal e mais importante qualidade de Uberaba em seus 197 anos de vida. Parabéns!


Luiz Cláudio dos Reis Campos