domingo, 1 de janeiro de 2017

UMA ROSA NÃO É SÓ UM ROSA; UMA ROSA PERFUMADA É UMA MULHER SEDENTA DE AMOR

Idos da década de 60. Faz tempo… Uberaba era uma cidade pacata, sem correria. Nada lembra a Uberaba de hoje, trepidante, nervosa, corrida, perdida nesse mundaréu de gente prá lá e prá cá. Uberaba ainda respirava ares interioranos, provincianos até. 7 bairros, algumas vilas e o centro da cidade, bucolicamente, com os córregos abertos. Não mais que isso. Linhas de ônibus, poucas, carros de aluguel, mais ou menos. Moças bonitas, Muito bonitas ! Era gostoso namorá-las sem que elas soubessem… Igrejas? Apenas as tradicionais: Santa Rita, Catedral, S.Benedito, Santa Teresinha, S.Domingos, Abadia, Adoração Perpétua, N.S.de Fátima e só. Hoje, proliferam por todos os cantos da cidade. Iluminação de ruas, praças e avenidas, uma “porca miséria”. Lâmpadas das casas e ruas, pareciam tomates maduros…

“Footing” das moçoilas na Artur Machado, contornando a Leopoldino, até ao finado “Metrópole”… Festa da Abadia, novena na S.Benedito, quermesse na S.Domingos… Naqueles saudosos tempos, as saias e vestidos, cobriam joelhos, sutiãs e as calcinhas guardavam peitos e bundas. As moças eram mais recatadas… Os moços não usavam drogas, nem tatuavam o corpo. Homem namorava mulher e mulher só namorava homem…

Que saudade das quermesses e barraquinhas, a troca de olhares constantes no costume antigo do “correio elegante”. Que é isso? Garçom de gravata borboleta, camisa branca, comprida, calça preta…encarregado do “leva e trás”dos bilhetinhos, normalmente anônimos, escritos com capricho e letra bonita “dele” prá “ela” ou”dela “ prá “ele”. Mensagens de amor, carinho, doçura, galanteios; versos rimados , “cantadas” sem maldade, elogios pródigos… O “correio elegante”trazia palavras de admiração, ternura, afeição. Começa com inocentes bilhetes, namoro que se tornava noivado e… terminava em casamento!

O “correio elegante”era a coqueluche da juventude do meu tempo. A curiosidade para se conhecer o nome do “apaixonado” que oferecia à jovem donzela , os mimos de palavras tão bonitas, que enterneciam corações. “Correio elegante”… quem é quem ? A pracinha da igreja S.Domingos, deixou saudades . Mocinhas voltavam prá casa sedentas de amor platônico. Quem será o admirador? Bonito? Feio? Simpático? Alto? Baixo? Rico? Pobre? Remediado? Trabalhador? Romântico, elas tinham certeza! Em casa, refasteladas na cama macia e bordada, tentavam dormir. Inebriada pelo perfume do “correio elegante”, seus pensamentos giravam a mil, sonhos apareciam, a fantasia desenhada, o desejo ainda não satisfeito.

Na manhã seguinte , depois de sonhos coloridos, abre a janela e, olhando para as torres da igreja de S.Domingos, não via a hora da noite chegar, ir para a pracinha , aguardando um novo “correio elegante”….

Luiz Gonzaga de Oliveira