Uberaba sempre foi uma cidade boêmia. Bem ou mal o fato que arrebanhou essa fama e quem tem fama dorme na cama… Orlando Ferreira (Doca), no seu livro “Terra Madrasta”, registrou o alto número de raparigas que circulava pela rua S.Miguel, bem como os passeios que faziam pelas ruas da cidade a fim de se mostrarem aos ricos e poderosos da santa terrinha. Cassinos proliferam em todos os cantos da cidade. Homens abastados , fazendeiros endinheirados e jovens filhos dos ricaços da terra, endoidavam com tantas a apetitosas mulheres…O cabaré “Brasil”, do casal Paulo e Negrinha, era o ponto de encontro da rua S.Miguel. Jovens vindas do Rio de Janeiro, S.Paulo, Goiânia, Rio Verde, Jataí, Ribeirão Preto, S.José do Rio Preto e alhures, para Uberaba “fazer a vida”. Inquilinas bem vestidas, borrocadas de batom, perfume que exalava à distancia, as pensões da Isolina,Negrinha, Sudária, Nena, tia Moça, Tubertina e outras menos votadas, tão logo ouviam os acordes da orquestra do Aresky Cordeiro, no “Brasil”, atravessavam a rua à mostrarem-se para a homaiada que lotava a casa de diversão.Belas pernas torneadas, sapato alto, vestidos que não cobriam os joelhos, decotes generosos e seios que quase saltavam dos sutiãs, cabelos loiros ou morenos nos ombros caídos, desfilavam pelo salão à procura da “caça” preferida. No palco, rebolando a não mais poder, os primeiros travestis conhecidos( veados mesmo)que trabalhavam na zona: o crioulo Birinha e Diquinha , peruca loira, a cantar “Babalú….Babalú..aiê…Festa que varava madrugada.
Dentre os frequentadores, Cecilio Varela (nome fictício…),fazia sucesso. Altão, bem apessoado, brilhantina nos cabelos, camisa de seda pura, calça de linho, sapato engraxado, era o chamado “bom partido”.”Bom de bolso”, fartava-se de bebidas finas e sempre acompanhado das mulheres mais bonitas do pedaço…Porém (tem sempre um porém nas nossas vidas…), tinha um costume estranho. Naquela época (anos 50), pouco se falava em sexo oral. O Cecílio era adepto da prática. Adorava comida baiana, super apimentada. Seu costume maior quando se dirigia ao quarto da companheira, mastigava, com gosto,2 a 3 pimentas “malagueta”, sem que a parceira percebesse o gesto.À hora do “vamos ver”, a moça não se continha e começava a gritar, freneticamente, “ai, ai, ai”, um “ai” sofrido de dor, desespero, nunca prazer! Cecílio, se extasiava, ria de orelha a orelha, do sofrimento da pobre coitada.
A fama do rapaz extrapolou da zona para a cidade. Aquelas vitimas da tara do Cecílio, não contavam para as colegas e assim, ele fez a festa por muito tempo. Na rua S.Miguel. ganhou o “honroso” apelido de “língua de fogo”, pois, o que mais se ouvia delas, era o clamor:
-“Como tá de ardume a minha perereca”…
Luiz Gonzaga de Oliveira