quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

JOÃO MARTINS BORGES, A BREVE AVENTURA DE UM IMPORTADOR UBERABENSE NA ÍNDIA

João Martins Borges em foto do início do século XX. 




               João Martins Borges, a breve aventura de um importador uberabense na Índia
    João Martins Borges entrou para a história como um dos mais importantes nomes na importação das raças zebuínas, tanto pela abertura do mercado ao Brasil, no duro contexto do maior conflito bélico vivido pela humanidade até aquele momento – a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) -, quanto pela tragédia que culminou no seu inesperado falecimento na Índia em 1918. Apesar dos pesares, como mártir que foi em ocasião fortuita, esse pioneiro soube como tantos outros escrever o protagonismo no mármore do tempo.
   Os detalhes dos lugares visitados, das pessoas conhecidas, as dificuldades e as impressões das viagens percorridas ao longo de três expedições foram narrados com sensibilidade pelo viajante em cartas enviadas a compradores e familiares, além de diários e poesias exóticas. São relatos que descortinam aos olhos do leitor um mundo completamente novo, onde o estranhamento e o deslumbre sobre o desconhecido se confundem. Convém ressaltar que o foco do importador era, sobretudo, analisar a qualidade dos animais e avaliar as experiências da pecuária indiana, além de aprimorar as condições favoráveis aos ventos propícios ao agronegócio no exterior. Em 1914, o jovem filho do fazendeiro Cel. Joaquim Martins Borges, resolveu ir à Índia com a finalidade exclusiva de comprar gado zebu. O resultado do empreendimento realizado em sociedade com o pecuarista José Caetano Borges foi muito bem sucedido. Chegaram a Uberaba cerca de 80 animais importados, aproximadamente. No ano seguinte, retornou ao distante e exótico continente sem conseguir, contudo, regressar ao Brasil trazendo algum exemplar. A frustração se deu, em parte, devido às dificuldades de manter navegação em mares outrora considerados “belicosos”.
    Convictos de que poderiam superar a crise, planejaram retornar mais uma vez à longínqua Índia em 1917. Na ocasião, João Martins Borges faria o trajeto acompanhado de seu irmão mais jovem, Virmondes Martins Borges, e do primo Otaviano Borges Júnior. Em 15 de agosto daquele mesmo ano, os três mineiros seguiram para o Rio de Janeiro a fim de tomar o vapor que os levaria à Europa, apesar dos riscos.
    O trabalho de seleção de compra de guzerá iniciou-se de forma muito proveitosa. Várias regiões foram visitadas, ficando os detalhes criteriosamente avaliados para escolha dos animais. Entretanto, no contexto da guerra, as dificuldades nas transações foram inúmeras. Não raro, o dinheiro que o grupo necessitava para as despesas demandava tempo e paciência para chegar. Os importadores enfrentaram adversidades a mais, pois a colônia britânica impunha medidas administrativas que afetavam os meios de transportes e infligiam embaraços permanentes à exportação do gado.
    Para aliviar os trâmites e acessar os recursos enviados às agências bancárias britânicas na Índia, João Martins Borges viajou até Calcutá, quando o destino concedeu-lhe pena indecorosa – em apenas cinco dias adoeceu gravemente, falecendo em 19 de maio de 1918, aos 27 anos, em um quarto do Hotel Continental. Avisados sobre o fortuito, irmão e primo rumaram à cidade e providenciaram o enterro no “Christian Cemetery”. Houve a necessidade de adequar-se às burocracias dos termos o quanto antes, fazendo com que Virmondes e Otaviano permanecessem no continente por dois longos e duros anos.
   Em 1975, com apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a ABCZ solicitou o translado dos restos mortais de João Martins Borges para o cemitério São João Batista em Uberaba com o intuito de render-lhe as homenagens merecidas diante protagonismo exercido em contribuição à pujante trajetória da pecuária zebuína no Brasil.
Museu do Zebu