quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

EXPOSIÇÃO – PRADO DE SÃO BENEDITO

 Prado de São Benedito  em 1911


  
Sobre o Zebu em Uberaba
“No derradeiro quartel do século XIX, o Brasil Central, debatendo-se contra a degenerescência da sua pecuária bovina, lançou mão de reprodutores bovinos de todas as raças que em outros centros do país iam chegando. Mas, o resultado foi negativo. Os criadores do Brasil Central sem um minuto de desfalecimento, lançaram mão da raça zebu que veio, de uma vez, resolver a questão, mau grado a terrível campanha que os criadores paulistas, mineiros e outros fizeram e muitos ainda hoje fazem. E a luta vem de longe. Foi em 1875 que se introduziram, no Triângulo, os primeiros exemplares de gado de raça zebu. O major José Inácio de Melo França, natural de Desemboque, adiantado criador e proprietário da fazenda Santa Rosa do Rochedo, município de Jataí, Estado de Goiás, falecido a 7 de setembro de 1929, asseverou-me que, em 1875, se achando no Rio de Janeiro, fora passear em Santa Cruz, e aí comprara. diversos reprodutores bovinos de raça zebu que trouxera para o município de Uberaba. Eram exemplares da variedade “Nelore” e os primeiros daquela raça aqui introduzidos.
[…] Em princípios de 1889, o major Ernesto da Silva e Oliveira, achando-se em Porto Novo do Cunha, aonde fora a negócios de gado, aí viu uma raça de bovinos que lhe chamou a atenção pela originalidade do seu todo. Eram exemplares da raça zebu que ali já se criavam de longa data. Desse gado comprou dois touros que trouxe embarcados até Três Corações e daí por terra, até Uberaba.Em viagem para Uberaba, conduzindo aqueles touros, o major Ernesto da Silva e Oliveira, encontrou-se com o sr. Antônio Fontoura Cachucha, que se mostrou bastante interessado na aquisição de alguns exemplares daqueles bovinos.
Ciente da sua procedência, dirigiu-se a Porto Novo do Cunha, às fazendas dos senhores Marcondes e dr. Lontra, dos quais comprou sete novilhos que trouxe e vendeu, neste município, a diversos fazendeiros, maior parte dos quais membros da família Rodrigues da Cunha. Anteanimados com a superioridade do zebu, na regeneração do nosso gado bovino, foi que distintos criadores deste município voltaram, com interesse, as suas vistas para esse gado.
Efetivamente, pouco depois, questão de meses, partiu de Uberaba, com destino a Porto Novo, o coronel Teófilo Rodrigues da Cunha, onde adquiriu e trouxe para a sua fazenda Gengibre, a quarta partida de reprodutores zebu introduzida no Triângulo.
Vendendo bem a sua primeira leva, o sr. Cachucha aconselhou ao major Ernesto da Silva e Oliveira a continuar no mesmo ramo de negócio, por ser de primeira ordem.
Este conselho fê-lo voltar ao Rio de Janeiro, para a aquisição da quinta leva de gado zebu que para aqui veio e vendeu a diversos fazendeiros do município, a conto de réis e mais, por cabeça.
Dos dez exemplares de que se compunha esta partida, um foi vendido ao capitão Antônio Borges de Araújo, e foi ele o primeiro touro de raça indiana que entrou para os campos de sua extensa propriedade pastoril.
A sexta leva de reprodutores da raça em apreço foi trazida, ainda de Porto Novo, pelo capitão Joaquim Veloso de Rezende, para os capitães José e Antônio Borges de Araújo. Compunha-se de 4 cabeças, sendo dois touros e uma novilha puros e um garrote de 3/4 de sangue, chegado em Uberaba no dia 29 de novembro de 1889. Este gado foi o primeiro de tipos puros, de grandes orelhas. Um dos touros era o célebre Lontra, cujo proprietário, capitão Antônio Borges de Araújo, por ele rejeitara, naqueles bons tempos, a gorda oferta de 42 contos de réis! Muitas outras importações se fizeram depois do capitão Joaquim Veloso até que, em 1893, o coronel Teófilo de Godói, de Araguari, por encargo de diversos criadores do município de Uberaba, foi à Índia, de onde trouxe, diretamente, a primeira leva de gado zebu importado. Depois dessa algumas dezenas de levas ainda foram trazidas de Porto Novo e outros lugares do Rio de Janeiro para criadores de Uberaba (1891-1905).
De 1905 a 1921, cerca de 40 levas foram ainda importadas das índias por criadores de Uberaba, representando outras tantas centenas de cabeças de bovinos a dois contos de réis e mais por unidade.
Hoje – está demonstrado – Uberaba possui melhor gado zebu que a própria Índia.
Neste município, o zebu importado encontrou um meio no qual se acha melhor do que no país de onde é originário. A rês, aqui, tem outro aspecto: maior peso, elegância das linhas do corpo, mansidão etc.
Daí formou-se uma raça zebu nacional a que já se deu o nome de Indubrasil, devidamente registrada pelo Herd-Book Zebu de Uberaba de que foi instituidor, há anos, o saudoso dr. José Maria dos Reis.
A criação faz-se pelo sistema extensivo. Daí o não haver, no município, a criação estabulada e sim a semi-estabulada para o gado zebu.
Há três espécies de criadores: o que cria o gado de raça fina para reprodutor; o que cria o gado para o talho e o que se incumbe da era de garrotes para qualquer dos dois fins.
No distrito da cidade há três banheiros carrapaticidas.
Os males que flagelam os rebanhos locais são a diarréia ou pneumo-enterite dos bezerros, a peste da manqueira ou carbúnculo sintomático e o carbúnculo hemático, nos bovinos de sobreano a menos, e o hog-cólera ou batedeira dos leitões, males estes que se curam uns e se previnem outros com o emprego de soros e vacinas anti-carbunculosas.
Na pecuária bovina o sangue zebu substituiu, inteiramente, o sangue das raças antigas do país: china, pedreira, caracu etc.
Hoje, só há predominância das raças indianas: Guzerá, Gir e Nelore […].”
(PONTES, 1978)