Dom Benedicto de Ulhôa Vieira |
Nomeação para Arcebispo de Uberaba-MG.
Dom Benedito foi ordenado sacerdote há 64 anos, em 8 de Dezembro de 1948, e foi sagrado Bispo Auxiliar de São Paulo em 25 de Janeiro de 1972. Foi eleito Arcebispo de Uberaba em 1978: “Paulo Bispo, Servo dos Servos de Deus ao Venerável irmão Benedito de Ulhoa Vieira, […] Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo no Brasil, eleito Arcebispo de Uberaba, […] Dado em Roma, no dia 14 de julho do ano do Senhor 1978. Paulo VI”.
Dias depois (22 de julho de 1978), o Jornal “O São Paulo” publicou um artigo comentando a atuação de Dom Benedito como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. Naquele texto, Dom Paulo Evaristo Arns afirmou: “[…] de início – Bispo Auxiliar – eram os hospitais, as crianças e os jovens que levavam o nome do Padre Benedito para todas as casas. Depois, foi a vez das Faculdades e da Universidade a receber o entusiasmo e a dedicação do jovem Monsenhor Doutor em Teologia e Licenciado em Letras […]. Era orgulho poder chamar ao Padre Monsenhor ou Bispo Benedito, pelo título de amigo”.
Em sua posse, no dia 14 de setembro de 1978, com a presença do Núncio Apostólico Carmine Rocco, do Cardeal Paulo Evaristo Arns e de 20 outros bispos, Dom Benedito se apresentou: “Dirijo-me à Igreja de Deus que está em Uberaba. Se me perguntardes – quem sou, da parte de quem venho, com que títulos – responder-vos-ei: sou apóstolo do Evangelho; vou em nome do Senhor Jesus; tenho o nobre título de servidor dos meus irmãos …”. Em 26 de Agosto de 1979 recebeu das mãos de Dom Carmine Rocco, Núncio Apostólico, o pálio de Arcebispo, concedido pelo Papa João Paulo II.
O que supervisiona = o epíscopo, o bispo.
A palavra bispo vem do grego “epi+scopo” = sobre + observar, supervisionar.
Dom Benedicto observava sempre sorrindo e corrigia amando, adotando o mesmo método pastoral em todos os 18 anos de episcopado em Uberaba.
Toda Diocese tem seu Livro de Tombo, registrando as iniciativas pastorais e relatando os principais acontecimentos de seu tempo. À partir de 1978, Dom Benedicto fez registros semanais de seu governo pastoral. Também escrevia artigos para jornais da cidade. Em seu primeiro ano na Arquidiocese, recebeu 83 pessoas em audiência particular e despachou 82 cartas respondendo a solicitações de praxe. Além disso, Dom Benedicto sabia dar demonstrações de atenção e zelo ao clero.
Desde o início ele recomendou atenção às homilias nas Missas e o zelo pelas vocações sacerdotais, e sabiamente sentenciou: “A melhor propaganda é viver o sacerdócio de tal maneira que desperte vocações”.
Ainda em 1978, anunciou seu desejo de criar aqui mais 4 Paróquias: Ressurreição, Santa Maria Mãe da Igreja, São Judas e São José Operário.
Em 19 de março de 1979 reabriu o Seminário São José, mesmo com um seminarista iniciando seus estudos e outro em prosseguimento do Curso de Teologia. Meses depois idealizou a criação de uma Diocese em Ituiutaba-MG. E no final daquele ano, aconselhou a reorganização do dízimo.
Em fins de 1979, houve politização nas Comunidades Eclesiais de Base. A determinação de Dom Benedicto foi clara: “Fica proibido, de hoje em diante, nesta Arquidiocese qualquer vinculação civil de comunidades, capela, paróquia, associação religiosa ou grupos de pastoral ambiental”.
Tese de doutorado em Teologia.
Em grego, “sotérios” significa a salvação cristã. Soteriologia é o estudo da salvação humana. Antes de ser consagrado bispo, Dom Benedicto dissertou sobre Teologia Sistemática com ênfase à Teologia Patrística, que contém a doutrina dos primeiros grandes homens da Igreja do século II ao IV, trata de nossa salvação através dos infinitos méritos de Cristo Redentor. “A consumação soteriológica na Epístola aos Hebreus: Teologia de São João Crisóstomo”, foi a tese defendida em 5 de março de 1954, e lhe conferiu o título de Doutor em Teologia, no Seminário de São Paulo.
“Consumar significa conseguir mediante os sofrimentos, as duas finalidades impostas a Cristo pelo Pai: salvar os homens e ser exaltado com a ressurreição e a ascensão. A consumação cristológica passiva é pois a consumação sacerdotal de Cristo em ordem à sua missão soteriológica”.
Dom Benedito sempre se dedicou a entender bem a Bíblia, o Evangelho, a Apostólica Igreja de Cristo, o Apostolado, a Evangelização, e sobretudo entender bem que ser Bispo exclusivamente é ser servidor consagrado sacramentalmente para um eclesial ministério, em sua plenitude sacerdotal, exercido em favor dos que creem em Jesus Cristo Redentor e Instituidor de uma Comunidade Eclesial de fé que consiga perpetuar-se até o fim dos tempos. (Marcos 16, 8 – 20)
Valorizando os laços familiares, em seus abençoados 92 anos.
Entrevistado, ainda com boa lucidez, fez questão que se publicasse esta despedida: “Minha maior alegria na vida foi ser padre; a segunda alegria foi ter ordenado 32 padres em Uberaba e uns 8 mais e desde 8 anos ter querido ser padre. E sou padre, por causa de minha família. Minha mãe sempre esperava meu pai à tarde e quando ele chegava em casa, minha mãe puxava o terço em família, todos os dias. A N. S. Aparecida. Aos 7 anos assisti um milagre em família. Minha irmã Zirza, 3 anos mais velha que eu, era doente. Só andava com duas muletas. No momento em que minha mãe nos contava o milagre de Aparecida, o do escravo acorrentado que ficou livre das correntes de seus dois braços, minha irmã Zirga, jogou ao chão as muletas e parou de pé. Minha mãe gritou: “Vai cair”. E Zirga exclamou resoluta: “Mamãe, não vou cair. Eu também posso ser livre das muletas. Sinto que posso andar”. E, até morrer, Zirza andou sem muletas. Não foi por isso que fiquei padre. Antes disso já queria e tinha devoção a Nossa Senhora”.
Carlos Pedroso
Historiador