Foto Paulo Cury |
*Luiz Gonzaga de Oliveira
Trem de passageiros operado pela Fepasa entre as cidades de Campinas e Araguari (MG), a partir de 1979. A última viagem desse trem foi em 10 de setembro de 1997, quando ele já seguia apenas até Uberlândia.
A ex-Fepasa, antiga Mojiana, dos meus velhos e saudosos tempos da mocidade, acabou com o trem de passageiros para Uberaba e “adjacências”. “Adjacências” a que me refiro cresceram mais que a santa terrinha, Ribeirão Preto e Uberlândia, sem esquecer Araguari e outras cidades do interior paulista. Sempre que se falava das regiões divididas de São Paulo, destacavam-se a Paulista, Noroeste, Araraquarense e a nossa conhecida Mojiana, que trilhava de Campinas às barrancas do rio Grande , na estação de Coronel Quito. Em Minas, sempre tivemos o Triângulo Mineiro, zona da Mata, Vale do Aço, Vale do Jequitinhonha, Vale do Rio Doce, Norte, Nordeste, Noroeste, além do sul e sudeste do estado. A estrada de ferro era o grande elo, a formidável e forte ligação dos brasileiros, interligando a outras regiões do país.A linha férrea era superior ao sistema rodoviário e infinitamente mais prático que as rotas aéreas. O trem de carga ou de passageiro, era o grande condutor das riquezas, cargas e pessoas de todas as idades, classe ou categoria social. “Viajar” de trem era o grande sonho de toda criança como é, hoje, visitar a Disneylândia…
Com a implantação das rodovias, o asfalto, as fábricas de automóveis e caminhões, tornou-se obsoleto o transporte ferroviário. É como o burro de carga que, depois de trabalhar a vida inteira, o dono o despreza e o deixa morrer num canto qualquer da fazenda onde, um dia, foi peça importante. O brasileiro como sempre sem memória, ignorou a ferrovia, o mais usual meio de transporte de países civilizados, berço da humanidade, da cultura, história e progresso. Na Europa ( presenciei e usei, recentemente, em Portugal, Espanha e França), é o meio principal , o mais usado, o mais turístico, cômodo, rápido e seguro e vagões altamente confortáveis e uma pontualidade chegada e saída, de fazer inveja ao nosso avacalhado costume dos horários incertos… Viajar no “trem bala”, no Japão, é privilégio de poucos…
No Brasil, acabaram com o trem de passageiros que, na minha infância, chamávamos de “P”, de primeira ou segunda classe, carro-restaurante, além do trem “misto” a transportar cargas e gente. O progresso desse nosso Triângulo, ainda chamado de mineiro, aconteceu graças a chegada dos trilhos da estrada de ferro. Primeiro em Uberaba, depois nas “adjacências” e cruzou o rio Paranaíba, ganhando o estado de Goiás e Brasília, a nossa capital federal. Com o estrábico argumento de que “dá prejuízo” carregar passageiros de Brasília à São Paulo, escalas em Uberaba e Ribeirão Preto, berços da civilização do planalto central, desativaram a Mojiana. Motivo de honrosas glórias e múltiplas vitórias conquistadas pela santa terrinha…
O mais triste, penoso, incompreensível e lamentável da perda irreparável é que ninguém, autoridades, políticos, lideranças empresariais e classistas , nada, “nadica de nada”, moveram uma palha sequer à protestar pelo absurdo cometido. Em nome da modernidade, rapidez de transporte, da pressa que “anda”o mundo, mundo do terceiro mundo, mundo dos analfabetos, corruptos e mendigos, bocas e línguas afiadas , silenciaram-se covardemente.
Pasmem ! Em Uberaba tivemos que ouvir e ler que “ as autoridades uberabenses gostaram da medida, pois assim, diminuíram o n[úmero de pedintes de esmolas que aportavam em nossa cidade pela estação da Fepasa, antiga Mojiana.”.. Seria tragicômico se não fosse ridículo e estúpido essas pessoas que falaram em nome do progresso de Uberaba…
A partir de amanhã, entro em recesso. Espero voltar no inicio de julho. Minha eterna gratidão a vocês que tão bondosamente me acompanharam. Sou-lhes eternamente grato. “M.C.”