Alfeu Aparecido de Souza |
Uberaba, 24 de dezembro de 1957, Avenida Leopoldino de Oliveira. Já passavam das sete horas da noite, quando dois homens bem vestidos, caminharam até o ponto de táxi. Dentre os taxistas, Alfeu Aparecido de Souza se predispôs a fazer a corrida, até então com destino desconhecido. Não passava pela sua cabeça que aquela seria a sua última viagem.
Hoje, após mais de 40 anos de sua morte, ele continua sendo lembrado por muitas pessoas no dia de finados. Avenida Leopoldino de Oliveira coveiro do cemitério São João Batista, afirma que o túmulo do taxista é o mais visitado pelos uberabenses.
Companheiro de Profissão
Seu amigo José da Silva conta que quando criança, trabalharam juntos lavando carros, engraxando sapatos e vendendo jornais. Lembra emocionado que na época em que ele morreu, um dia antes, estiveram juntos.
José Ubaldo Costa, trabalha há 62 anos como taxista em Uberaba. Ele conta como o caso aconteceu: Era pouco mais de sete horas da noite e Alfeu saiu com os dois passageiros para levar lá perto de Aramina (SP). Quando chegou no destino, os dois homens o amarraram, colocando-lhe no porta-malas. Os assaltantes retornaram a Uberaba e perto do aeroporto pegaram algumas vasilhas com gasolina, que estavam guardadas numa casa perto do estabelecimento comercial do Dodô e foram embora.
Ao voltar a Aramina, a dupla entrou num corredor para trocar de carro. Quando iam abastecê-lo, Alfeu reagiu e entram em luta. Foi quando recebeu os tiros. Mesmo assim, Alfeu correu e como estava à noite, acabou preso numa cerca de arame. Os assaltantes lhe alcançaram e deram punhaladas até ele morrer. Em seguida, arrastaram o corpo e cobriram com o capim.
Mas, como não existe crime perfeito, os homicidas deixaram jogadas várias identidades falsas no local. Numa delas tinha o nome de Elias Tosta. A notícia chegou ainda à noite em Uberaba e os taxistas se organizaram e iniciaram as buscas. Com a ajuda da comunidade, a polícia começou a procura do corpo e dos assassinos.
Natal
No dia 25 de dezembro, um vaqueiro estava passando perto do lugar onde tinha acontecido o crime, quando encontrou o cadáver e avisou a polícia. Isso já era duas horas da tarde. O taxista José Ubaldo e alguns amigos já estavam em Planura, quando souberam da notícia e voltaram a Uberaba para o funeral. Mas, as buscas aos assaltantes não pararam.
José Ubaldo conta que tiveram informações de Elias perto de Planura, na venda do Manoel da Rita. O comerciante dá pistas que um rapaz havia comprado cigarros de uma marca diferente daquelas consumidas pelos freguêses. “Nós deixamos uma turma de taxistas junto com ele e fomos para Iturama, para cercá-los na ponte de Barretos”, narra.
Cigarro dá a pista
Nesse intervalo, por volta das quatro horas da tarde, um morador avisa que um homem desconhecido vinha jantar há uns três dias no estabelecimento. Estava bem vestido, de meia e sapato fino, mas estava escondido nas margens do córrego. Um policial e um taxista resolveram checar a pista.
“Quando deu sete horas da noite, a porteira bateu. Elias chegou e começou a ficar desconfiado. Aí, o homem mandou ele entrar. Quando o Elias sentou, a polícia chegou e pegou ele na hora. O policial lutou com ele e conseguiu tomar seu revólver”, explica José Ubaldo. O homicida foi, em seguida, enviado para Belo Horizonte.
O mecânico
Passados uns seis dias, surgiu uma pista do comparsa de Elias, numa oficina perto de Viracopos, em São Paulo. Com a pressão, o mecânico revelou que o segundo assassino chamava-se Antônio. Eles haviam estados juntos em Santana, na divisa com o estado do Mato Grosso.
Antônio estava trabalhando numa fazenda. Dois soldados a paisana e oito motoristas de táxi seguiram para o local. “Inicialmente, o dono da fazenda não deixou nós entrar, mas quando soube da crueldade do assassinato de Alfeu liberou a entrada dos policiais, que não tiveram maiores dificuldades para prendê-lo”, disse José Ubaldo.
O taxista lembra que Alfeu foi o primeiro choffer assassinado em Uberaba, sua morte repercutiu. Na época, a associação dos taxistas não deixou o assassinato ficar impune.
Hoje, passados mais de 40 anos, existem pessoas que pedem para Alfeu interceder por elas na conquista de graças. “Tudo que peço a ele, eu consigo”, salienta a dona de casa Luzia Cunha Damasceno.
André Texeira Nunes
Ronay Crisóstomo