Continuo com o meu “baú de recordações” de Uberaba. A terrinha sempre foi pródiga em histórias, causos e lendas. O trecho da Leopoldino entre a Artur Machado à Segismundo Mendes, então… Uma passagem engraçada aconteceu no “Buraco da Onça”. Os irmãos Jeovah e Toninho Ferreira, o “Buqueta” (favor não confundir…)negociaram o bar com o saudoso e sempre simpático Romeu Ribeiro de Almeida. Alegre, solícito e prestativo, suportava bem os alguns “chatos” que freqüentam o bar (moleque ainda, o “Cebola” já ajudava o pai ). Só vendia balas, chicletes e outras guloseimas para quem ia assistir filme no “Metrópole”, na parte interna na sala de espera do cinema. A parte externa, o atendimento era normal. Dentre os fregueses assíduos, o musculoso lutador de artes marciais, Delo Gaona de Almeida, depois professor e dona de sauna. Gaona, ganhou na Loteria Federal uma “bolada”, diziam. O vendedor do bilhete, um jovem de baixa estatura, José Azevedo. Pela estatura e corpo frágil, ganhou logo apelido:”Zé Gigante”. Sempre limpinho, chapéu de aba curta, carregava, costumeiramente, um saco às costas contendo biscoitos de sal, maisena e polvilho. Não o largava em nenhuma hipótese. A “cervejada” do Gaona com os amigos, foi na rua São Miguel, claro ! “Zé Gigante” se rejubilava com a gorjeta recebida e contava para os seus outros fregueses, que a “grana tava morando no bolso do Gaona”…
Gozadores de “plantão” não faltam nos botecos da vida. Diziam que o “largo” do Gaona dera pouca recompensa ao pobre do “Zé Gigante”, que era “munheca”, “pão duro”, “mão fechada” e outros pejorativos mais. Gaona, não gostou da brincadeira. “Zé Gigante”, como de costume, naquela manhã de abril, num sábado, meio-dia, sol a pino, calor causticante, chega ao “Buraco da Onça”. Sorvia , calmamente, seu refrigerante , quando entra, pé ante pé, o “sortudo” Gaona e dá-lhe um apertado abraço pelas costas. Voz grossa e forte, anuncia:
-“E aí, Zé, cê tá espalhando que eu não lhe dei a gorgeta da Loteria, né?”.
“Zé Gigante”, assustado, chorando começa a gritar :” me larga, me larga, me larga, você quebrou, você quebrou”. Gaona, ao ouvir o estalo no franzino corpo do “Zé Gigante”, parou. Devagarinho, devagarinho, foi “soltando o Gigante” no chão e, aflito, perguntou:
-“Zezinho, desculpa eu… não queria… onde quebrou?”
Ele, livre do abraço do tamanduá, limpando as lágrimas que lhe caiam no rosto, olhar meigo, delicadamente para todos que estavam no bar, ouvissem, tristemente falou:
“-Seo Gaona, o senhor quebrou “tudinho” os biscoitos que eu custei prá comprar”..
Delo Gaona de Ameida, de saudosa memória, além de ter dado uma nova e “gorda gorgeta” ao “Zé Gigante”, presenteou-lhe com dois enormes sacos de biscoitos…
Luiz Gonzaga de Oliveira