Semana de finados, os assuntos são áridos. A história nos obriga a contá-los. De forma isenta. Hoje, quando se assiste os participa de sepultamentos pomposos, de gente importante, flores e mais flores no carro fúnebre, sirenes abertas e muitas outras inovações para se prestar a um morto ilustre, querido, muito pouco se sabe como eram realizados, no começo do século passado, os enterros na santa terrinha...Evidente que os sepultamentos de outrora eram completamente diferentes do que se vê atualmente.
Se familiares do doente pressentissem que a morte rondava o ente querido, logo providenciavam fosse levado ao enfermo, o “viático”- nada mais que a “extrema-unção” adotada pela Igreja Católica e prática não mais realizada nos dias atuais . Voltemos ao “viático”, a parte triste daquele rito religioso. O padre saia da igreja debaixo de um pequeno “pálio”, uma cobertura de pano segurada por 4 fiéis , acompanhado de um grupo de “coroinhas” e os católicos atrás do cortejo. Toda vez que soava uma campainha, o séquito parava, todos se ajoelhavam , rezavam e seguiam para a casa o doente. No trajeto, os fiéis a começar pelo padre, cantavam:-“Bendito! louvado seja, o Santíssimo Sacramento”. Na casa do doente, não era para menos, a choradeira era geral. Lágrimas a cântaros.
O momento da chegada do sacerdote com a “extrema-unção” ou também chamada “sagrada comunhão”, era de enorme tristeza. O padre, a hóstia, o doente na cama, familiares ao redor, transformava-se em choro convulsivo.
O sacerdote retornava à Igreja , cumprindo o mesmo ritual de ida. O doente falecia, os sinos da Igreja a que ele pertencia começavam a badalar , anunciando o seu passamento. O corpo do morto era “encomendado”, isto é, recebia a “água benta” em casa ,passava na Igreja e, no cemitério, recebia as últimas exéquias.
O enterro de pessoas abastadas (ricas)normalmente era acompanhado pela banda de música da cidade que durante o percurso, executava a “marcha fúnebre” e outras músicas religiosas.Não existiam os carros funerários , o caixão era conduzido nas mãos dos parentes e amigos que se revezavam no trajeto. Só muito tempo depois de inaugurado o cemitério do “Brejinho”, apareceram os cochos fúnebres (caixões dos homens eram pretos, marrons ou roxos; das mulheres e crianças, normalmente brancos).
Os defuntos mais humildes , os chamados pobres, eram conduzidos ao cemitério num monstrengo chamado “bererê”, urna parecida com um gavetão e puxada por um só cavalo.
“Bererê”, convencionou-se mais tarde ser um carro dos anos 20, aberto os 4 lados e coberto por cima. Muito feio... de aspecto horrível !
Como se vê, já naquela época , infelizmente, existia distinção social até para morrer ...
Amanhã, relembro os cemitérios da terrinha.
Luiz Gonzaga de Oliveira