Pratinha |
Levanto cedo. Seis da manhã, estou aceso. Roupa trocada.
Rosto lavado e destes escovados. Samos, Wania e eu, para a costumeira e
saudável caminha matinal. Praça da Mojiana, o destino.Há mais de 20 anos. Ainda
encontro, quase todos os dias, bêbados que vararam a madrugada, moradores de
rua dormindo na platibanda da estação e os costumeiros companheiros de
caminhada. Sábado e domingo, não.
Quase sempre vou pra roça ouvir o canto dos pássaros, o
mugir do gado, o piar das siriemas , o cacarejar das galinhas e o sonoro cantar
do único galo do terreiro. Aliado a tudo isso uma moda de viola da raiz, Tião
Carrero e Pardinho, Chitãozinho e Xororó, Tonico e Tinoco, Rolando Boldrin, Sérgio
Reis, Silveira e Barrinha, Lio e Léo e outros mais expoentes do gênero
sertanejo.O tempo passa. Rapidinho…
Hoje, levantei com vontade de ouvir rádio. Liguei numa,
evangélica. Outra, um barulhão “toc, toc, toc” e não entendia nada. Outra, o
noticiário falava em acidente, roubo,morte, arrombamento, assassinatos e outras
desgraças mais. Na outra, um noticiário local só de elogios à administração
municipal e na última AM que tentei, só propaganda… Sintonizei a FM. Outro
desprazer. Músicas da pior qualidade dessas “sertacamas” modernas… Mudo o dial,
a oração de S. Francisco. Insisto, aí vem uma mensagem de um locutor otimista.
Quase na “ponta”, uma universitária e músicas de gosto duvidoso. Desliguei o
rádio. Pesaroso.
Fiquei a pensar com meus botões: ”cadê a música boa?” A
verdadeira música popular brasileira? Cadê as músicas com sentido e cantores de
voz afinada? Será que tudo acabou?
Lembrei-me do Pratinha (Jorge Henrique Prata Soares) e o seu
“Festival do Chapadão”. Festivais memoráveis, diga-se, que não se ouve e nem vê
falar mais. Começou em 1968, durou 25 anos, com pequenos intervalos, mercê a
burrice de alguns prefeitos que não ajudavam o sonhador (além de competente)
Pratinha, na realização do festival.
Ah! foram anos inesquecíveis! Ataliba Guaritá Neto, o
Netinho, apresentou os três primeiros: 68, 69 e 70. Depois a voz bonita,
postura de grande apresentador, de Romeu Sérgio Meneghelo, médico conceituado
em S. Paulo. Em seguida, a elegância de Reinaldo Rodrigues, engenheiro por
esses Brasís afora…
As músicas? Letras de “babar” e que marcaram época.
“Sarrafo”, ganhou o Festival primeiro. Falava da morte do estudante Edson Luis,
no “Calabouço”, restaurante estudantil no Rio de Janeiro. A censura “bobeou”
com a letra e… pimba! Lembram-se do Pedro Ernesto, da Engenharia? Pois é, ele
foi o grande vencedor.
Em anos seguintes, vieram grandes “clássicos”que só não
foram tocados pelas rádios brasileiras pela incompetência, ignorância e falta
de conhecimento dos discotecários e donos de emissoras… Outra notável
composição vencedora: “Pirulito”, do Marival, contando e cantando a vida dos
vendedores da guloseima pelas ruas da cidade…
Outra, linda ! “Reencontro”, do Andre Luiz Borges Novaes,
músico exuberante. “De Metal”, de Paulo Edson e Xico Chaves (mais de duzentas
letras de músicas gravadas pelos principais cantores brasileiros).
Em 71, foi sensacional empate de três músicas: ”Mensagem”,
de Miguel Carlos, “Flores”, de Elias Jabour, de Jardinópolis e “Camila”,
interpretada pela Rosana Zaidan (filha do meu saudoso amigo João), de Ribeirão
Preto. Até 1993, o Festival do Chapadão monopolizou as atenções do meio
artístico interiorano.
Infelizmente, por falta de apoio, aconteceu um enorme espaço
de sua realização. Apenas mais uma vez, o Festival foi realizado em 2006. Não
mais.
O patrono, cujo nome foi dado ao troféu do vencedor, disse
no primeiro ano de sua realização, ter sido a mais gostosa homenagem que
poderia esperar:Joubert de Carvalho, um dos uberabenses mais ilustres que esta
santa terrinha viu nascer !
Hoje, para tristeza geral, ninguém sabe ou fala o que foi, o
que representou para Uberaba o Festival do Chapadão, o seu idealizador e
produtor, recentemente falecido em Uberlândia, Jorge Henrique Prata Soares, o
Pratinha, e – pasmem! – muito menos Joubert de Carvalho…
Luiz Gonzaga de
Oliveira