quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

“ESQUINA DO ENJEITEI” UBERABA


Depois do “banco do choro”, no outro lado da avenida Leopoldino, um ponto famoso marcou época na Uberaba de ontem. Hoje, esquina do “calçadão” com a avenida, ficava a “esquina do enjeitei”. E por quê “esquina do enjeitei?”Tentarei historiar um pouquinho daquele célebre “pedaço” de Uberaba, Dizem as boas e más línguas citadinas que a “esquina do enjeitei” surgiu na década de 40 do século passado, quando Uberaba vivia a fase sensacional, espetacular ( também especulativa…)e auge do zebu. Os fazendeiros, segundo a lenda, chegavam a dar banho de champanhe em seus animais de estimação, enfiar, goela abaixo, tabletes e mais tabletes de chocolates importados, dar “gorjetas” generosas para os engraxates de suas caras e lustrosas botas. Um engraxate, mais tarde meu amigo, Constantino, que tinha banca no “Café Uberaba”, ganhou tanta “gorjeta” engraxando sapatos e botas, que investiu o que ganhou, adquirindo bois menos selecionados, Na derrocada do zebu, perdeu até a banca…A “fazendeirama” elegeu aquela esquina para negociar e mascatear suas crias famosas, bem como fanfarronar as bravatas de “novos ricos” da cidade. Era usual ouvir-se naquele tempo, frases assim:
-“Oi, Zé, é verdade que ocê tá vendendo o “Príncipe”(nome do boi, naturalmente).
-“Tô, sô. Já enjeitei 500 contos nele. Num vendo”.
Daí a pouco chegava outro comprador interessado no reprodutor do Chico de Almeida e lançava a oferta:
“-Chico, to dando um milhão no Soberano. Ocê topa?”Chico de Almeida, dava uma estridente risada, volteava o corpo, pigarreava e repicava:
“-Que é isso, João? Já enjeitei um milhão e meio e nem deixei a conversa seguir, sô…”
E por aí afora, “enjeitei” de cá, “enjeitei” de lá, todos os que não tinham gado prá vender eram obrigados a conviver com o tal tipo de papo de esquina. A “fazendeirada” não gostava muito do apelido,mas, era inegável que o referencial colocado do indefectível “ enjeitei”, pegou como visgo. A esquina deixou de ser a do “Marabá” (bar existente no local) para ser a esquina do “enjeitei”. Ainda que o passar dos anos tenta apagar, a “esquina do enjeitei” jamais será esquecida. 

Luiz Gonzaga de Oliveira