Depois do “banco do choro”, no outro lado da avenida Leopoldino, um ponto famoso marcou época na Uberaba de ontem. Hoje, esquina do “calçadão” com a avenida, ficava a “esquina do enjeitei”. E por quê “esquina do enjeitei?”Tentarei historiar um pouquinho daquele célebre “pedaço” de Uberaba, Dizem as boas e más línguas citadinas que a “esquina do enjeitei” surgiu na década de 40 do século passado, quando Uberaba vivia a fase sensacional, espetacular ( também especulativa…)e auge do zebu. Os fazendeiros, segundo a lenda, chegavam a dar banho de champanhe em seus animais de estimação, enfiar, goela abaixo, tabletes e mais tabletes de chocolates importados, dar “gorjetas” generosas para os engraxates de suas caras e lustrosas botas. Um engraxate, mais tarde meu amigo, Constantino, que tinha banca no “Café Uberaba”, ganhou tanta “gorjeta” engraxando sapatos e botas, que investiu o que ganhou, adquirindo bois menos selecionados, Na derrocada do zebu, perdeu até a banca…A “fazendeirama” elegeu aquela esquina para negociar e mascatear suas crias famosas, bem como fanfarronar as bravatas de “novos ricos” da cidade. Era usual ouvir-se naquele tempo, frases assim:
-“Oi, Zé, é verdade que ocê tá vendendo o “Príncipe”(nome do boi, naturalmente).
-“Tô, sô. Já enjeitei 500 contos nele. Num vendo”.
Daí a pouco chegava outro comprador interessado no reprodutor do Chico de Almeida e lançava a oferta:
“-Chico, to dando um milhão no Soberano. Ocê topa?”Chico de Almeida, dava uma estridente risada, volteava o corpo, pigarreava e repicava:
“-Que é isso, João? Já enjeitei um milhão e meio e nem deixei a conversa seguir, sô…”
E por aí afora, “enjeitei” de cá, “enjeitei” de lá, todos os que não tinham gado prá vender eram obrigados a conviver com o tal tipo de papo de esquina. A “fazendeirada” não gostava muito do apelido,mas, era inegável que o referencial colocado do indefectível “ enjeitei”, pegou como visgo. A esquina deixou de ser a do “Marabá” (bar existente no local) para ser a esquina do “enjeitei”. Ainda que o passar dos anos tenta apagar, a “esquina do enjeitei” jamais será esquecida.
Luiz Gonzaga de Oliveira