A Funerária Pagliaro reinou sozinha no mercado uberabense até por volta de 1970, sempre com zelo e probidade. Aliás, até hoje, com novas empresas atuando no segmento, a credibilidade dos irmãos Pagliaro continua imutável.
Historiava-me o “Bilula” Pagliaro, remanescente último de Francisco Pagliaro na sociedade funerária, já falecido, como eram realizados os sepultamentos em décadas passadas. Por exemplo: os caixões ( hoje, urnas funerárias), brancos, invariavelmente , usados para distinguir crianças (“anjinhos” como eram conhecidos ) e moças que faleciam na “flor da idade”, ditas “virgens”. Em assim sendo, era fácil distinguir o defunto. Se adulto, homem, a cor do caixão era,normalmente, azul. Se o defunto, mulher, o caixão, por homenagem, branco. Já o caixão roxo, sabia-se, era usado para mulheres mais velhas, enquanto o caixão preto era para o homem mais entrado em idade. Essa tradição durou anos e anos e, só a partir de 1950 para cá, a prática foi se transformando.
Outro detalhe e que vale lembrar e contar é com relação as classes sociais dos caixões e seus respectivos defuntos ! Isso mesmo ! Não por culpa da funerária, mas, pela própria exigência do “mercado”, a divisão da categoria social do morto...
Os enterros, hoje com menor incidência, ontem mais acentuados, eram divididos conforme as posses financeiras da família do falecido. Defunto rico, era transportado no carro mais luxuoso da empresa; caixão de alças grandes, niqueladas, fechaduras prateadas , muito bonitas , dobradiças douradas, uma das chaves com um laço de fita amarrado, fita crepe para que a família pudesse guardar em casa , a chave do caixão... Mais: tinha pés de metais, tipo “garras de leão”... O enterro de “primeira classe” servia aos defuntos de família, senão muito abastada, mas que por circunstâncias, podia dar perfeitamente ao seu morto um sepultamento “digno”. O caixão “ de primeira” era forrado com seda pura por dentro e, por fora, enfeites de renda,chamada “renda-cristal”, importadas da França,Itália ou Inglaterra, dependendo naturalmente do”estoque” da funerária...
O caixão “ de segunda” era mais simples, embora o” modelo” fosse idêntico ao de “primeira classe”. A “diferença” era na confecção, pois as flanelas estampadas , estampadas não, pregadas, as cores eram ouro ou prata. No mais tinham alças grandes , niqueladas, fechadura e a chave que a família podia levar para casa...
Quanto aos enterros de “terceira classe”, serviam aos mais humildes e de menor poder aquisitivo. Alças muito simples e panos mais simples ainda...
Já àquela época, anos 30, a funerária e a exemplo do que acontece aos dias atuais, (todas elas) realiza sepultamentos às expensas do município, constatada a indigência do morto.
Luiz Gonzaga de Oliveira