sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

ACORDO É BOM QUANDO NÃO MUITO ALTO COMO URUBU OU MUITO BAIXO COMO TATU


Antigos pedidos começo a atender, hoje. Com a devida vênia do meu fraterno amigo, engenheiro, escritor e articulista, João Eurípedes Sabino, biógrafo do lendário Zote com um excelente livro que narra toda a trajetória empreendedora do empresário, atrevo-me a contar algumas histórias que não constam do bem elaborado livro do Sabino. São pequenos fatos que , ao vivo, participei. Irei rememorá-los em seis capítulos. Se não gostarem ou se interessarem, por favor, avisem-me.

José Formiga do Nascimento, que a cidade inteira respeitava e admirava pelo apelido Zote, foi um dos mais progressistas empresários da terrinha. Tivesse Uberaba uns dez ou mais Zotes, por certo, o nosso índice de crescimento seria outro. Zote foi o responsável pela criação das primeiras linhas sede ônibus interestaduais partindo de Uberaba para o centro-oeste e o Planalto Central – Brasília, como também para a “locomotiva do Brasil”, São Paulo. Suas empresas de ônibus, inicialmente o Nacional Expresso, mais tarde o Real Expresso, são atestado eloquente de sua capacidade de trabalho. O primeiro motel construído em Uberaba – com a verdadeira finalidade de motel – o pernoite para quem está em viagem e não o sentido pejorativo de hoje, Zote, há mais de 50 anos instalou ao lado posto de abastecimento, cuja finalidade jamais desvirtuou. Quando periclitava a única usina de açúcar e álcool do município, à beira da falência, a Usina Delta, foi convocado à salvá-la. E deu conta do desafio. Mais: os primeiros grandes canaviais do lado mineiro do rio Grande , quando forte era a Usina Junqueira e os canaviais paulistas , despontou Zote com o seu pioneirismo costumeiro a dar emprego a milhares de trabalhadores braçais da região. Esmerando na criação de gado leiteiro, Zote, sem o menor favor, tornou-se um dos maiores pecuaristas da redondeza. Já o lado folclórico do nosso personagem é vastíssimo. Zote nunca “ligou” para a aparência pessoal. Sua simplicidade no vestir, calçar, falar e andar, via nele uma figura “caipira” de Monteiro Lobato. Zote, porém, era um “caipira” moderno, trabalhador, sem preguiça, empreendedor que engrandeceu a Pátria e a cidade que viveu e a fez progredir. Ainda vivo, construiu, sem nenhum recurso oficial, o “Hotel Del Rey”, sua menina dos olhos.

Voltemos ao lado folclórico: bonachão, “mineirinho esperto”, Zote tinha aversão que seus carros, caminhonetes, fossem lavados ou lubrificados, gostar de rodar neles enquanto duravam. Depois, bem… depois “ia para o cemitério dos carros usados do Zote”, ao lado do motel e posto que tem o seu nome na BR-050. Certa ocasião, um empregado novato, não sabendo das manias do patrão, tão logo ele encostou a caminhonete ao lado posto, tratou de lavá-la, lubrificá-la com o maior carinho, certo que estava agradando, “em cheio”, o patrão. Qual não foi a sua surpresa quando, no outro dia, recebeu o aviso de dispensa. Atônito, atordoado, tentou falar com Zote. Em vão, Zote não quis atendê-lo. Insistiu. Outra negativa. Não desanimou, pela madrugadinha, encontrou-o de saída para uma das suas fazendas. Não deixou por menos : – “Seo”Zote, pelo amor de Deus, tenho família, preciso desse emprego, dê-me uma nova chance. Não vou mais lavar a caminhonete, ela vai ficar do jeito que o senhor gosta”…chegando às lágrimas . Zote, coração tamanho do Pão de Açúcar, penalizado com o pedido do rapaz, sorriso maroto, bem ao seu feitio, respondeu:

-“Meu filho, não lhe dispensei por causa da lavagem do carro, não. O seu erro foi matar o grilo que morava atrás do banco e ficava cantando toda vez que eu cochilava lá na roça. Onde é que eu vou arranjar outro grilo afinado igual aquele, sô?”




Marques do Cassú