A Lucidez Intelectual
Formação
Paulo Vicente de Sousa Lima, nasceu na cidade de Sacramento, na região do Triângulo, em 1927, falecendo em Brasília em 2006.
Cursou e concluiu o antigo curso primário em Sacramento, o ginasial no colégio Marista Diocesano de Uberaba, o colegial em São Paulo, diplomando-se em Ciências Contábeis e Atuariais em Belo Horizonte na faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, possivelmente a única, na ocasião, a oferecer no Brasil o curso de Ciências Atuariais. Na capital mineira ainda permaneceu por um ano, lecionando na faculdade pela qual se diplomou.
Paulo Sousa Lima
Pertenceu, quando estudante em São Paulo e Belo Horizonte, ao grupo Polígono, composto de estudantes uberabenses nessas cidades e destinado a estudos e debates de problemas contemporâneos.
Atividades Profissionais em Uberaba
Comércio
Em 1950 estabeleceu-se em Uberaba, dedicando-se à administração das fazendas e loteamento da família, fundado em 1959 e dirigindo a Companhia Mercantil Rio Grande, localizada no quinto quarteirão da rua Artur Machado, no antigo nº 118, especializada no comércio de roupas e perfumarias, à frente da qual ficou até 1970, quando transferiu sua residência para Belo Horizonte.
Na qualidade de comerciante participou, em 1952, da União das Associações e Sindicatos de Uberaba – Unasba. Nela, juntamente com, entre outros, Padre Antônio Tomás Fialho, Joaquim Prata dos Santos, Helmuth Dornfeld, Santos Guido, Ronaldo Cunha Campos, Aurélio Luís da Costa e José Batista de Carvalho, trabalhou para instalar em Uberaba as Centrais Elétricas de Minas Gerais – CEMIG.
Magistério
A partir de março de 1961 até fevereiro de 1969, Paulo Lima ministrou aulas de economia na faculdade de Engenharia do Triângulo Mineiro, sediada em Uberaba.
Faculdade de Ciências Econômicas
Em 01 de janeiro de 1966 decreto federal autorizou o funcionamento da Faculdade de Ciências Econômicas, fundada pela Associação Comercial e Industrial de Uberaba por sugestão de Paulo Lima. “Coube ao economista e empresário Paulo Vicente de Sousa Lima o mérito de lançar em terreno fértil ideia da criação da faculdade” (José Mousinho, “Uma Obra Construída Com Carinho e Determinação”, in ACIU – 70 anos, Uberaba, Arquivo Público de Uberaba, 1993).
Além disso, Paulo organizou sua estrutura técnico-administrativa e a grade curricular, mas, por motivos ideológicos, brandidos pela ala mais conservadora udenista da entidade, nela foi impedido de lecionar.
Atividades Culturais em Uberaba
Desempenho
Coincidindo com a efervescência cultural de Uberaba no início da década de 1960, dela constituindo um dos elementos impulsionadores, Paulo Lima desempenhou na cidade em toda essa década saliente papel na criação e apoio a entidades culturais, às quais, como diretor ou incentivador, imprimiu diretrizes administrativas e orientações culturais e artísticas de criatividade e vanguarda, propiciando tornar Uberaba nessa época e daí em diante um dos polos mais avançados de ação e criação artística do país, como demonstrado no livro A Poesia em Uberaba – Do Modernismo à Vanguarda.
A ação multiforme de Paulo Lima nesses anos abrangeu variada gama de áreas culturais, principalmente cinema, teatro, artes plásticas e literatura.
Influência
A respeito da influência que exerceu e o papel cultural catalisador da sede de curiosidade de juventude ávida de conhecimentos e desprovida nos cursos regulares de ensino de informações artístico-culturais básicas, depõe o escritor Jorge Alberto Nabut:
“Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, ouvimos as Bachianas número 5, de Vila Lobos, necessariamente com Vitória de Los Angeles. Também lá ouvíamos os originais dos então esquecidos Noel Rosa e Ataulfo Alves, a voz afetiva de Nara Leão, o timbre rascante de Joan Baez.
Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, ouvimos falar de Godard, que ele tanto admirava: de Fellini, Antonioni, Bunuel, Visconti, Gláuber.
Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, vimos as fotografias do Desemboque, duas delas na parede, como janelas abertas a provocar visita e conhecimento do arraial primeiro do Sertão da Farinha Podre.
Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, vimos os móveis de Arrendamento e a discreta mobília Eduardiana, herança de família, estilos repassados como conhecimento; assim como as primeiras noções de arquitetura colonial e contemporânea, de arte eclética, art nouveau, art déco, design escandinavo...
Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, tivemos noções de astronomia, pois que nas noites limpas de inverno ele nos levava envoltos em cobertores, na sua perua Kombi, a desvendar a geografia dos astros e estrelas da incontida Via Láctea. Paulo Lima nos estendia, então, o grande arco da existência a ser desvendada.
Foi Paulo Lima quem nos levou a conhecer as ladeiras patinadas de lodo de Ouro Preto e a apreciar os contornos incontidos e criativos do barroco mineiro e, em contrapartida, a Batatais e Brodowski na descoberta dos painéis parietais de Cândido Portinari.
Foi Paulo Lima quem nos levou a abrir nossos livros, a desvendar novas lições de arte, ciência, vida, a praticar novas ações, legando-nos, a cada um, o mote apropriado da existência, a herança das coisas.”
(Jorge Alberto Nabut, “Paulo Lima e a Herança das Coisas, Jornal da Manhã, 29 de junho de 2014)
Casa de Artes e Ofícios
Por essas mesmas razões, o arquiteto e decorador Demilton Dib fundou a Casa de Artes e Ofícios Paulo Sousa Lima e a instalou em 2014 em esplêndido casarão de sua propriedade situado na Praça Comendador Quintino.
Cine Clube de Uberaba
Sob sua direção e permanente empenho, fundou-se e, agosto de 1962 o Cine Clube de Uberaba, com diretoria composta por ele, Lincoln Borges de Carvalho, José Sexto Batista de Andrade, Clarkson de Castro Silva e Guido Bilharinho.
Desde então e nos anos seguintes, o Cine Clube desenvolveu intensa atividade com projeções de filmes emprestados da Cinemateca Brasileira de São Paulo ou alugados a empresas especializadas, como a Mesbla e a Fotótica, em sessões cinematográficas antecedidas da apresentação da obra do diretor do filme, seguidas de debates.
Além dessa função básica dos cineclubes, promoveram-se cursos de cinema e palestras em faculdades e colégios sobre essa arte, publicou-se mensalmente no Correio Católico a Bolsa de Cinema, com classificação qualitativa de filmes lançados na cidade no circuito de cinemas, o organizou-se anualmente a Seleção dos Melhores Filmes do Ano, divulgada na imprensa local durante catorze anos, cujas listagens foram cronologicamente (de 1962 a 1975) publicadas na revista Convergência, ano VI, nº 07, de 1976.
Teatro
Na área teatral, Paulo Lima, além de sua presença em todas as apresentações, colaborou e incentivou, juntamente com os demais diretores do Cine Clube, com realce para José Sexto Batista de Andrade, os ativos grupos teatrais formados na cidade na década de 1960. Núcleo Artístico de Teatro Amador – Nata e Teatro Experimental de Uberaba – TEU.
Fotografia
Paulo Lima secundado pelos demais diretores do Cine Clube, deu decidido apoio ao Foto Clube de Uberaba, fundado em 1962.
Imprensa Cultural
Nos periódicos culturais editados na cidade em fins da década de 1960 e na década seguinte (Suplemento Cultural do Correio Católico e revista Convergência), Paulo não só colaborou com contos, artigos e visuais, como criou o logotipo do referido suplemento, colaboração que manteve mesmo após sua transferência para Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Outras Atividades
Paulo Lima integrou inúmeras vezes júris de festivais de teatro, de música popular e de exposições de artes plásticas, nessa última área impulsionando e dando decidido apoio, juntamente com José Sexto Batista de Andrade e Jorge Alberto Nabut, à atividade pictórica de Hélvio Fantato.
Importância e Significado de Sua Atuação
Não só pelas atividades e participação ativa no contexto social e cultural de Uberaba que nele se destacou Paulo Lima. É que, além disso, aduzido a isso, mercê de sua lucidez, independência, senso crítico, sofisticação intelectual e desprendimento pessoal, essas atividades e essa participação marcaram-se por permanente sentido construtivo, criativo e vanguardista extremamente positivo.
Tais julgamentos não são importantes apenas pelo que objetivamente selecionam, mas, ainda, pelo que revelam do grau de cultura e tirocínio do julgador, facilmente avaliáveis, no caso, por todo especialista e conhecedor das artes elegidas.
Dele afirmou Joaquim Borges, em nota inserida na antologia de contos Ponta de Lança que organizou:
“Tem diversificado sua atuação literária com a luta pela sobrevivência, seja exercendo importantes cargos como técnico da área econômica em secretarias de Estado e empresas estatais e no magistério universitário, onde tem se destacado pela sua competência e visão aberta da escola. O título de intelectual, discutido por medalhões medíocres, que nem sequer entendem seu significado, assenta em Paulo Lima em caráter permanente e irrevogável, visto sua posição ampliada da realidade que nos cerca e sua visão crítica das instituições e dos valores de nossa civilização.”
Atividades Profissionais em Belo Horizonte e Rio de Janeiro
Belo Horizonte
Nessa cidade prestou serviços na fundação João Pinheiro como economista (de junho/1971 a outubro/1973), no Tesouro Estadual como subdiretor (a partir de maio/1973), na filial da Cia Federal de Processamento de Dados como técnico contábil (de novembro/1973 a abril/1974).
Rio de Janeiro
A convite do Ex-secretário estadual de finanças, Fernando Antônio Roquette Reis, na ocasião eleito presidente da Cia. Vale do Rio Doce, transferiu-se para o Rio de Janeiro para trabalhar na referida companhia como técnico superior de economia e finanças no cargo de Assistente Geral (de abril/1974 a dezembro/1974), como Superintendente Geral de Finanças (de janeiro/1975 a março/1977) e como diretor Executivo (desde sua eleição em assembleia de abril/1977), licenciando-se em novembro/1978 e se desligando da Cia. Em novembro/1980.
Contratado pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, nela ocupou o cargo de Superintendente Geral Adjunto (de setembro/1979 a setembro/1981), a partir de quando passou a trabalhar na Bolsa Brasileira de Futuros no cargo de Superintendente Administrativo (de julho/1984 a julho/1985).
No Rio de Janeiro ainda residiu até dezembro 1998, trabalhando por conta própria no mercado de ações.
Brasília
Já aposentado, mudou-se para Brasília, onde moravam quatro de suas oito filhas
Livro
Guerra/Paz – (Uberaba, Instituto Triangulino de Cultura, 2008).
Paulo Lima em Guerra/Paz, como escrevemos sob o título "Horror e Beleza" na introdução à obra, elegeu esse motivo, como poderia ter elegido qualquer outro. Porém, como contemporâneo, na juventude, do
maior conflito bélico da História, a Segunda Guerra Mundial, e, daí em diante, na maturidade, convivendo com a Guerra Fria, a ameaça atômica e acompanhando guerras regionais de largas proporções e influências (as dos Estados Unidos contra a Coreia e o Vietnã, por exemplo), a questão haveria de preocupá-lo e ocupá-lo, como, aliás, a todo individuo atento e responsável.
No caso, o assunto não foi visualizado linearmente, com desenhos e enfoques comuns, mas, sob formulação prismática elaborada e sofisticada, concretizada em expressividade visual que uniu e modelou concepção e expressão, transfigurando-as esteticamente, em tonalidades densas (e tensas) e traços flexíveis e envolventes, de criatividade pessoal única, transmitindo simultaneamente o sofrimento, a angústia e a perplexidade provocados pela guerra, a perspicácia da percepção autoral e a beleza da materialização visual, transformadora do horror e de seu conteúdo em sentido e arte.
Participações em Antologias
Ponta de Lança, antologia de contos organizada por Joaquim Borges - (Uberaba, editora Juruna, 1979), com o conto "Primeiro Amor"
A Poesia em Uberaba - Do Modernismo à Vanguarda, organizada por Guido Bilharinho (Uberaba, Instituto Triangulino de Cultura, 2003), com nada menos de nove visuais na seção "A Vanguarda dos Anos 60/70").
Textos e Visuais Inéditos
Paulo Lima deixou ainda, inéditos, inúmeros textos literários e visuais (a oitava arte). As referências de Paulo Souza Lima foram litastadas por Guido Bilharinho no livro fonte dessa matéria.
Fonte – Personalidades Uberabenses de autoria de Guido Bilharinho.