quinta-feira, 27 de março de 2025

SALÃO REX BARBEARIA & CABELEIREIROS

 O tradicional "Salão Rex" localizado na Galeria do edifício Rio Negro, no Centro de Uberaba (MG) encerra suas atividades após 68 anos. 

Carlos Antônio Rodrigues e Cláudia Rodrigues. Foto: Antônio Carlos Prata. 

Cláudia, filha de Vasco Rodrigues, explica; "a decisão de fechar o salão foi motivado por acidente de meu pai e alto custo do aluguel e a drástica diminuição do movimento desde o início da pandemia, o que causou a diminuição também do número de profissionais em atividade. Dos cinco cabeleireiros e barbeiros, apenas um continuava. Apenas o cabeleireiro Carlos Antônio Rodrigues, meu primo e sobrinho de Vasco que trabalhava no salão desde 1988, estava atendendo os últimos clientes. A partir de agora, ele vai atender em casa, na rua Afranio de Azevedo, 1874 - Bairro Olinda. E meu novo endereço: Rua Segismundo Mendes, N⁰ 233 - Centro. Contato: 34 8846-2596.

Sua clientela era formada por políticos, artistas que se hospedaram no Grande Hotel.  Empresários, magistrados, jornalistas da velha guarda e esportistas. Era um dos últimos salões autênticos, onde muita gente passava simplesmente para sentar e jogar conversa fora.

" Em nome de meu pai Vasco, Carlos Antônio, agradecemos  nossa profunda gratidão a cada um por tornar essa jornada tão especial. Levamos conosco lições valiosas e lembranças que guardaremos no coração." Em 05/03/2025. (Antônio Carlos Prata.)

UM PASSEIO PELO PASSADO

Na década de 1960, eu contava com os meus 8 anos de idade e estava na matinê, bem na fila da frente, junto aos meus amigos para assistir ao filme Tarzan. Nesse dia foi a maior festa.

Foto do acervo pessoal de José Querino Machado Filho, Prof. Kiko.

A grande sala do Cine Metrópole não era utilizada apenas para cinema. Era, também, usada como um centro de convenções na qual se desenvolvia a arte teatral e festas de formaturas.

 Lembro-me ainda antes da criação do Teatro Experimental de Uberaba (TEU), quando o ator, diretor e produtor Aldo Roberto Silva, o eterno “Salsichachau”, estreou a peça "Chapéuzinho Vermelho", texto de Maria Clara Machado. A peça trás a famosa história da menina do Chapéuzinho Vermelho, que ao desviar do caminho para ir à casa da vovó, cai nas artimanhas do astuto Lobo Mau.

Logo depois da estréia  foi fundado o Teatro Experimental de Uberaba (TEU), na rua Alaor Prata, 20. Fundadores: Arlindo de Carvalho, Maurilio Cunha Campos de Moraes e Castro e Aldo Roberto Silva.

Pagava-se o preço meia-entrada de cinema para vê-los ao vivo no palco do cinema. E, comumente, atores menos famosos, vinham trazendo o teatro como forma de divulgação e o próprio ator ficava na portaria para ser visto pelos frequentadores. 

Com o advento e o desenvolvimento da televisão, as salas de cinema entraram em decadência e o nosso cinema não teria como ser poupado. Foi morrendo aos poucos.  A exibição, de até duas sessões aos sábados e domingos, dependendo dos filmes, passou para apenas uma. Depois de algum tempo, as sessões diárias passaram a três vezes, por semana, vindo, posteriormente, a ser somente aos sábados e domingos e, finalmente, fechado.

Enquanto isso está bem guardado na caixa de minha memória o Cine Metrópole no auge de sua existência: Vejo Senhor Romeu com seus filhos,  no Bar "Buraco da Onça" anexo ao cinema.--- A Maria toda garbosa na cabine vendendo as entradas; o Senhor Alcino com a sua simpatia na portaria, sempre sorridente e brincalhão. O Gentil com sua laterninha. O Senhor Alaor com seu suspensório sempre elegante. 

 Sinto-me feliz ao rever a minha infância e juventude, através dessas lembranças de momentos felizes que o Cine Metrópole proporcionou. Entendo que esse tipo de lembranças são sonhos reais que permanecem dentro de nós até a maturidade. Fora isso não passa de utopia. ---- Sinto falta da infância que se foi e não volta mais, e, também, das pessoas que partiram para junto de Deus. Afinal a morte não tem retorno. As lembranças da infância e da juventude, são momentos que nos proporcionam algum conforto e estimula o amor e a vontade de viver até o último quartel de nossas vidas. Foto do acervo pessoal de José Querino Machado Filho, Prof. Kico. (Antônio Carlos Prata)

terça-feira, 25 de março de 2025

E O TEMPO LEVOU...

Cooperativa Regional dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande - Copervale em 1950. Praça Manoel Terra. Hoje funciona posto de combustível. 

Plataforma da Cooperativa.Foto: de Ricardo Prieto.

Os leiteiros vendiam leite numa espécie de carroça baú puxada a cavalo, toda branca, o vendedor  com seu latão de bico e caneco de medir.

Na década de 1960, adorava esses tipos populares, particularmente os que se apresentavam com algum estilo musical, feito esse ferro batendo num pedaço de "campana de freio de carro" anunciado sua chegada gritando, "Olha o leiteiroooooo".

Faziam parte da paisagem humana da nossa cidade, nos tempos de nossas infâncias e juventudes, também os verdureiros,  os compradores de garrafas",  olha o Algodão-doce", "olha o Picolé ", Ô Lavouraaaa que deu crime,  olha o Piruuuliiitooo". Não esquecendo  do "Seu"  Roque Manuel da Silva, o "Roque do Biju". Corríamos catando moedas quando escutava o "triângulo". Antônio Carlos Prata.

RÁDIO P.R.E- 5 DE UBERABA

Foto do ano 1941 – Nas lentes do fotógrafo João Schoroden Júnior, o  prédio onde funcionava a antiga oficina e revenda de veículos Ford Derenusson, no piso térreo, e no pavimento superior a Rádio P.R.E-5. e auditório, também conhecido como Salão Grená.
O acesso era por uma escadaria na lateral esquerda da vitrine da  revendedora.

       Foto: João Schoroden Júnior/ Ano 1941.

Quem  não acompanhou em Uberaba, a programação da rádio PRE-5, bons tempos,  o tempo passa, mas a história da rádio continua e continuará na memória de todos que tiveram a oportunidade de acompanhar este tipo de entretenimento onde você curtia a boa notícia, a boa música e ficava por dentro do que ocorria em nossa cidade.
Era de fato a melhor emissora de rádio de Uberaba, detentora de enorme audiência e possuidora de um arquivo de áudio que registrava importantes momentos da vida uberabense.

O que me incomoda no atual rádio é a falta dos programas específicos e principalmente da indentidade do radialista a sua frente, salvo raras exceções.
Não temos mais esse padrão radiofônico nas transmissões que era o "DNA" de uma emissora, hoje "tanto faz" escutar a emissora A, B, C...
Uma pena que a memória da emissora, tanto em fotos como em áudio, não tenha sido preservada, é quase impossível achar algo relacionado na internet.

Hoje em dia as plataformas digitais de publicação, como a da Amazon, permitem que obras sejam lançadas quase a custo zero, em se tratando de publicação digital, é um passo inicial para, pelo menos registrar e preservar a história e quem sabe no futuro partir para a impressão física. Vamos ver se alguém tem a iniciativa. Antônio Carlos Prata.

OS TEMPOS SÃO OUTROS

Nos anos 1960/70. Lembro das cadeiras nas calçadas, dos papos entre a vizinhança, das rodas de amigos que se formavam, cada qual com uma piada, o começo de um namoro, muitas vezes, começa com um olhar, um flerte, num piscar de olho, onde o rapaz interessado numa garota, talvez, na escola, ou na praça, ou na festa, ou no barzinho, ou no cinema, ou numa viagem ou, até mesmo na rua onde ambos moram. Em fim. São tantos e tantos lugares.  

Avenida Leopoldino de Oliveira/ Foto Uberaba em Fotos. 

E merece destaque  Avenida Leopoldino de Oliveira, onde os estudantes se reuniam para jogar conversa fora, sentado na balaustrada do corrego das Lages, com o footing dos sábados e domingos à noite.

A Balaustrada foi símbolo da Avenida.

Foram inesquecíveis anos dourados, principalmente pela ralação buscando construir o futuro, que é hoje o digno presente de que desfruto. Antônio Carlos Prata

CARNAVAL NO CLUBE SÍRIO LIBANÊS EM UBERABA

Nos idos anos 70 a 80, no Clube Sírio Libanês, os porteiros já estavam a postos, para controlar a entrada. Os foliões, com suas fantasias coloridas cantavam as músicas, conforme a orquestra as tocava. As serpentinas; os confetes; os garçons servindo as bebidas geladas, que as colocavam em cima da mesa, tudo isso fazia parte do espetáculo.

Salão do Sírio Libanês/ Foto: Autoria desconhecida.

 Jovens descompromissados procuravam flertar garotas e, após conquistar, se dirigiam para a área externa, onde ficavam os jardins, que era o local ideal para o início de um namoro, até porque no salão, o som da orquestra era muito alto. Nas imediações do Clube, os jovens quando bebiam demais, procuravam estacionar nas imediações para curar a ressaca. 

Época em que os carnavais eram  diversão e de muito respeito. Saudade. (Antônio Carlos Prata).

ESCRAVOS MORTOS POR ENFORCAMENTO EM UBERABA

A notícia correu rápido por toda a cidade naquela manhã de sábado, 4 de janeiro de 1840. Por motivos pessoais Manoel Tico, vulgo Tico-Tico, assassinara horas antes, a machadadas, Francisco José Correia bem ali na rua Direita (atual Vigário Silva). Como de conhecimento geral o assassino era escravo foragido da vítima, mas para maior surpresa de todos quem se apresentou ao delegado, capitão Domingos da Silva e Oliveira, foi um recém-chegado, também escravo do morto, de nome Vicente, já sexagenário e cuja filha era amante do verdadeiro assassino.

As fotos são meramente ilustrativas e foram baixadas do Google imagens.

Vinte e dois dias depois, num domingo, entre “as últimas horas da noite e as primeiras do dia seguinte” as escravas Bertholina, Cândida e Florinda matam por estrangulamento a esposa do fazendeiro Rodrigues Chaves, sra. Alexandrina Umbelina de Magalhães, motivadas por vingança devido aos maus tratos recebidos do Senhor.

A justiça de então foi célere e em menos de três meses reuniu-se o tribunal do júri, realizou-se o julgamento e foram duas delas condenadas, juntamente o inocente Vicente, à morte por enforcamento. Apenas Florinda teve sua pena comutada em galés perpétua, por estar em “estado interessante”. Os condenados à forca permaneceram presos, em celas no prédio da Câmara, pelos nove anos seguintes, pois o afamado carrasco mineiro, Fortunato José, só chegaria à cidade para o cumprimento da sentença no dia 13/08/1949.

Consta dos registros que ele “tem 32 anos, é musculoso, alto, célebre e temível. Estivera na cadeia de Ouro Preto, condenado a 44 anos, saíra 31 vezes escoltado a serviço e realizara 87 enforcamentos. Ganhava 12$300 por execução, ou 4$800 se paga pela Municipalidade.”

E o carrasco nem bem chegou saiu batendo, “em vão, às portas na Vila de Uberaba, à procura de quem vendesse cordas e madeira para os enforcamentos do próximo dia 17. Consegue, com muita dificuldade, as cordas, tendo sido a madeira retirada do Capão da Igreja (depois Chácara do dr. Josué Laje). Arma a forca no campo (onde seria os fundos do Liceu de Artes e Ofícios, bem mais adiante).”

Todos na cidade, “inclusive os familiares do falecido Francisco José Correia, à véspera do enforcamento, sabem da inocência do escravo Vicente e a culpabilidade de Manoel Tico. O silêncio para todos vale o ouro da covardia, o peso do orgulho e o segredo da injustiça.”

Finalmente em “17/08/1849 – Chegam pessoas dos mais remotos recantos da Farinha Podre. Atraídas pela curiosidade, fazem questão de assistir a um ‘assassinato legal’. Exortados pelo padre Manoel Joaquim da Silva Guimarães, sobem no patíbulo, armado no campo da parte alta da Vila Uberaba, os escravos Vicente, Bertholina e Cândida,” ... “Num último pedido, as mulheres solicitam vinho, com a recusa do escravo homem. Uma delas, Bertholina, embriagada, chega a recitar versos. São enforcados à hora programada pelo carrasco Fortunato José.”

Agora, ao transitares pelas imediações da Praça Frei Eugênio lembre-se dessa lamentável ocorrência.

Melhor seria esse trágico, horrendo e dantesco espetáculo não tivesse ocorrido, mas como já inscrito na história da cidade dele faço esse triste registro também nos anais de Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.

Moacir Silveira


Importante:

- Todas as citações entre aspas podem ser verificadas na preciosa revista “Diário de Uberaba, vol. 1, de Marcelo Prata, nas seguintes páginas 353, 355, 401 e 402. 

UBERABA E SUAS HISTÓRIAS. Antes dos táxis, as charretes, os “carros de praça”

Foto de autoria desconhecida da década de 60. Antes do serviço de táxi ser implantado em Uberaba, o sistema de transporte público individualizado era feito por charretes. Depois surgiram os  “carros de praça”, geralmente Ford, Chevrolet e Mercury da década de 1940. Ali era o coração da cidade. O serviço era exercido pelos choferes, os motoristas profissionais da época, que utilizavam veículos impecáveis, registrados e regulamentados para atender passageiros, cobrando tarifa baseada na distância percorrida, no tempo da viagem ou em uma combinação de ambos. 

Praça Rui Barboza 

Os preços eram acertados antes do deslocamento - entre o cliente e o dono do veículo, pois o uso de taxímetros para calcular automaticamente o valor da tarifa de uma corrida eram até previstos, mas não adotados. O sistema trazia certa flexibilidade, mas também exigia clareza nos acordos para evitar desentendimentos. Os carros de praça eram símbolos de prestígio e inovação para a época, frequentemente utilizados em ocasiões especiais como casamentos, funerais e eventos sociais de destaque. Para muitos, viajar em um desses automóveis era um luxo, um reflexo do avanço tecnológico que começava a impactar o cotidiano da cidade. Essa fase da história urbana de Uberaba nos transporta a um tempo em que a cidade tinha um ritmo mais pausado, e as relações entre as pessoas eram marcadas por um contato direto, quase artesanal, entre o serviço oferecido e o cliente. Com o tempo, a necessidade de um sistema mais organizado e justo levou à introdução do táxi com taxímetro, que oferecia mais transparência e segurança aos passageiros. Mas os "carros de praça" e seus choferes marcaram época na história do transporte uberabense. (Antônio Carlos Prata).

quarta-feira, 12 de março de 2025

ESQUECERAM DE MIM!?

Ele certamente fora um escravo fiel, prestativo e querido por todos. Talvez por isso, ao redor de sua oficina surgiria uma comunidade, mais tarde grande cidade e futuramente conhecida por “princesinha do sertão”.

Por manter sempre acesa sua forja de ferreiro o logradouro ficou conhecido por Rua do Fogo, depois Rua do Comércio e mais tarde Rua Artur Machado.

Seu dono e senhor, Major Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, o patriarca e fundador da cidade, em reconhecimento fez incluir entre os 58 itens de suas disposições testamentárias um dispositivo concedendo liberdade “ao seu escravo Manoel Ferreira, com a obrigação de ele fazer todas as obras de ferro empregadas na construção da Nova Matriz, e doa também 4 arrobas de ferro e 1 de aço, para o começo das obras.”

Manoel Ferreira/ imagem meramente ilustrativa (YouTube).

O testamento especifica em detalhes a destinação de seu patrimônio nele reservando auxílio para construção da cadeia, a cota parte destinada a cada um de seus herdeiros legais e testamentários. “Como se considerava católico praticante, fica ordenado também que cada padre presente no dia de sua morte celebre em sufrágio de sua alma um ‘oitavário de missas’, além de 600 outras durante um ano seguido, 300 por sua alma, 100 em sua intenção, 100 por intenção às almas daqueles com os quais teve negócios, 50 pela alma de seus pais e 50 pelas almas do Purgatório mais necessitadas.” Não satisfeito, “autoriza finalmente, a distribuição, no dia da sua morte, de 20$000 aos pobres e 200$000 a 3 filhas viúvas pobres que vivam honestamente.”

Só não se sabe se o escravo Manoel Ferreira logrou obter sua tão almejada liberdade, pois as obras na igreja ficariam paralisadas pelos 16 anos seguintes, sendo retomadas no distante ano de 1848. Isso porque a viúva de Major Eustáquio, Antônia Angélica de Jesus, sequer esperou seu corpo esfriar na sepultura, o término das missas, novenas e rezas encomendadas pois casou-se com o tenente José Fernandes da Silva, em 05/07/1832, cinco meses após a morte do grande patriarca de Uberaba.

Em memória de Manoel Ferreira ouso invocar Fagundes Varela em seu célebre poema “Mauro, o Escravo”, cujos versos finais proclamam:

“Mas quando a alvorada no espaço raiava, / E os bosques, e os campos, risonha inundava / Das longas delícias do etéreo clarão, / O escravo rebelde debalde buscaram, / Cadeias rompidas somente encontraram, / E a porta arrombada da dura prisão”.

Por desconhecer o destino final do fiel escravo Manoel Ferreira faço esse registro em Coisas e Fatos Antigos de Uberaba, para que, ao menos aqui, ele seja definitivamente lembrado.

Moacir Silveira

Fonte: Diário de Uberaba, de Marcelo Prata, volume 1, páginas 307 a 311.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

PAULO SOUSA LIMA

A Lucidez Intelectual

Formação

Paulo Vicente de Sousa Lima, nasceu na cidade de Sacramento, na região do Triângulo, em 1927, falecendo em Brasília em 2006.

Cursou e concluiu o antigo curso primário em Sacramento, o ginasial no colégio Marista Diocesano de Uberaba, o colegial em São Paulo, diplomando-se em Ciências Contábeis e Atuariais em Belo Horizonte na faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, possivelmente a única, na ocasião, a oferecer no Brasil o curso de Ciências Atuariais. Na capital mineira ainda permaneceu por um ano, lecionando na faculdade pela qual se diplomou.


Paulo Sousa Lima

Pertenceu, quando estudante em São Paulo e Belo Horizonte, ao grupo Polígono, composto de estudantes uberabenses nessas cidades e destinado a estudos e debates de problemas contemporâneos.

Atividades Profissionais em Uberaba

Comércio

Em 1950 estabeleceu-se em Uberaba, dedicando-se à administração das fazendas e loteamento da família, fundado em 1959 e dirigindo a Companhia Mercantil Rio Grande, localizada no quinto quarteirão da rua Artur Machado, no antigo nº 118, especializada no comércio de roupas e perfumarias, à frente da qual ficou até 1970, quando transferiu sua residência para Belo Horizonte.

Na qualidade de comerciante participou, em 1952, da União das Associações e Sindicatos de Uberaba – Unasba. Nela, juntamente com, entre outros, Padre Antônio Tomás Fialho, Joaquim Prata dos Santos, Helmuth Dornfeld, Santos Guido, Ronaldo Cunha Campos, Aurélio Luís da Costa e José Batista de Carvalho, trabalhou para instalar em Uberaba as Centrais Elétricas de Minas Gerais – CEMIG.

Magistério

A partir de março de 1961 até fevereiro de 1969, Paulo Lima ministrou aulas de economia na faculdade de Engenharia do Triângulo Mineiro, sediada em Uberaba.

Faculdade de Ciências Econômicas

Em 01 de janeiro de 1966 decreto federal autorizou o funcionamento da Faculdade de Ciências Econômicas, fundada pela Associação Comercial e Industrial de Uberaba por sugestão de Paulo Lima. “Coube ao economista e empresário Paulo Vicente de Sousa Lima o mérito de lançar em terreno fértil ideia da criação da faculdade” (José Mousinho, “Uma Obra Construída Com Carinho e Determinação”, in ACIU – 70 anos, Uberaba, Arquivo Público de Uberaba, 1993).

Além disso, Paulo organizou sua estrutura técnico-administrativa e a grade curricular, mas, por motivos ideológicos, brandidos pela ala mais conservadora udenista da entidade, nela foi impedido de lecionar.

Atividades Culturais em Uberaba

Desempenho

Coincidindo com a efervescência cultural de Uberaba no início da década de 1960, dela constituindo um dos elementos impulsionadores, Paulo Lima desempenhou na cidade em toda essa década saliente papel na criação e apoio a entidades culturais, às quais, como diretor ou incentivador, imprimiu diretrizes administrativas e orientações culturais e artísticas de criatividade e vanguarda, propiciando tornar Uberaba nessa época e daí em diante um dos polos mais avançados de ação e criação artística do país, como demonstrado no livro A Poesia em Uberaba – Do Modernismo à Vanguarda.

A ação multiforme de Paulo Lima nesses anos abrangeu variada gama de áreas culturais, principalmente cinema, teatro, artes plásticas e literatura.

Influência

A respeito da influência que exerceu e o papel cultural catalisador da sede de curiosidade de juventude ávida de conhecimentos e desprovida nos cursos regulares de ensino de informações artístico-culturais básicas, depõe o escritor Jorge Alberto Nabut:

“Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, ouvimos as Bachianas número 5, de Vila Lobos, necessariamente com Vitória de Los Angeles. Também lá ouvíamos os originais dos então esquecidos Noel Rosa e Ataulfo Alves, a voz afetiva de Nara Leão, o timbre rascante de Joan Baez.

Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, ouvimos falar de Godard, que ele tanto admirava: de Fellini, Antonioni, Bunuel, Visconti, Gláuber.

Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, vimos as fotografias do Desemboque, duas delas na parede, como janelas abertas a provocar visita e conhecimento do arraial primeiro do Sertão da Farinha Podre.

Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, vimos os móveis de Arrendamento e a discreta mobília Eduardiana, herança de família, estilos repassados como conhecimento; assim como as primeiras noções de arquitetura colonial e contemporânea, de arte eclética, art nouveau, art déco, design escandinavo...

Foi na casa de Paulo Lima que, pela primeira vez na vida, tivemos noções de astronomia, pois que nas noites limpas de inverno ele nos levava envoltos em cobertores, na sua perua Kombi, a desvendar a geografia dos astros e estrelas da incontida Via Láctea. Paulo Lima nos estendia, então, o grande arco da existência a ser desvendada.

Foi Paulo Lima quem nos levou a conhecer as ladeiras patinadas de lodo de Ouro Preto e a apreciar os contornos incontidos e criativos do barroco mineiro e, em contrapartida, a Batatais e Brodowski na descoberta dos painéis parietais de Cândido Portinari.

Foi Paulo Lima quem nos levou a abrir nossos livros, a desvendar novas lições de arte, ciência, vida, a praticar novas ações, legando-nos, a cada um, o mote apropriado da existência, a herança das coisas.”

(Jorge Alberto Nabut, “Paulo Lima e a Herança das Coisas, Jornal da Manhã, 29 de junho de 2014)

Casa de Artes e Ofícios

Por essas mesmas razões, o arquiteto e decorador Demilton Dib fundou a Casa de Artes e Ofícios Paulo Sousa Lima e a instalou em 2014 em esplêndido casarão de sua propriedade situado na Praça Comendador Quintino.

Cine Clube de Uberaba

Sob sua direção e permanente empenho, fundou-se e, agosto de 1962 o Cine Clube de Uberaba, com diretoria composta por ele, Lincoln Borges de Carvalho, José Sexto Batista de Andrade, Clarkson de Castro Silva e Guido Bilharinho.

Desde então e nos anos seguintes, o Cine Clube desenvolveu intensa atividade com projeções de filmes emprestados da Cinemateca Brasileira de São Paulo ou alugados a empresas especializadas, como a Mesbla e a Fotótica, em sessões cinematográficas antecedidas da apresentação da obra do diretor do filme, seguidas de debates.

Além dessa função básica dos cineclubes, promoveram-se cursos de cinema e palestras em faculdades e colégios sobre essa arte, publicou-se mensalmente no Correio Católico a Bolsa de Cinema, com classificação qualitativa de filmes lançados na cidade no circuito de cinemas, o organizou-se anualmente a Seleção dos Melhores Filmes do Ano, divulgada na imprensa local durante catorze anos, cujas listagens foram cronologicamente (de 1962 a 1975) publicadas na revista Convergência, ano VI, nº 07, de 1976.

Teatro

Na área teatral, Paulo Lima, além de sua presença em todas as apresentações, colaborou e incentivou, juntamente com os demais diretores do Cine Clube, com realce para José Sexto Batista de Andrade, os ativos grupos teatrais formados na cidade na década de 1960. Núcleo Artístico de Teatro Amador – Nata e Teatro Experimental de Uberaba – TEU.

Fotografia

Paulo Lima secundado pelos demais diretores do Cine Clube, deu decidido apoio ao Foto Clube de Uberaba, fundado em 1962.

Imprensa Cultural

Nos periódicos culturais editados na cidade em fins da década de 1960 e na década seguinte (Suplemento Cultural do Correio Católico e revista Convergência), Paulo não só colaborou com contos, artigos e visuais, como criou o logotipo do referido suplemento, colaboração que manteve mesmo após sua transferência para Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Outras Atividades

Paulo Lima integrou inúmeras vezes júris de festivais de teatro, de música popular e de exposições de artes plásticas, nessa última área impulsionando e dando decidido apoio, juntamente com José Sexto Batista de Andrade e Jorge Alberto Nabut, à atividade pictórica de Hélvio Fantato.

Importância e Significado de Sua Atuação

Não só pelas atividades e participação ativa no contexto social e cultural de Uberaba que nele se destacou Paulo Lima. É que, além disso, aduzido a isso, mercê de sua lucidez, independência, senso crítico, sofisticação intelectual e desprendimento pessoal, essas atividades e essa participação marcaram-se por permanente sentido construtivo, criativo e vanguardista extremamente positivo.

Tais julgamentos não são importantes apenas pelo que objetivamente selecionam, mas, ainda, pelo que revelam do grau de cultura e tirocínio do julgador, facilmente avaliáveis, no caso, por todo especialista e conhecedor das artes elegidas.

Dele afirmou Joaquim Borges, em nota inserida na antologia de contos Ponta de Lança que organizou:

“Tem diversificado sua atuação literária com a luta pela sobrevivência, seja exercendo importantes cargos como técnico da área econômica em secretarias de Estado e empresas estatais e no magistério universitário, onde tem se destacado pela sua competência e visão aberta da escola. O título de intelectual, discutido por medalhões medíocres, que nem sequer entendem seu significado, assenta em Paulo Lima em caráter permanente e irrevogável, visto sua posição ampliada da realidade que nos cerca e sua visão crítica das instituições e dos valores de nossa civilização.”

Atividades Profissionais em Belo Horizonte e Rio de Janeiro

Belo Horizonte

Nessa cidade prestou serviços na fundação João Pinheiro como economista (de junho/1971 a outubro/1973), no Tesouro Estadual como subdiretor (a partir de maio/1973), na filial da Cia Federal de Processamento de Dados como técnico contábil (de novembro/1973 a abril/1974).

Rio de Janeiro

A convite do Ex-secretário estadual de finanças, Fernando Antônio Roquette Reis, na ocasião eleito presidente da Cia. Vale do Rio Doce, transferiu-se para o Rio de Janeiro para trabalhar na referida companhia como técnico superior de economia e finanças no cargo de Assistente Geral (de abril/1974 a dezembro/1974), como Superintendente Geral de Finanças (de janeiro/1975 a março/1977) e como diretor Executivo (desde sua eleição em assembleia de abril/1977), licenciando-se em novembro/1978 e se desligando da Cia. Em novembro/1980.

Contratado pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, nela ocupou o cargo de Superintendente Geral Adjunto (de setembro/1979 a setembro/1981), a partir de quando passou a trabalhar na Bolsa Brasileira de Futuros no cargo de Superintendente Administrativo (de julho/1984 a julho/1985).

No Rio de Janeiro ainda residiu até dezembro 1998, trabalhando por conta própria no mercado de ações.

Brasília

Já aposentado, mudou-se para Brasília, onde moravam quatro de suas oito filhas

Livro

Guerra/Paz – (Uberaba, Instituto Triangulino de Cultura, 2008).

Paulo Lima em Guerra/Paz, como escrevemos sob o título "Horror e Beleza" na introdução à obra, elegeu esse motivo, como poderia ter elegido qualquer outro. Porém, como contemporâneo, na juventude, do

maior conflito bélico da História, a Segunda Guerra Mundial, e, daí em diante, na maturidade, convivendo com a Guerra Fria, a ameaça atômica e acompanhando guerras regionais de largas proporções e influências (as dos Estados Unidos contra a Coreia e o Vietnã, por exemplo), a questão haveria de preocupá-lo e ocupá-lo, como, aliás, a todo individuo atento e responsável.

No caso, o assunto não foi visualizado linearmente, com desenhos e enfoques comuns, mas, sob formulação prismática elaborada e sofisticada, concretizada em expressividade visual que uniu e modelou concepção e expressão, transfigurando-as esteticamente, em tonalidades densas (e tensas) e traços flexíveis e envolventes, de criatividade pessoal única, transmitindo simultaneamente o sofrimento, a angústia e a perplexidade provocados pela guerra, a perspicácia da percepção autoral e a beleza da materialização visual, transformadora do horror e de seu conteúdo em sentido e arte.

Participações em Antologias

Ponta de Lança, antologia de contos organizada por Joaquim Borges - (Uberaba, editora Juruna, 1979), com o conto "Primeiro Amor"

A Poesia em Uberaba - Do Modernismo à Vanguarda, organizada por Guido Bilharinho (Uberaba, Instituto Triangulino de Cultura, 2003), com nada menos de nove visuais na seção "A Vanguarda dos Anos 60/70").

Textos e Visuais Inéditos

Paulo Lima deixou ainda, inéditos, inúmeros textos literários e visuais (a oitava arte). As referências de Paulo Souza Lima foram litastadas por Guido Bilharinho no livro fonte dessa matéria.

Fonte – Personalidades Uberabenses de autoria de Guido Bilharinho.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Prefeitura entrega autorização para início de obra da ampliação do Aeroporto

A Prefeitura de Uberaba entregou nesta terça (17) a autorização para início das obras de ampliação do Aeroporto de Uberaba – Mário de Almeida Franco. O documento foi entregue pela prefeita Elisa Araújo e pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação (Sedec), Rui Ramos, aos diretores da Aena, que administra o Aeroporto de Uberaba.

Além de receberem o aval da Prefeitura para início das obras, o diretor de relações institucionais da Aena, Marcelo Bento, e o diretor do Aeroporto de Uberaba, Guilherme Zapolla, apresentaram os resultados conquistados com a administração da Aena e o serviço que será executado no local. Segundo os diretores, em janeiro de 2025, o canteiro de obras de ampliação deverá ser instalado e a entrega está prevista para até o meio do ano de 2026. A construtora que fará o serviço já está definida.

“Vamos deixar o aeroporto de Uberaba muito mais confortável e seguro. Vamos expandir o terminal que vai triplicar de tamanho, com investimento no sistema de pista e pátio, cumprindo todas as normas internacionais de segurança. Passaremos a ter uma estrutura que pode acomodar mais de um voo ao mesmo tempo e as empresas poderão operar em horários semelhantes”, revelou o diretor de relações institucionais da Aena.

A prefeita Elisa disse que está bastante otimista com a ampliação, que é sinônimo de desenvolvimento econômico e turismo para o Município. “Espero que com as mudanças aumente ainda mais a movimentação e, é claro, mais voos para nossa cidade”, ressaltou.

Quanto ao balanço apresentado pelos diretores, a Aena registrou um aumento de 23,6% no número de passageiros e conexões em 2024 no Aeroporto de Uberaba, com relação a 2023. Saindo de 82.168 para 101.568 neste ano. O secretário Rui Ramos comemorou o resultado e disse que a obra para ampliação do aeroporto é o reflexo do desenvolvimento econômico da cidade com a chegada de novas empresas e também o crescimento do turismo, após Uberaba ter se tornado um Geoparque.

sábado, 16 de novembro de 2024

Professor Leôncio Ferreira do Amaral

 JUSTIÇA SEJA FEITA

Ele deixou, como um verdadeiro gigante, marcas profundas na história da educação em nossa cidade. Nascido em São Bento do Sapucaí, SP, em 01/01/1901, iniciou na área educacional como diretor escolar em São José dos Campos e depois em Bastos, ambas em SP, antes de vir para Minas, em 1946, na condição de Inspetor Técnico de Ensino com atuação em Belo Horizonte. Dois anos depois, em 1948, foi designado pelo governador Milton Campos para organizar, pôr em funcionamento e dirigir a Escola Normal de Uberaba.

Professor Leôncio Ferreira do Amaral

Embora graduado em farmácia e medicina veterinária, possuía várias licenças para lecionar, dentre outras matérias, Português, Latim, Francês e Ciências Naturais. Por seu vasto conhecimento geral, em especial de História, era comum vê-lo assumindo aulas de reforço ou em substituições a professores faltosos.

Alguns traços de sua personalidade sempre chamaram a atenção de todos os que o conheceram. Sua aparência irretocável, na elegância de um dândi, não dispensava o uso de um terno bem cortado. A par dos traços bem apessoados, aliava substanciosa erudição e tratamento irrepreensível em termos de linguagem. O costume de elevar a voz ante comportamentos indesejáveis dos alunos era sua forma de tentar impor autoridade. Nessas horas era comum vê-lo usando expressões como: “macacos(as) de auditório”, “grã-finas de porão”, hoje tidas como politicamente incorretas. Ninguém se ofendia, pois sabiam de sua disponibilidade em auxiliar os necessitados em aulas de reforço extraclasse. Solteiro inveterado morava no Palácio Hotel, na Praça Rui Barbosa, certamente pela proximidade com a Escola Normal, à época na Rua Manoel Borges, poucas quadras dali.

Sua lisura no trato da coisa pública infelizmente não o livrou de rumoroso inquérito por suspeita propostas indecorosas e homossexualismo, com acusação centrada em denúncia de um funcionário insatisfeito com sua dispensa do trabalho, por um pai não atendido em pedido de vaga para o filho e outras sobre seu "mau comportamento", mas sempre “por ouvir dizer”. Em seu favor compareceram em juízo: um deputado estadual, quatro médicos (um deles general e o outro catedrático), três juízes (um já em tribunal superior) e um delegado. Ele temia ser exonerado em véspera de sua aposentadoria. Depois de longa e demorada tramitação, já em grau de recurso, teve reconhecido seu direito de retorno ao cargo, com pagamento dos atrasados, bem como o de ser devidamente indenizado em face de infundadas e não provadas acusações.

Justiça seja feita, ele não fez por merecer tamanha desfeita e nem ter passado o que passou. Sequer chegou a gozar da merecida indenização, pois doou todos os valores por ele recebidos ao asilo onde viveu seus últimos anos de vida e nem ao menos o de poder ver seu nome de volta na escola a qual tanto se dedicou.

Seu perseverante exemplo é um verdadeiro ensinamento da “Aula de Vida”, no dizer de Bráulio Bessa, quando diz:

“Na faculdade da vida / de tudo pude aprender. / Cada aula, uma lição, / cada lição, um dever. / As provas me machucando, mas quem aprende apanhando / pode ensinar sem bater.”

E é por isso que, ao menos aqui nas páginas de Coisas e Fatos Antigos de Uberaba, a augusta instituição de ensino continuará a ser chamada Escola Normal Leôncio Ferreira do Amaral, um homem honrado cujo legado merece ser sempre lembrado.

Moacir Silveira


Fonte: “O Ensino de História da Educação na Escola Normal”, de Rosângela M.C. Guimarães (EDUFU, série Monografias, v. 4, páginas: 178/182 e 230/237).

Imagem: foto original em P&B (p. 179) por mim ampliada e colorida.

Dr. Henrique Von Krüger Schroeder

 O Dr. Henrique, se encarnado, completaria 130 anos! Parabéns Dr. Henrique! De onde estiver receba nosso sentimento de gratidão. Jesus te abençoe sempre e sempre! 

Dr. Henrique Von Krüger Schroeder nasceu em 15 de novembro de 1894, em Resende (RJ). Desencarnou em 02 de agosto de 1949 em Uberaba-MG. Formou-se em Farmácia  na década de 20 e Medicina em 1934 pela Faculdade de Medicina em Niterói-RJ. Era filho de Emílio Schroeder e Maria Carolina Krüger Schroeder. Casou-se com Maria Felipe Schroeder, tendo como filhos Carlos Henrique Schroeder e Sônia Beatriz Schroeder.

Henrique Von Krüger Schroeder. Foto: Autoria desconhecida.

Elegeu-se vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e assumiu a presidência da Câmara de Uberaba, na gestão de 1947 a 1950.

Como espírita foi presidente do Centro Espírita Uberabense. Participou ativamente do "Ponto Bezerra de Menezes", entidade que originou o Sanatório Espírita de Uberaba. Como presidente do Centro Espírita de Uberabense, lançou a pedra fundamental do edifício do Sanatório em 06/01/1928. Atuou como diretor Clínico do Sanatório Espírita de Uberaba e, como clínico geral, atendia gratuitamente a comunidade carente em seu consultório as quinas feiras.

Era considerado, popularmente, o patrono dos trabalhadores, devido à simplicidade com que se relacionava com as pessoas, conquistando a simpatia e a admiração de todos. Em todos os campos de sua atuação revelou-se como um imperecível monumento de caridade. Homenageado pela comunidade uberabense, teve seu nome perpetuado denominando a praça defronte ao correio com o seu nome "Dr. Henrique Krüger".

Hoje está presente nas atividades das casas espíritas, através dos trabalhos de desobsessão e do receituário mediúnico.

Fonte : Nuno Emanuel

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

TAL PAI, TAL FILHA!

Mais um eloquente e emocionante depoimento me foi enviado pela professora Maria Isabel Gomes de Matos, nele reverenciando a figura de seu pai, outra saudosa e importante figura na história da FISTA, onde ela diz:

“A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Uberaba sempre fez parte da minha vida.  Meu pai, Santino Gomes de Matos, desde a instituição da faculdade, esteve ao lado das irmãs dominicanas, emprestando sua autoridade de professor renomado.  Lecionou Filologia Românica e Língua Portuguesa por anos sucessivos. Além dos cursos regulares, ministrava ali também cursos de atualização para professores dos melhores estabelecimentos da cidade.

A importância da faculdade, em especial nas décadas de 1950-1970, foi incomensurável, formando professores para toda a região.  Um detalhe importante: os conteúdos da grade curricular da faculdade, oferecidos aos alunos, sempre equivaleram aos das mais renomadas universidades do país, nada ficando a faculdade uberabense a dever a elas em qualidade e excelência.

Quanto a mim, Maria Isabel Gomes de Matos, cursei Português-Francês, tendo me formado em 1977, sendo oradora da turma.  Tendo em vista o aproveitamento do curso, o fato de ter estudado com meu pai desde adolescente e de haver iniciado, precocemente, aos 17 anos, minha trajetória de professora de língua portuguesa, assim que formada fui convidada a participar do corpo docente da faculdade, o que muito me honrou, tendo ministrado aulas na instituição até que me transferi para Belo Horizonte.”


Suas doces palavras me fizeram lembrar versos da célebre canção “Espelho”, de João Nogueira, em memorável estrofe dizem assim:

“Eh, vida voa / Vai no tempo, vai / Ai, mas que saudade / Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade / E orgulho de ‘sua filha’ ser igual seu pai.”

Moacir Silveira

JUBILEU DE DIAMANTE

Mais de meia centena de grandes nomes na história da FISTA compareceu nesse último domingo, dia 3 de novembro de 2024, no Centro de Espiritualidade Santo Tomás de Aquino, para comemorar as bodas de diamante (75 anos) em memória da saudosa FAFI (posteriormente FISTA), uma das mais importantes instituições de ensino superior em todo o Brasil Central.
Contando com a presença do convidado especial, o ex-aluno e ex-professor da antiga FAFI, Dr. Luiz Alberto de Miranda, que fez uso da palavra, nesse encontro especial, apresentado pela professora Lourdinha Leal, os participantes puderam assistir a importante palestra comemorativa da efeméride proferida pela também ex-aluna e professora Vânia Resende.
Na oportunidade fizeram uso da palavra vários dos presentes, em sua grande maioria ex-alunos e professores da instituição, dentre os quais: Irmãs Glícia Barbosa e Cleonice, além de professores e ex-alunos como Maria Auxiliadora Gontijo, Flamarion Batista, Ivanilda Barbosa, Teresa Borges, Antônia Terezinha Silva, Marilene de Lourdes Vieira, Marise Diniz, Consuelo Rezende, Magda Villas Boas, Marlene Barbosa Ferreira e Carlos Alberto Batista Oliveira.

Fista 2024

E abrilhantando ainda mais o encontro José Maria Madureira, em emocionante apresentação, declamou os poemas: "Especulações em torno da palavra homem", de Carlos Drummond, e "Tecendo a manhã", de João Cabral de Melo Neto.





 

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

UM CASAMENTO EM 1925

No dia 10 de setembro de 1925, o jornal Lavoura e Commercio de Uberaba informava que haviam acabado de se casar "a gentil senhorinha Ercilia Gomes, filha do nosso amigo sr. major Delfino Gomes, importante fazendeiro no município, com o estimável moço sr. Antenor Alves Gomes, filho do major Eduardo Gomes e da exma. sra. d. Ambrosina Alves Gomes".

Esse casarão na Rua Barão do Triunfo, era onde o fazendeiro Delfino Gomes vivia com a família quando estavam na cidade. 
Tinha um enorme quintal que se estendia por quase um quarteirão. Posteriormente, alguns dos filhos construiram suas casas no terreno e foi aberta, ao lado do casarão, a travessa que leva seu nome. Foto do acervo da família.
O jornal informa como data do enlace o próprio dia da edição, 10 de setembro, e se engana na grafia do nome da noiva, que era Hercília. No entanto, não é essa data que consta no verso da bela foto, do acervo da família, que foi feita no dia do casamento, defronte à casa do pai da noiva, na Rua Barão do Triunfo, perto da Praça Dom Eduardo. A anotação, feita a mão, informa como data o dia 7 de setembro de 1925, uma segunda-feira.
Recorte do jornal Lavoura e Commercio do dia 10 de setembro de 1925.
 Na época, esse jornal ainda não era diário: circulava duas vezes por semana, aos domingos e às quintas-feiras.

Acervo do Arquivo Público de Uberaba.


Pesa a favor da data anotada na foto, o fato de que 7 de setembro era o dia do aniversário do dono da casa (e, na época, de quase todo o quarteirão adjacente), o Major Delfino Gomes, que vem a ser meu bisavô. Conhecido na família como "Vô Fifino", ele hoje empresta o nome a uma pequena alameda que liga as Ruas Barão do Triunfo e Jaime Bilharinho.

Do antigo casarão em estilo colonial pouco restou após uma série de reformas por que a residência passou nesses quase 100 anos. 
Com a abertura da Travessa Delfino Gomes, tornou-se uma casa de esquina,
 que ainda pertence aos descendentes do major.


Como era razoavelmente comum na época, os noivos eram primos entre si. Antenor Alves Gomes, se tornaria, anos depois, proprietário de uma grande chácara nos fundos do bairro do Fabrício e também da construtora Conspav, que explorava uma pedreira na região. Faleceu em 1970, aos 69 anos. Viúva, tia Hercília ainda viveu por muitos anos na velha chácara, cuidando com devoção das hortaliças e dos animais que sempre gostou de criar.
Aparecem na foto, entre muitos outros, o padrinho (e irmão do noivo) Domingos "Nenê" Alves Gomes, e minha avó (irmã da noiva) Guiomar Gomes Borges. O velho casarão em estilo colonial, completamente descaracterizada por quase um século de sucessivas reformas, ainda resiste de pé na Rua Barão do Triunfo.

(ANDRÉ BORGES LOPES)

Santuário da Medalha Milagrosa - Uberaba.


Foto -  André Borges Lopes.

“Em 1957 foi lançada a pedra fundamental da Capela Conventual do Mosteiro, que mais tarde se tornaria o Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. A inauguração se deu no dia 26/11/1961. A imagem em madeira com dois metros de altura, foi inaugurada em 1962, esculpida pelo português, radicado no Rio de Janeira, Sr. Joaquim de Souza F. Silva. A arte em gesso no interior do Santuário foi obra do espanhol Sr. Carlos Pachon Sanches, concluída em 08/08/1975.”

OS RESERVISTAS DE 1928 DO GINÁSIO DIOCESANO

Em janeiro de 1908, foi publicada no Brasil a Lei Federal 1.860 que regulava o serviço militar obrigatório, o alistamento, o sorteio militar e reorganizava o exército. Essa lei tornou obrigatória a instrução militar para os alunos maiores de 16 anos em todas as escolas secundárias. Em maio do mesmo ano, um decreto regulamentou que todos os colégios reconhecidos oficialmente pelo governo deviam organizar um batalhão escolar com alunos maiores de 16 anos, aos quais seria ministrada a “instrução obrigatória do Tiro de Guerra e evoluções militares”.

Os Reservistas de 1928, alunos do Ginásio Diocesano de Uberaba, posam para uma foto com os instrutores e o diretor do estabelecimento. Foto de Andrade Photo, acervo familiar.

A treinamento militar, a cargo de instrutores cedidos pelo exército, incluía exercícios de esgrima, tiro com fuzis Mauser e evoluções militares. Os alunos que participassem desses exercícios nos ginásios estariam dispensados do serviço militar, caso fossem sorteados. Em 1917, um novo decreto determinou que – ao final da instrução – os alunos aprovados nos exames receberiam a carteira de reservistas de 2ª categoria. Essa prática vigorou até 1934, quando o Tiro de Guerra deixou de estar vinculado às instituições de ensino.
Foto publicada na Revista Fon-Fon, do Rio de Janeiro, em 1913.

Em Uberaba, o então Ginásio Diocesano, dos Irmãos Maristas, oferecia treinamento militar nas aulas de ginástica do nível Ginasial. Os alunos que concluíam o curso recebiam o certificado de reservistas e ficavam dispensados do serviço militar que, na época, era prestado na 8ª R.A.M. da cidade de Pouso Alegre.

Batalhão de reservistas do Ginásio Diocesano de apresenta na Praça Rui Barbosa, em 1916.

A primeira foto registra a formatura dos reservistas do ano de 1928. Na primeira fila está, ao centro, o Irmão Afonso Estevão, diretor do Ginásio, ladeado pelos instrutores militares.
Grande parte desses alunos residia em Uberaba e muitos foram convocados para lutar nas escaramuças de Revolução de outubro de 1930. No Triângulo Mineiro, as tropas revolucionárias de Minas Gerais enfrentaram as tropas legalistas do Estado de São Paulo nas pontes e nas barrancas do Rio Grande. Essa situação se repetiria na Revolução de 1932.

José Carlos "Juquita" Machado Borges (29/08/1911 - 26/06/2004).

Entre os que foram convocados em 1930 estava meu avô materno, José Carlos "Juquita" Machado Borges, que aparece muito sério nessa foto, aos 17 anos de idade (é o quarto, da esquerda para a direita, na segunda fila de reservistas de pé na foto). Entre os reservistas está também Alberto Prata, pai do escritor Mário Prata. Meu avô Juquita faleceu em junho de 2004, aos 93 anos. Guardava em sua biblioteca duas ou três balas de fuzil Mauser, lembranças dos tempos das batalhas e revoluções.
(André Borges Lopes)

Casa no Largo da Matriz Nova, Uberaba, Residência de Antônio Borges Sampaio.

Encontrei essa novidade meio escondida no acervo do Arquivo Público Mineiro. A foto original está bem degradada, mas foi possível fazer um tratamento para melhorar a definição da imagem.

Imagem 1.
Essa foto foi feita no ano 1900, e esse sobrado era a casa do jornalista, memorialista, advogado e farmacêutico Antônio Borges Sampaio. Ficava na esquina da Rua Artur Machado com a praça Rui Barbosa. Dá pra ver que, entre as portas da casa, está escrito "Pharmacia". No térreo, os Sampaio tinham uma "botica", e ela ainda funcionava em 1900.

                                                                              Imagem 2.

Antes de Sampaio se estabelecer em Uberaba, no ano de 1847, nesse mesmo terreno havia um casarão térreo em estilo colonial, que pertencera ao Major Eustáquio e teria sido, supostamente, a primeira casa a ser erguida na cidade. Borges Sampaio comprou o imóvel e o reformou, adicionando um piso superior e mudando o estilo da construção.

                                                                             Imagem 3.

Português naturalizado brasileiro, Borges Sampaio faleceu, aos 81 anos de idade, em 1908 – menos de um ano após a morte de sua mulher, Maria Cassimira, que era filha do Barão da Ponte Alta. Décadas mais tarde, funcionou por muitos anos – numa versão reformada do mesmo sobrado – a loja "Notre Dame de Paris". O casarão foi demolido em 1981 para dar lugar a um predinho de estilo duvidoso, no qual funcionam um comércio no térreo e um hotel nos pisos superiores.

 Imagem 4.
 

Essas anotações (na grafia original) constam na foto de 1900:
"Casa no Largo da Matriz Nova, Uberaba, Residência de Antônio Borges Sampaio e sua mulher D. Maria Cassimira de Araújo Sampaio, desde 24 de março de 1850, na qual esta falleceu a 10 de Setembro de 1907, e se [ilegível] seus filhos Hermogenes, Joaquim e Severino, bem como os nettos Hermogenes, Antônio, Maria e José. Photographia tomada em 1900, por José Severino Soares, offerecida ao "Arquivo Público Mineiro", pelo seu correspondente official Antônio Borges Sampaio. Uberaba, novembro de 1907."
Antonio Borges Sampaio era amigo de "Juca Severino", e usualmente contratava o fotógrafo para que registrasse cenas da cidade, que eram depois enviadas aos Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, dos quais Sampaio era correspondente. Uma parte significativas dessas imagens está disponível nos acervos digitais, mas muitas ainda não foram recuperadas.
(André Borges Lopes)


PAULO EDSON ARAÚJO, "FIFITA", "O HOMEM QUE CONSERTA O TEMPO"

Em meio aos tique-taques, Paulo Edson Araújo, natural de Uberaba, Minas Gerais, o "FIFITA", "o homem que conserta o tempo”. Trabalha na manutenção de relógios há mais de meio século. Mesmo aos 78 anos, as pequenas peças, parafusos e engrenagens não fogem aos olhos atentos de quem já realizou a tarefa milhares de vezes.

Paulo Edson Araújo - Foto Antônio Carlos Prata.

Fui impulsionado por um amigo, o "seu" Levy Theodoro. Me ensinou muita coisa. Ele dizia que era para eu ter uma profissão, e se eu queria aprender este ofício", de prontidão aceitei na hora. Sou muito grato. Sempre admirei e sempre gostei de fazer o que faço. Me dediquei a ela e continuo por isso, por amor mesmo.
Conserto relógios de parede, em especial com os modelos do tipo cuco, o pedestal. Dos carrilhões a outros modelos antigos e atuais. Sou único que faz embuchamento no Triângulo Mineiro que se tem notícia.
Dei manutenção várias vezes no relógio histórico da praça Dr. Jorge Frange, doado pela colônia japonesa para os uberabenses. Atualmente, Paulo é procurado por donos de verdadeiras relíquias de colecionadores ou de filhos que herdaram relógios dos pais ou avós.
Por ser valor sentimental vão sempre precisar de manutenção. Por isso que eu digo que nossa profissão não vai ser extinta. Finalizou.
Sua oficina está localizada na rua Governador Valadares, 341 (centro), Uberaba Minas. Telefone: 9 96328632. (Antônio Carlos Prata).

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

NOVO LIVRO SOBRE A FAMÍLIA PRATA E UBERABA

José Raimundo Gomes da Cruz


Procurador de Justiça de São Paulo aposentado

Em memória do PADRE THOMAS DE AQUINO PRATA,

FALECIDO EM 4/4/19, EM UBERABA, MG
Acabava de sair o novo livro do Padre Thomaz de Aquino Prata. Tratava-se de primorosa edição gráfica do seu irmão José Expedicto Prata. Título da obra: Memórias da memória. Subtítulo: “De Joaquim a José: uma visita à casa paterna” (São Paulo : José Expedicto Prata, 2008). O livro é dedicado à memória de D. Laura, bisavó do autor, dos pais e dos seus irmãos falecidos; enfim, aos três ainda vivos.

Coincidência curiosa consiste na presença de D. João VI, cujos duzentos anos da vinda para o Brasil se comemoram, nos primórdios da “saga de Joaquim a José”. Foi por volta de 1808 que, como outros comerciantes e agricultores, “Joaquim José e seus irmãos decidiram partir” (p. 27). Chegando ao Rio de Janeiro, partiram para a região de São Bento
do Tamanduá, hoje Itapecerica, província de Minas Gerais (p. 30). Época de muitos portadores de hidropisia e lepra, com a surpreendente cura “com picada de cascavel” (p.33). Enfim, o “Sertão da Farinha Podre”, como se chamava a região do atual Triângulo Mineiro (p. 39). O Arraial da Farinha Podre também se chamava Santo Antônio de Uberaba (p. 48). A vez do “genocídio brutal e impiedoso” dos indígenas locais (p. 49). A aquisição
das terras já dependia de “muita falcatrua, apadrinhamento político, negociatas” (pp. 49/50). A vocação agro-pecuária de Minas (pp. 50/51).

Interrompo a resenha à p. 53, para reflexão que venho fazendo sobre o tão propalado “fio de barba”. Se havia escravidão, “genocídio brutal e impiedoso”, “falcatrua, apadrinhamento político, negociatas”, fio de barba não passa de lenda. À p. 62 existe até referência a certo “roubo legal”. Aí mesmo se esboçam os futuros “esquadrões da morte”, contra os “desocupados”. E o próprio catolicismo só valia dentro da igreja (p. 63).

O nome “Prata” tem sua explicação à p. 64. A descrição dos pratos e sobremesas inclui “o indispensável arroz doce” (p. 66). Não falta o riso: “Contou-me tio Quinzinho que alguém, certa vez, perguntou ao velho Joaquim José por que tinha se casado com uma mulher tão pequeninha. Carrancudo e mal-humorado, respondeu seco: ‘Dos males, o menor’.” (pp. 67/68).

Frase lembrada: “O Brasil é o café, e o café é o negro” (p. 73). O dia seguinte da Lei Áurea se resume: “Não eram mais escravos, mas viviam como se ainda fossem”. Não se nega o óbvio: a escravidão era apoiada pelo Estado e pela Igreja. A suprema e infame contradição: antes de embarcar para o Brasil, os escravos “eram marcados no peito com uma cruz por um ferro em brasa, significando que já eram batizados” (p. 74). Os “padreadores” tinham privilégios: eram os reprodutores de escravos. É que ainda não havia a inseminação artificial... (p. 77) Sobre a “padreação” e “criatórios” de escravos, convém ver a p. 93.

Já existia na família Prata quem se levantasse às quatro horas da madrugada (p. 82).
Era, mesmo, a regra, pois as pessoas dormiam ao escurecer. A propósito, antecipo observação importante do editor do livro, meu concunhado. Consta, à p. 148, que seu pai, homem religioso, fazia “Noite de Guarda, na Igreja da Adoração Perpétua, no dia 16 de cada mês.” Havia “ficha de comparecimento” e o José Expedicto, ainda criança, saía, por determinação da D. Quita, sua mãe, entregando as fichas a cada encarregado da “adoração”, com o horário. Alberto Prata, pai do autor e do editor, fazia a “adoração” sempre às duas horas da madrugada.

Quando a Maria Lúcia e eu participamos do Encontro de Casais com Cristo, ficamos sabendo que vários casais se revezavam fazendo adoração na Capela do Colégio Assunção, aqui em São Paulo. Perguntamos a dois casais dirigentes se a adoração era também durante toda a noite. Acharam, com razão, ingênua a nossa pergunta e responderam:
– Nós ainda não somos tão santos assim. – Quer dizer, quando se encerravam as atividades de cada dia, cessava a adoração dos casais.

Se dependesse da adoração, contínua e ininterrupta, da Uberaba dos anos trinta e
quarenta do século passado, a santidade seria ampla e irrestrita.

A justiça da época do suposto fio de barba era bem estranha. Certo escravo deixou de ser condenado à forca, por homicídio, com o compromisso de tornar-se carrasco (p. 84).

E houve vista grossa para a execução de um escravo idoso, quando a ré era sua filha de
apenas 25 anos, portanto, mais lucrativa (p. 85). Isso faz lembrar o caso daquele condenado por participação na Confederação do Equador, que conseguiu fugir e asilar-se numa das Guianas, de onde mandou procuração para certo conhecido seu sofrer a execução na forca em seu lugar. De outras eras e lugares é também a historinha do lugarejo onde havia só um sapateiro, um alfaiate, um ferreiro etc. Cometeu-se um bárbaro homicídio e o réu era o único alfaiate. Alguém se lembrou, então, de propor, como na ocasião eles tinham dois sapateiros, que fosse condenado um destes, para evitar a falta dos serviços do verdadeiro
culpado.

A Guerra do Paraguai também passou por Uberaba (pp. 90 e ss.). Merece especial atenção a carta do Visconde de Taunay, às pp. 275/277.
Chegam a Uberaba os partidos políticos: o Conservador (“Cascudo”) e o Liberal (“Chimango”). O caso do capanga que mata a vítima errada faz lembrar seu colega de conto mais recente, que confessou isso ao mandante do crime, mas disse que não ia cobrar nada pela vítima que ele matara por engano; só receberia pela morte encomendada. A versão de Anjo Azul tem sua vez (p. 103). O primeiro automóvel chega (p. 107). E o trágico também (p. 116). A surra, por não cumprimentar o avô paterno (p. 120). A propósito do mamão, que
o avô não comia, devo lembrar que homem algum comia mamão em certa região de Minas Gerais, no meu tempo de Promotor de Justiça: mamão era frio. Segue-se explicação para a chamada “religião popular” (p. 123).

À p. 151, o autor do livro ordena que o leitor pare de ler. Preferi desobedecer e
recomendo que todos o façam.
Essa recomendação inclui o texto do editor, às pp. 159/162. Teria a saga de Joaquim José acabado em 1937? Não, a história prossegue.

Os versos de Alberto Prata são precedidos de apresentação (p. 167), que transcreve a apreciação crítica da professora Terezinha Hueb de Menezes (pp. 168/170). A poesia, como a casa do Pai, tem muitas moradas. Em recente matéria inédita da minha autoria, cito alguém que observa que, entre os poemas mais lembrados, nem sempre se encontram aqueles de prestígio acadêmico. Prefiro que a análise da autoridade prevaleça, para não
passar, como o sapateiro da velha Grécia, diante da pintura de Apeles, além da sandália.

A rigor, isso valeria também para todo o livro. Mas aí me sinto mais à vontade.
Mesmo diante do texto do Hugo Prata, sobre as fazendas mineiras no início do século XX
(pp. 253 e ss), fico bastante em casa. Destaco a lembrança do berreiro do porco levado ao
sangramento (p. 258). Desde menino, em Espinosa, norte de Minas Gerais, não consigo explicação para a “adivinhação” do destino trágico pelo animal.

O livro se mostra rico em ilustrações e documentos, como afirmei no início sobre o requinte de sua edição.
Intencionalmente, deixei para o final a apresentação da Maria Regina Mendes Prata,
mulher do editor, sob o título “Recordar, narrar, esquecer”. Porque o final desse texto constitui o fecho mais conveniente para suprir as grandes omissões da minha tentativa de comentário:
“Este livro é bem-vindo, pois vai tecendo uma rede de afetos que se rompeu em vários lugares no passado e cujas conseqüências podem ser sentidas até hoje. Ao se contar a saga desta família, o que fica é a coragem, o otimismo, a esperança e a confiança na vida, de tal forma poder-se afirmar que, hoje, não há haveres a haver nem débitos a serem pagos.
A conta da família está fechada.”