terça-feira, 21 de outubro de 2025

UBERABA, O CRESCIMENTO DE UMA ÉPOCA

Voltando e recordando...


Foto aérea sentido a Praça Henrique Krüger. 
Acervo Uberaba em Fotos 

Ao olhar esta foto de 1966, minha memória viaja no tempo.

Meados da década1960, eu ainda era bem criança.

E Uberaba começava a se transformar, crescendo aos poucos, mas com aquele ar de cidade viva, cheia de novidades.

No primeiro plano, vejo parte do casarão de esquina, nas ruas Coronel Manoel Borges e Major Eustáquio.

Ali funcionava a Concessionária Ford Derenusson, com a oficina nos fundos.

Lembro-me bem daquela fachada elegante, sempre com carros novos expostos, que chamavam a atenção de quem passava.

Logo acima, o sobrado da Rádio PRE-5, a Rádio Sociedade Triângulo Mineiro.

No andar de cima, o famoso Salão Grená, com seu auditório sempre lotado. Era a nossa primeira emissora, fundada em 1933.

Aquele prédio parecia ter alma: de dia, as vozes do rádio ecoavam pelas janelas abertas... e à noite, as luzes das salas davam um brilho especial à esquina.

Ali embaixo, a Ford Derenusson movimentava a rua.

E bem em frente, embora a foto não mostre, ficava a Churrascaria Itararé, com sua entrada descendo por uma rampa e um corrimão de cimento que imitava troncos.

Eu me lembro de descer por aquela rampa.

Em frente, havia um ponto de táxi, onde se alinhavam vários Simcas.


Era um pedacinho muito vivo da cidade.

Olhando com atenção, dá pra notar uma perua Kombi fazendo manobra sobre a passarela, que cruzava o córrego das Lajes, ainda a céu aberto naquele tempo.

Cena comum, mas que hoje soa quase inacreditável.

Mais à direita, surgia o Edifício Abadia Salomão.

Ao lado, as obras do Banco do Brasil, já bem adiantadas, o prédio seria inaugurado em 1969.

No centro da imagem, o esqueleto do prédio da Equitativa dos Estados Unidos do Brasil, hoje Edifício Everest.

A obra ficou parada por um bom tempo... e só seria concluida em 1971.


Em frente, a Praça Henrique Krüger.

Lembro-me do lago, onde nadavam cágados e até filhotes de jacarés, um encanto para as crianças que passavam por ali.

Mais adiante, ficavam os Correios, e outro ponto de táxi, sempre cheio de movimento.

Na esquina da Avenida Fidélis Reis, via-se as Casas da Constrig, e mais adiante, a famosa Boate Yucatán, nome que até hoje soa como símbolo de uma época.

E lá, imponente, o Edifício Pascoal Totti, de frente para as rádios Sete Colinas e Difusora.

Para meus olhos de menino, aquele era o arranha-céu da cidade.

Na praça, o ponto dos ônibus coletivos Líder, que cruzavam as avenidas com seu barulho característico.

Cada detalhe dessa foto me faz viajar.

É como se eu ouvisse novamente os sons de Uberaba, os passos apressados, as buzinas, o burburinho das calçadas, e sentisse o cheiro do paralelepípedo novo misturado com o vento.

Um tempo que ficou marcado...

vivo dentro de mim. (Antônio Carlos Prata).

O DIA EM QUE O PRATIINHA QUASE FOI PRESO NO CINE ROYAL

Quem conta é José Wilson Prata, o querido Pratinha.

José Wilson Prata- Foto: Peixoto.

Pois é… o Pratinha já era homem feito, devia ter uns 29 anos, mas era baixinho, do tamanho de uma criança. Se a história não fosse verdadeira, a gente até duvidava.

Foi lá pros anos 1950, quando ele resolveu ir ao Cine Royal, que ficava na Praça Comendador Quintino, também conhecida como Praça do Grupo Brasil, assistir a um filme que todo mundo comentava.

Chegou todo chique, bem penteado, cheiroso, de bota engraxada, parecendo artista de cinema. Comprou o ingresso, entregou na portaria e foi entrando, todo satisfeito, procurando um bom lugar pra sentar.

Lá dentro, o cinema já tava cheio. O projetor fazia aquele barulho bonito. tre tre tre tre, o cheiro de pipoca tomava conta do ar, e o povo cochichava animado, esperando o filme começar.

Mas o laterninha, que cuidava da sessão, olhou de longe e achou aquilo meio esquisito, o filme era pra maiores de 18 anos. Foi até ele e perguntou:

— Ei, menino, quantos anos cê tem?

Pratinha respondeu, sem pestanejar:

— Tenho 29, ué!

E seguiu, procurando o assento.

O laterninha ficou desconfiado e chamou o policial de plantão, que sempre ficava nas imediações dos cinemas naquela época. O guarda chegou, mediu o Pratinha de cima a baixo e perguntou:

— Que idade o senhor disse que tem?

Pratinha, tranquilo, tirou o documento do bolso e entregou. O policial olhou, virou de um lado pro outro, coçou a cabeça e perguntou de novo:

— Tem mesmo essa idade aqui?

Aí o Pratinha, com aquele jeito danado de engraçado, respondeu:

— Ué, se o senhor não sabe ler o documento, não sou eu que vou te ensinar, não!

Rapaz… o policial ficou vermelho, bufando, e ameaçou:

— Moleque, te jogo lá embaixo!

O povo que tava perto começou a rir, cochichando, e o barulho se espalhou pela sala. O lanterninha sem graça, o policial bravo, e o Pratinha com aquele sorriso de canto.

Logo o pessoal acalmou o guarda, o mal-entendido se resolveu, e o Pratinha ficou na sessão, assistiu o filme até o fim, rindo por dentro. Quando acabou, saiu satisfeito, dizendo pros amigos:

— Pois é, quase me prenderam, mas o filme valeu a pena!

Caso lembrado e contado por Edson Alano dos Santos Prata. Pratinha todo elegante, sentado e pronto para dar aquele tapa no visual no Salão Continental - foto enviada pelo sobrinho Dauro Prata Loes.

O querido José Wilson Prata, o Pratinha, nos deixou em 11 de junho de 2005, mas sua alegria, esperteza e bom humor continuam vivos nas histórias que marcaram Uberaba e sua gente. (Antônio Carlos Prata).




quarta-feira, 15 de outubro de 2025

UBERABA E OS MESTRES DO GRUPO BRASIL

A foto dos alunos que publico junto a este texto é uma homenagem simbólica a todos os que, 
com paciência e dedicação, ajudaram a construir o futuro de tantas gerações.

Parabéns aos professores,  verdadeiros heróis da educação!

No Dia do Professor, não poderia deixar de lembrar e agradecer a todos aqueles que fizeram parte da minha vida escolar, os mestres e mestras com quem tive o privilégio de conviver de perto.

Recordo-me bem de uma passagem, lá pelos meados da década de 1960 e início dos primeiros anos de 1970, no Grupo Escolar Brasil. Quando a professora dizia: “Vamos fazer uma redação”, parecia que o coração disparava. Milhares de estudantes uberabenses daquela época têm histórias parecidas para contar. Dava uma tremedeira, uma suadeira… e, quando era prova oral, então, o nervosismo aumentava.

Bastava ouvir o nome ser chamado, e lá íamos nós nos levantar, ao lado da carteira, tentando lembrar o que havíamos decorado. Na véspera, era difícil até dormir. Eu, particularmente, evitava até conversar com os colegas para não esquecer o que tinha estudado.

Quando a professora dizia que o tema da redação era livre, a cabeça começava a girar. Eu gostava de escrever sobre geografia, história e futebol, especialmente porque o Brasil vivia o auge do seu futebol, com as conquistas das Copas de 1958, 1962 e 1970.


Naquela época, eu era craque e colecionador de vários álbuns de figurinhas, sabia tudo sobre os jogadores, os clubes e as seleções. Trocar figurinhas na hora do recreio era uma verdadeira festa, e completar o álbum era motivo de orgulho.

Naquele tempo, as professoras dominavam todas as matérias,  ensinavam português, matemática, história, geografia e ciências,  e permaneciam com a mesma turma durante todo o ano letivo. Isso criava um laço forte entre professora e alunos, uma relação de respeito, carinho e confiança que deixava marcas para a vida toda.

Entre as matérias, história sempre foi uma das minhas preferidas, e guardo com carinho a lembrança da minha professora dessa disciplina no Grupo Brasil. Não vou citar nomes, pois todas foram excelentes,  verdadeiras mestras.

A sala tinha uns 25 alunos. Alguns, quando não sabiam responder, fingiam que estavam pensando, cruzando as mãos sobre a testa, mas na verdade tentavam dar uma olhadinha na prova do colega ao lado. E as professoras, atentas, caminhavam entre as carteiras, parando de vez em quando para flagrar algum “engraçadinho” tentando colar.

Naquele tempo, não havia greve, e os salários, comparados aos de hoje,  eram compensadores. Os alunos respeitavam os professores, os serventes e todos que faziam parte da escola. Havia um verdadeiro espírito de amizade, dedicação e valorização da educação.

Hoje, infelizmente, vemos notícias de alunos que desrespeitam e até ameaçam professores. algo impensável naquele tempo. Alguns abandonam os estudos, outros se envolvem com coisas erradas, muitas vezes por falta de orientação e exemplo em casa.

Neste Dia do Professor, fica aqui meu reconhecimento e gratidão a todos os educadores, os de ontem e os de hoje. Ser professor é exercer uma das profissões mais nobres e importantes do mundo.

Parabéns aos professores,  verdadeiros heróis da educação!

E, com carinho especial, lembramos também das diretoras Terezinha Peres e Norma Moisés, que marcaram época à frente do Grupo Escolar Brasil e que hoje não estão mais entre nós, mas permanecem vivas na memória e na gratidão de todos os que tiveram o privilégio de aprender sob sua direção.

 Uberaba agradece aos seus mestres e diretoras de ontem, de hoje e de sempre. (Antônio Carlos Prata).

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

UBERABA, O TEMPO DOS BE RE RÊS

Nos fins da década de 1960 e nos primeiros anos de 1970, Uberaba ainda guardava um silêncio respeitoso diante da morte. E, quando esse silêncio se rompia, era por Eu era criança e lembro bem. Era um som constante, descendo a Rua Arthur Machado, a Avenida Leopoldino de Oliveira ou a Avenida Fidélis Reis. Fúnebre mesmo. Dava medo, do motorista, do carro e do caixão.

Assim soava a buzina dos carros fúnebres da Funerária Irmãos Pagliaro, que ficava na Avenida Fidélis Reis. O apelido “be-re-rê” nasceu dentro da própria família Pagliaro, numa brincadeira inspirada justamente nesse som metálico, rouco, que ecoava pelas ruas sempre que o carro virava uma esquina ou seguia no cortejo rumo ao cemitério.

O povo parava, tirava o chapéu, fazia o sinal da cruz. As crianças, entre curiosas e assustadas, cochichavam:

— Lá vai o “be-re-rê”..

Carros bererê da funerária Pagliaro - 
 Foto de acervo Uberaba em Fatos.

Esses carros eram verdadeiras obras de arte fúnebre. Tinham anjinhos com cornetas nas laterais, molduras douradas e cortinas de renda nos vidros. O carro branco, o mais comentado, era usado para crianças e moças virgens,  o famoso “carro dos anjinhos”. O preto e o roxo eram destinados aos adultos, e às vezes havia um rosado, reservado para pessoas importantes da sociedade.

Os “be-re-rês” ficavam guardados na garagem da funerária, nos fundos do prédio, cobertos com lonas brancas, como se descansassem à espera da próxima despedida. Quando algum funcionário levantava a lona ou ligava o motor, o som da buzina parecia ecoar pela memória da cidade.

E como tudo em Uberaba ganhava poesia ou humor, até a morte virou verso de rua. As crianças cantavam, entre risos e arrepios:

“Quando você morrer, seu corpo vai num be-re-rê, sua língua vai num FeNeMê...”

Era a praga dos tempos antigos, dita em tom de brincadeira, mas cheia de respeito disfarçado.

Com o passar dos anos, os “be-re-rês” foram tirados de circulação. Vieram os carros modernos, silenciosos, sem anjinhos e sem buzina. Mas quem viveu aquele tempo ainda escuta, lá no fundo da lembrança, o eco rouco e solene que marcava o último adeus de uma Uberaba que também já se foi: “be-be-be-rê-rê-rê-rê...” (Antônio Carlos Prata)

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

JUSCELINO EM UBERABA, O FRANGO CAIPIRA COM QUIABO E A MOLECADA DA LEOPOLDINO

Na década de 1950, a Avenida Leopoldino de Oliveira, nº 3394, abrigava a residência de João Rodrigues da Cunha e sua esposa, Nazir Borges Cunha. Foi nesta casa que, em diversas vindas a Uberaba para a Exposição de Gado Zebu, o governador Juscelino Kubitschek se hospedava como hóspede de honra do casal.

Fachada da casa. Foto: Antônio Carlos Prata.

A casa, sempre cheia de meninos criados por dona Nazir, era um reduto alegre e barulhento. Certa ocasião, Juscelino chegou apressado: precisava se banhar e vestir-se às pressas para um jantar de gala.

Ao atravessar os cômodos, percebeu a movimentação no fundo: na copa, a molecada se esbaldava em um frango caipira com quiabo fumegante.

Curioso e bem-humorado, aproximou-se:

— O que vocês estão comendo aí?

Assim que ouviu a resposta, não resistiu: puxou uma cadeira, pediu um prato e sentou-se entre os meninos.

As empregadas e dona Nazir correram a advertir:

— Governador, deixe que arrumamos uma mesa mais elegante!

Ele riu e retrucou:

— Elegante é aqui! Cadê o prato?

E, enquanto saboreava a refeição simples e saborosa, comentou:

— Este é o prato mais gostoso que existe… é o meu predileto!

Foi uma festa. Os meninos jamais esqueceram da cena. Só depois, satisfeito e divertido, Juscelino seguiu para o jantar de gala, levando consigo mais uma história saborosa para contar.

História narrada por dona Nazir, quando ainda era viva.

De Uberaba para o mundo: foi nesta casa que Juscelino, sem frescura, puxou a cadeira, dividiu o frango caipira com a molecada e, de barriga cheia e alma leve, encarou o jantar de gala.

(Antônio Carlos Prata)

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

O XERIFE DA RUA SETE DE ABRIL

Na década de 1970, poucos em Uberaba não conheciam Delcides, o Delcidão, chamado com respeito e carinho de Xerife da rua 7 de Abril. Pedreiro de ofício, homem de mãos calejadas, era presença constante no meio do quarteirão onde morava, numa casa simples de portalzinho de ferro e duas janelas sempre abertas para a rua.

  Delcides. Foto /Uberaba em Foto. 

Era um homem forte, com postura de autoridade, mas generoso no trato. Os vizinhos o tinham em alta conta, e bastava aparecer na porta com seu inseparável chapéu, ora um Panamá, ora uma boina, para que logo puxassem conversa.

Numa manhã qualquer, Delcides estava no bar do Seu João, na esquina com a Barão de Induberaba, em companhia do professor Paulo Rodrigues. O bar seguia sua rotina: fregueses tomando café, sinuqueiros batendo bola, cervejas geladas nas mesas e o burburinho típico do bairro.

Foi então que entrou um homem negro, trazendo uma mala gasta e o cansaço estampado no rosto. Usava uma boina simples, como se fosse parte dele. Pediu água, comentou que estava com fome e, em seguida, lançou a pergunta que gelou o ambiente:

— O senhor sabe me dizer se aqui mora alguém chamado Delcides?

As descrições que deu batiam em cheio com a vida de Delcidão. Ele respirou fundo, engoliu seco e, disfarçando, passou a investigar: perguntou o nome do pai, da mãe, detalhes da família. O homem respondeu tudo com precisão.

 Chamava-se Firmino. E contou que, ao longo da vida, soube que tinha um irmão em Uberaba, na rua Sete de Abril. Agora, já envelhecido, decidira procurá-lo.

Os olhares no bar se cruzaram. O professor Paulo já tinha desvendado a cena; "Seu João Serrano" também desconfiava. Os fregueses tentavam disfarçar a atenção, mas todos sabiam que algo grande estava acontecendo.

Delcides, mesmo acostumado ao peso das pedras e ao esforço do trabalho, sentia os olhos marejados. Perguntou:

— Você já tomou café da manhã?

— Ainda não. Primeiro precisava encontrar meu irmão, respondeu o recém-chegado.

Foi então que Delcides se levantou, pegou a mala e disse:

— Vamos pra minha casa. Lá você vai descansar, tomar café, ajeitar as coisas. É humilde, mas é minha.

E assim seguiram até a casa do portalzinho de ferro e das duas janelas. Antes de entrar, Delcides ajeitou o chapéu, olhou firme para o visitante e revelou:

— O irmão que você procura… sou eu.

O abraço foi imediato, desfeito em lágrimas. Dois homens já feitos, chorando como crianças no meio da rua. Dali em diante, tornou-se comum vê-los sentados na calçada: Delcides com seu chapéu Panamá ou boina, Firmino sempre de boina, conversando por horas, como se tentassem recuperar cada minuto do tempo perdido.

E os vizinhos, que tanto gostavam dos dois, se alegravam em vê-los juntos.

Os anos passaram. Primeiro partiu Firmino. Depois, Delcidão, o pedreiro forte e generoso, o Xerife da rua Sete de Abril, também partiu.

Mas quem presenciou aquele reencontro nos anos 1970 jamais esqueceu a força daquele abraço, simples e grandioso como a própria vida. 

(Antônio Carlos Prata).

sábado, 27 de setembro de 2025

BAR RESTAURANTE PULENTA

Foto da década de 1970, de autoria desconhecida. O Bar Restaurante Pulenta, de propriedade de Jerônimo Beninato, apelido Pulenta, e sua esposa Dona Iolanda, ficava na esquina das ruas Padre Zeferino e João Pinheiro.

Bar e restaurante Pulenta. Foto: Autoria desconhecida. Década de 70.

Aos sábados e domingos, o movimento era intenso: o restaurante enchia rapidamente, e muitos fregueses corriam para garantir uma mesa. As filas eram enormes. O frango era abatido no próprio local e preparado de diferentes formas: frango ao molho pardo, frango assado com farofa, polenta frita, além das famosas coxinhas de frango.

O velho “Pulenta”, sempre gordo e bem-humorado, costumava ficar sentado perto da porta, ora de braços cruzados, ora com o braço apoiado sobre a mesa, aguardando os fregueses. Quando demorava a ajudar nas tarefas, Dona Iolanda não hesitava em "puxar-lhe a orelha" para que colaborasse. O frango, sempre caipira, era assado na brasa, o que garantia o sabor inesquecível.

Um detalhe marcante era o tambor cilíndrico verde, cortado ao meio e fixado na parede, com dois compartimentos. Ele ligava a cozinha ao salão, sem que ninguém tivesse acesso visual. O pedido era escrito, colocado no tambor e girado para a cozinha. Logo a comida vinha de volta pelo mesmo sistema. Quando demorava, a cena se transformava em diversão: Dona Iolanda ou Pulenta ou garçons batiam no tambor para apressar o pedido, arrancando risos de todos. Até Dona Iolanda e o Pulenta às vezes chegavam a colocar a boca perto do tambor para “reclamar” ou pedir algo mais. Não à toa, várias partes do tambor estavam amassadas de tanto tapa que levava. Coitados dos cozinheiros e cozinheiras, que do outro lado recebiam essa “pressão” com bom humor.

No caixa, havia uma máquina registradora com manivela, e ao lado dela um baleiro giratório cheio de balas sortidas, que fascinava a criançada. Eu mesmo, ainda menino nos anos 1960, ficava encantado com aquele baleiro colorido.

As mesas estavam sempre cobertas com toalhas brancas impecáveis. As pessoas podiam comer no local ou levar as refeições para casa e até mesmo para clubes.

Ativando mais minhas memórias das décadas de 1960 e 1970, recordo que havia sempre um grupo de amigos que se reunia religiosamente nos fins de semana. Não falhavam: emendavam mesas e faziam do Pulenta o ponto certo de encontro e alegria.

O restaurante fechou, os proprietários e muitos funcionários já não estão mais entre nós. Mas o Pulenta permanece, não apenas na memória, mas no jeito de contar histórias, de rir alto à mesa, de lembrar do frango caipira e da polenta dourada que nunca faltava.

Era italiano no nome e na alma: simples, barulhento, acolhedor. Ali, Uberaba aprendia que comida boa não é só para matar a fome, é para juntar gente, reforçar amizades, fazer família.

O Pulenta era isso: mais que um restaurante, um pedaço de herança italiana servida em travessas de alumínio, regada a vinho, risadas fartas e muita conversa atravessada.

Hoje restam apenas lembranças, mas lembranças tão vivas que ainda exalam o cheiro da brasa, o sabor da polenta frita e a alegria das mesas cheias. 
(Antônio Carlos Prata).

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

A PAREDE DA DROGASIL QUE AINDA GUARDA UMA VIDA

Em Uberaba, poucos personagens populares foram tão lembrados quanto Luís Antônio Martins, conhecido por todos como Toninho da Carrocinha.

Luís Antônio Martins. 
Foto do acervo de Uberaba em Fatos.

Na calçada, encostado com seu carrinho na parede da Drogasil, no meio do quarteirão do Calçadão, Toninho fez dali o seu território de existência. Marcado pela hidrocefalia e pela paralisia infantil, transformava as limitações em resistência, e a simplicidade em uma presença inesquecível.

Morador do bairro Abadia, todas as manhãs seguia, com a ajuda de familiares e amigos, até o Calçadão da Arthur Machado. No vaivém apressado do centro, encontrava gente de todos os cantos: recebia cumprimentos, trocava sorrisos e, muitas vezes, posava para fotografias. Mais do que pedir ajuda, Toninho se tornou parte da paisagem afetiva da cidade, lembrado pelo jeito peculiar e pelo humor que nunca lhe faltava.

Na parede, encostado com seu carrinho, Toninho transformava aquele espaço em território de existência. Ao seu lado, o amigo Bodinho, sempre presente, compartilhava sorrisos e cumplicidade. Juntos, tornavam cada dia no Calçadão mais humano e memorável, lembrando a todos que amizade e presença podem ser tão importantes quanto qualquer gesto grandioso.

Faleceu em 13 de outubro de 2010, aos 68 anos, vítima de complicações renais agravadas por pneumonia. Após sua partida, surgiram rumores de que teria vendido seu cérebro à Faculdade de Medicina. Histórias nunca confirmadas, mas que revelam como sua figura já habitava o imaginário popular.

Hoje, Toninho descansa no Cemitério Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, Quadra D1, Sepultura 324.

Ainda assim, permanece vivo na memória coletiva, como se cada pedra do Calçadão guardasse a lembrança de sua presença na parede da Drogasil, no meio do quarteirão. (Antônio Carlos Prata).

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

HOMENAGEM AO SR BENEDITO "PELÉ", O CICLISTA, ARTISTA E PATRIMÔNIO VIVO DO MERCADÃO

 Benedito Sebastião de Souza Coelho. Foto Antônio Carlos Prata.

Benedito Sebastião de Souza Coelho, mais conhecido por todos como Pelé, nasceu em 24 de junho de 1950, no pequeno distrito de Água Branca, em São Paulo. Filho de Washington de Souza Coelho da Fonseca e Doraci Zacarias Borges, cresceu em uma família numerosa, com seis irmãos: dois homens e quatro mulheres. Uma das irmãs faleceu em 5 de setembro de 2022, deixando um vazio, mas os laços familiares seguem firmes com os cinco irmãos que permanecem vivos. Hoje, Pelé divide a casa com o irmão Luiz Humberto Souza Coelho, a quem chama carinhosamente de “gente boa”. “Amo todos os meus irmãos”, afirma com um sorriso sereno.

Seu pai, Washington, trabalhava na Companhia de Estradas (DER-MG).
Homem de coragem e muito esforço, viu sua vida ser abreviada pelo alcoolismo, falecendo em 1967, aos 47 anos. Naquele tempo, Pelé tinha apenas 17 anos e estudava na Escola Dom Alexandre, localizada na Praça Frei Eugênio. Ele ainda guarda na memória, com nitidez, aquela sexta-feira de despedida, quando acompanhou o cortejo até o Cemitério São João Batista.

A jornada da família em Uberaba teve início em 1961, mas não foi fácil. Entre 1961 e 1963, viveram dias de fome e incertezas, dormindo sob as mangueiras e marquises do bairro da Abadia, sem teto nem rumo. “Era muita, muita dificuldade”, lembra Pelé, com os olhos distantes. Foi então que a bondade se manifestou na figura do Sr. Bento Valim, morador em frente ao Grupo América, que não apenas ofereceu ajuda, mas providenciou uma casa para que a família pudesse se reerguer. “A esse homem devemos muito”, diz Pelé, com gratidão que o tempo não apaga.

Aos 15 anos, Pelé começou a frequentar o Mercado Municipal de Uberaba. Fez amizade com os comerciantes das bancas e com os fregueses, passando a fazer entregas a pé. Desde o nascimento, convive com uma lesão traumática nos pés, mas isso nunca o impediu de trabalhar. Com o tempo, decidiu modernizar seu serviço de entregas e procurou ajuda do colunista e radialista Ataliba Guaritá, o Netinho e de sua esposa, Dona Cornélia, conhecida pela generosidade. Eles organizaram uma lista de arrecadação e conseguiram reunir 1.040 cruzeiros. A primeira bicicleta, que custou 340 cruzeiros, foi comprada em Ribeirão Preto, graças ao pedido feito ao amigo Wilson de Oliveira, "Chibiu" açougueiro conhecido na cidade. O restante do valor foi guardado na poupança.
Com a bicicleta, Pelé ganhou agilidade e conseguiu ampliar o número de entregas, tornando-se uma figura cada vez mais presente nas ruas e no Mercado. A relação de Pelé com a bicicleta é tão marcante que hoje duas delas estão em exposição. Uma no CDL e outra no Shopping Uberaba. “Sou importante”, brinca ele, com seu bom humor habitual.

Nem tudo, porém, foi pedal tranquilo. Ao longo dos anos, já teve duas bicicletas roubadas, uma delas recentemente. Mas a solidariedade sempre cruzou seu caminho: amigos lhe presentearam com novas magrelas para que pudesse seguir trabalhando.

Aos 23 anos, Pelé descobriu uma outra paixão, que floresceu lado a lado com o seu amor pelas bicicletas: a arte de desenhar. Exímio caricaturista e talentoso retratista de paisagens, ele transforma traços e cores em memórias vivas, capturando a alma das pessoas e da natureza ao seu redor. Seus desenhos são um reflexo sensível do cotidiano do Mercado e das ruas de Uberaba, uma arte simples, verdadeira e profundamente humana.

Reconhecido por sua dedicação, força e talento, Pelé já foi homenageado por diversos segmentos da sociedade uberabense, que veem nele não apenas um entregador ou artista, mas um símbolo vivo de resistência, esperança e amor à cidade.
A vida de Pelé é feita de lutas, quedas e recomeços, mas também de generosidade, amizade e gratidão. Do menino que chegou a Uberaba passando fome ao homem que se tornou parte da identidade do Mercado Municipal, sua trajetória é prova de que a força não vem apenas das pernas que pedalam, mas do coração que nunca desiste.
Hoje, Pelé é mais do que um entregador ou um personagem conhecido da cidade - é um exemplo vivo de resistência, alegria e talento. Pelas ruas de Uberaba, entre risos, histórias, pedaladas e traços, ele continua a construir um legado simples e valioso: o de fazer o bem, cultivar amizades, criar arte e seguir adiante, sempre com um sorriso no rosto.

Sr. Benedito “Pelé”, o senhor é mais do que entregador. É memória viva, é artista, é exemplo, é coração que pedala e desenha entre nós.
Obrigado, Pelé. Por cada entrega, cada traço, cada tombo superado, e por tudo que representa para Uberaba.
(Antonio Carlos Prata)


sábado, 9 de agosto de 2025

O CASO DO FUMANCHU E O CHUVEIRO

José Estanislau de Jesus - Fumanchu. 
Foto de Acervo de Uberaba em Fotos.

Lá pelos idos de 1993, Fumanchu, figura famosa de Uberaba, ganhou um chuveiro de presente da permissionária Dona Irene Alves Santos, lá do Mercado Municipal.

Todo contente, chamou o Carlinhos do Racipesca: 

- Ô Carlinhos, instala esse chuveiro pra mim lá no meu barraco, atrás da biblioteca!

Carlinhos, gente boa, foi lá, instalou tudo direitinho, conectou os fios e foi embora.

Meia hora depois, lá vem o Fumanchu, descendo o morro da Santa Rita, esbravejando e nervoso:

-  Carliiinhos! Seu serviço não prestou! O chuveiro não esquenta.

Carlinhos, assustado, volta correndo, confere a conecção, olha o chuveiro, coça a cabeça e pergunta:

- Ué… cadê o padrão de energia?

E o Fumanchu, com a maior naturalidade do mundo:

-  Uai, não tem, não...

Carlinhos ficou em silêncio por uns 20 segundos.

Depois virou as costas e foi embora, descendo o morro devagarinho, sem dizer uma palavra.

Moral da história:

Fumanchu achou que chuveiro funcionava só na força do pensamento. (Antônio Carlos Prata)

A PADROEIRA NOSSA SENHORA DA ABADIA VISITA E ABENÇOA O MERCADO MUNICIPAL DE UBERABA


Lúcia de Carvalho de Fernandes Dias e Padre José Romualdo. Foto Antônio Carlos Prata.

Em um momento de profunda fé e emoção, o Mercado Municipal de Uberaba foi abençoado com a visita de Nossa Senhora da Abadia, Padroeira da cidade. Sua presença, carregada de espiritualidade e devoção, tocou o coração de comerciantes, clientes e trabalhadores do local. 
A visita faz parte das celebrações da Festa da Padroeira, tradicionalmente realizadas de 1º a 15 de agosto, quando fiéis de toda a cidade e região se reúnem para demonstrar sua fé e gratidão à Virgem Maria sob o título de Nossa Senhora da Abadia.

A imagem da Santa foi recebida com grande alegria no portão do Mercado Municipal por Lúcia de Carvalho de Fernandes Dias, que a recebeu das mãos do Padre José Romualdo, pároco da Igreja Nossa Senhora da Abadia. O momento, repleto de emoção, simbolizou a união da fé popular com a tradição religiosa, fortalecendo os laços da comunidade com sua protetora celestial. Em 08/08/25. (Antônio  Carlos Prata).

terça-feira, 5 de agosto de 2025

LAVOURA & COMÉRCIO - ONDE UBERABA SE ENCONTRAVA

A porta de madeira rangia ao abrir. Do lado de dentro, o ar trazia o cheiro quente da tinta recém-saída das rotativas misturado ao aroma forte do café vindo da copa.

Lavoura e Comércio. Foto: Pitty.


Ali, na Rua Vigário Silva, em frente ao imponente Hotel do Comércio, vizinho da Livraria ABC e do Bar 1001, onde Chico Xavier tomava seu café, funcionava o Lavoura & Comércio — um palco vivo de histórias.

Hoje, o prédio que abrigou o jornal é ocupado pela Lojas Americanas, mas a memória daquele lugar permanece viva no coração de Uberaba.

Na lateral esquerda, no parapeito da janela, havia um tabloide afixado com as principais notícias que seriam publicadas. Várias pessoas paravam ali, curiosas, para ler os primeiros títulos do dia, criando uma pequena roda de conversas e expectativas na calçada.

Assim que a edição saía das máquinas, era entregue aos jornaleiros, que já corriam pelas ruas com os jornais debaixo do braço.

Das calçadas à Praça Rui Barbosa, da Rua Arthur Machado a outros cantos movimentados da cidade, ecoava o grito inconfundível:

“Aêêoooô Lavoura! Aêêoooô Lavoura!”

E logo, a manchete do dia era anunciada em voz alta, prendendo a atenção de quem passava.

Dentro da redação, entre mesas cobertas de papéis e máquinas de escrever batucando sem descanso, diretores visionários davam o rumo, jornalistas corriam contra o tempo, repórteres saíam para as ruas em busca da notícia, fotógrafos armavam suas câmeras, e colaboradores mantinham tudo funcionando como um relógio.

Cada um, com sua função, tecia as páginas que contariam o dia de Uberaba.

E não eram apenas profissionais da imprensa que cruzavam aquela porta.

Por ali passaram artistas de olhar sonhador, escritores com cadernos gastos, atores trazendo no rosto as marcas do palco, jogadores de futebol com o cheiro da vitória, políticos e personalidades sedentos de espaço nas manchetes.

Todos sabiam: se queriam ser notícia em Uberaba, o caminho passava pelo Lavoura.

O povo repetia, com orgulho e certeza:

“Se o Lavoura não deu, em Uberaba não aconteceu.”

O jornal era a sala de visitas da cidade, lugar onde a vida se registrava para sempre.

As manchetes que nasciam ali cruzavam Minas, chegavam a outros estados e moldavam opiniões.

Por quase 104 anos ininterruptos, o Lavoura resistiu a crises, mudanças tecnológicas e transformações de época, interrompendo sua circulação apenas por dois dias — não por falta de coragem, mas por uma greve dos gráficos.

E então, no 27 de outubro de 2003, a última edição saiu.

As máquinas silenciaram.

Mas, para Uberaba, o Lavoura & Comércio não se calou.

Permanece vivo na memória dos que o fizeram acontecer — diretores, jornalistas, repórteres, fotógrafos e colaboradores — e de todos que tiveram a sorte de ler suas páginas.

Porque certos lugares não fecham as portas — eles se transformam em eternidade. (Antônio Carlos Prata)

SINUQUEIROS DE UBERABA ANTIGAMENTE

No início dos anos setenta, lembro que aos sábados pela tarde. Na velha rua Coronel Manoel Borges, bem no coração de Uberaba, funcionavam, a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, em frente a farmácia São Sebastião e Banco Comércio e Indústria, à direita, a Padaria Brasil — com suas roscas e pães de sal ainda quentinhos —, a Grutinha Santa Luiza, Nando Loterias, a Tabacaria Sumaré, o Bar do Mosquito, o Barros e Borges, farmácia Triângulo e a relojoaria, onde os ponteiros pareciam bater mais devagar, e, ao fundo, um vão discreto entre um casarão antigo. 

   Rua Cel.Manoel Borges.Foto colorizada İA.

Poucos notavam, mas quem morava ali sabia: era a entrada para um pequeno mundo de calçadas de paralelepípedos gastas e histórias longas. O chão guardava os passos de gerações inteiras, num corredor estreito onde funcionava à direita meio escondido sob uma marquise de zinco, o Manogra, não era só um salão de sinuca — era um ponto de encontro. Os mais jovens e velhos se reuniam ali para partidas demoradas, conversas baixas, piadas antigas e cafés amargos. Era lugar de apelidos, rivalidades amistosas e olhares demorados sobre jogadas precisas. Muitos iam só pra ver. Outros, para cortar caminho, aproveitavam a sombra fresca do corredor e o murmúrio constante das conversas.


Hoje, quem passa pela rua Cel.Manoel Borges talvez nem imagine o que havia por trás daquele casarão. As vitrines mudaram, os sons silenciaram, mas a memória permanece, viva e pulsante, entre as frestas do tempo. Porque ali, naquele pequeno vão, Uberaba respirava — e a rua, em sua rotina discreta, guardava o eco de tudo que já foi. F. (Antônio Carlos Prata)

HOMENAGEM AOS MENINOS JORNALEIROS DE UBERABA

Aêooooô Lavouraaa!


Jornaleiros do Lavoura e Comércio. Ano 1968  
Foto do Acervo de Uberaba em Fotos. 

Foto de 1968, do Acervo de Uberaba em Fotos, registrada na esquina da Rua Major Eustáquio com a Avenida Leopoldino de Oliveira, sobre a ponte.

O eco desse grito atravessava as tardes de Uberaba, vibrando pelas vozes firmes e potentes dos meninos jornaleiros. De passos ligeiros e mãos ágeis, eles espalhavam o Lavoura e Comércio por ruas, cafés e esquinas, levando-o direto ao coração e aos lares da cidade.

Fundado em 1899, o Lavoura e Comércio foi um dos pilares da imprensa no Triângulo Mineiro, mas sua chegada aos leitores dependia desses jovens trabalhadores, quase sempre esquecidos pela história. Muitos começaram cedo, trocando brinquedos pela luta diária nas ruas, enfrentando chuva, sol e o peso das responsabilidades.

Alguns descalços, outros de chinelos gastos, carregavam mais que jornais: levavam informação, esperança e o pulsar vivo de Uberaba. Suas vozes — mistura de infância e maturidade precoce — disputavam espaço com o barulho dos automóveis, fazendo vibrar cada esquina.

Hoje, ao recordar o chamado “Aêooooô Lavouraaa” que cortava o ar, celebramos a memória desses pequenos heróis da notícia — meninos que transformaram papel impresso em história viva

Este relato passa a ser parte dos registros de Coisas e Fatos Antigos de Uberaba. (Antônio Carlos Prata).

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

FUMANCHU - A VOZ QUE ECOAVA POR UBERABA

Quem viveu Uberaba nos anos 1970 e 1998, certamente lembra: era fim de tarde, o comércio fervilhando, e lá vinha ele pela calçada, passo tranquilo, bigode marcante, megafone na mão.

José Estanislau da Silva, Fumanchu.
Foto Acervo Uberaba em Fotos. 

— “Atenção, desportistas! Hoje no Uberabão, Uberaba e Nacional!”

A voz metálica atravessava quarteirões. Crianças riam, comerciantes acenavam, torcedores já se imaginavam na arquibancada. Era José Estanislau da Silva, mas ninguém o chamava assim. Para a cidade, ele era simplesmente Fumanchu.

Morava no bairro Estados Unidos, em um barracão simples na Rua Pedro Floro. Tinha coração manso e sorriso fácil, mas carregava consigo o peso de dois velhos companheiros: o cigarro e a bebida. Ainda assim, era querido e respeitado por todos.

Quando deixou o álcool de lado por um tempo, abriu um ponto para engraxar sapatos na Rua Coronel Manoel Borges, bem em frente à extinta Sociedade Rural do Triângulo Mineiro. Pano na mão, graxa na lata e conversa na ponta da língua, recebia clientes e amigos como quem recebe parentes.

O destino, porém, o fez vender o ponto para o amigo “Batata”. Com o dinheiro, voltou ao velho vício. Foi então que contou com o apoio de Jesus Mazano e Dr. Antônio José de Barros, que o encaminharam a um centro de recuperação.

Depois dessa fase, Fumanchu se reinventou. Passou a morar nos fundos da Biblioteca Municipal, onde cuidava do jardim com esmero. Plantava flores, árvores frutíferas e, junto ao seu inseparável cachorro Brinquinho, parecia finalmente em paz.

Fumanchu partiu em 18 de janeiro de 1998. Mas, para quem viveu sua época, basta fechar os olhos e é possível ouvi-lo outra vez:

— “Atenção, desportistas! Hoje no Uberabão, Uberaba e Nacional!”

E lá vai ele, caminhando entre as ruas da memória, anunciando para sempre o próximo jogo, como se a vida fosse uma eterna tarde de domingo no estádio Uberabão. (Antônio Carlos Prata).

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Uma Vida a Serviço da Comunidade: Doutor José de Souza Prata Origens e Formação


Doutor José de Souza Prata. 

 "A base sólida do conhecimento é o alicerce de toda grande obra."

Natural das ladeiras de Ouro Preto, filho de Carlos Simões Prata e de Maria Antônia de Souza Prata, José de Souza Prata formou-se pela renomada Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Ao lado de sua esposa, Nadir Cruvinel Borges Prata, trilhou um caminho de dedicação e excelência que deixaria marcas indeléveis em Uberaba e no Triângulo Mineiro.

Carreira Jurídica

"Justiça não é somente um conceito, mas uma prática diária."

Sua carreira foi marcada pelo compromisso com a justiça e o bem-estar social: iniciou-se como Promotor de Justiça, Delegado e Juiz Municipal nas comarcas de Sacramento e Uberaba, sempre pautado pela ética, conhecimento profundo e uma consciência jurídica clara. Ao deixar a magistratura, abriu seu escritório de advocacia em Uberaba, conquistando o respeito e a admiração de colegas e clientes pela sua idoneidade moral e sólida cultura jurídica.

Educação e Formação

"Educar é plantar sementes para o futuro."

Além do Direito, dedicou-se ao ensino, tornando-se um dos pilares das faculdades de Direito do Triângulo Mineiro e de Franca (SP), lecionando com paixão e sendo um dos professores fundadores dessas instituições que formariam gerações futuras.

Liderança Comunitária

"A verdadeira liderança transforma vidas e constrói legados."

Foi presidente da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro — atual ABCZ — no período de 1939 a 1941, sendo um de seus fundadores. Durante seu mandato, liderou a construção do emblemático Parque Doutor Fernando Costa, que se tornou sede definitiva da entidade e referência nacional na pecuária brasileira. Também foi responsável pela construção do edifício-sede na Rua Manoel Borges, que abrigou a instituição por muitos anos.

Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção de Uberaba também entre 1939 e 1941, diretor do Jockey Club local em várias gestões e provedor da Santa Casa de Misericórdia, onde cuidou da saúde e do amparo social com igual zelo.

Voz na Imprensa

"Palavras são ferramentas para a construção do conhecimento e da cultura."

Na imprensa local, sua voz sagaz ecoou como comentarista e cronista, contribuindo para o enriquecimento cultural e o fortalecimento do espírito comunitário.

Legado Eterno

"O verdadeiro legado é aquele que inspira as futuras gerações."

José de Souza Prata faleceu em 19 de julho de 1962, mas seu legado permanece vivo no coração da cidade que ajudou a edificar. Como homenagem eterna, uma rua localizada no bairro Parque das Américas, em Uberaba, leva seu nome: Rua Doutor José de Souza Prata.

terça-feira, 8 de julho de 2025

VELHA RODOVIÁRIA DE UBERABA FOI O PONTO DE ENCONTROS E DESTINOS DE UM POVO

31/07/1945 – É entregue no mês a primeira Rodoviária de Uberaba, na Praça da Bandeira (futura Praça Dr. Jorge Frange), no coração do bairro São Benedito, onde o tempo parece sussurrar histórias pelas ruas, um local em especial guarda memórias e emoções, que transcendem gerações: a "Rodoviária Velha". Ela pode não ter mais o burburinho diário de ônibus partindo e chegando, mas, seu significado vai muito além de um mero terminal. 

Foto colorizada IA. 

Para muitos uberabenses, a Rodoviária Velha, foi a porta de entrada e saída para um mundo de possibilidades. Ali, entre o cheiro de diesel e a agitação dos embarques, pais se despediam de filhos, que partiam em busca de sonhos, amantes trocavam olhares prometendo reencontros e migrantes levavam consigo a esperança de uma vida melhor. Quantas alegrias de reencontros calorosos foram testemunhadas por suas paredes? Quantas lágrimas de despedidas, carregadas de saudade, escorreram em seus bancos? 

Mais do que um ponto de trânsito, a Rodoviária Velha foi um verdadeiro palco de histórias humanas. Cada bilhete comprado, cada mala despachada, cada abraço apertado representava um capítulo na vida de alguém. Era o lugar onde as notícias da cidade grande chegavam, onde a modernidade batia à porta e onde a identidade de Uberaba se conectava com o restante do país. 

Hoje, demolida, a Rodoviária Velha permanece como um elo com o passado, um lembrete vívido de um tempo em que as viagens eram mais que deslocamentos geográficos; eram jornadas de vida, repletas de expectativas e emoções. Ela continua a ser um símbolo de memória afetiva para o povo de Uberaba, um lugar onde a história da cidade e de seus habitantes se entrelaça em uma narrativa de partidas, chegadas e, acima de tudo, de um profundo senso de comunidade. 

Após alguns anos o velho terminal não tinha mais capacidade para atender a demanda. Uma nova rodoviária foi construida no mesmo bairro, na praça Dr. Carlos Terra e inaugurada em 22 de setembro de 1972. Foto colorizada IA. (Antônio Carlos Prata).

quarta-feira, 2 de julho de 2025

*A partir desta quinta interdições de trânsito para gravação de longa-metragem serão no período noturno*

A Prefeitura de Uberaba informa que, a partir desta quinta-feira (3), as interdições de trânsito programadas para as gravações do filme “Nicole: primeira fome” ocorrerão somente no período noturno. A produtora Technoscope Films, responsável pelo longa-metragem, tem cronograma de gravações na cidade até o dia 18 de julho. 




10h50 Atualizado há 2 semanas





















As gravações de Nicole começam em junho; o lançamento está previsto para 2026 — Foto: Divulgação

O produtor executivo Ricardo Tilim explicou que por se tratar de uma história de vampiros, a maior parte das cenas serão filmadas à noite. “Tivemos apenas três dias de gravação no período diurno nesta semana e, a partir de quinta-feira, todas as filmagens serão noturnas. Pedimos a compreensão da população neste período, pois a interdição de trânsito é necessária para o deslocamento e montagem de equipamentos, e ainda a circulação da equipe audiovisual e elenco do filme”, contou. Ele ressaltou que “Nicole: primeira fome” é a maior produção já filmada em Uberaba, com o envolvimento de cerca de 150 profissionais, de vários estados brasileiros. 

As interdições de trânsito temporárias estão sendo monitoradas pela Secretaria de Defesa Social (SDS). Os moradores das ruas interditadas permanecem com acesso livre para o estacionamento ou retirada de veículos. O transporte coletivo também permanece com circulação normal, informou a pasta.


Confira o cronograma de fechamento/vias e horários:


03/07 - Fechamento no entorno da Praça Santa Teresinha, da Rua Aristides Borges, Rua Ricardo Misson, Rua Álvares Cabral e Rua Tiradentes, das 18h30 às 5h.


03/07 e 04/07 - Rua Segismundo Mendes, fechamento para veículos em geral, exceto transporte coletivo e moradores, no trecho entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua Lauro Borges, das 21h às 5h. 


13/07 a 18/07 - Rua Tristão de Castro, fechamento para veículos em geral, exceto transporte coletivo e moradores, no trecho entre a Rua São Sebastião e a Travessa Domingos Paraíso, das 19h às 5h. 


Produção – Com direção de Jotagá Crema, um dos diretores e roteiristas da aclamada série 3%, da Netflix, o filme “Nicole: primeira fome” é inspirado nos melhores clássicos de vampiro. O roteiro de ficção, que levou quase dois anos para ser finalizado, foi o vencedor do edital estadual de longas-metragens da Lei Paulo Gustavo. 

“A cidade é bem preservada, tem identidade e está nos recebendo muito bem. A produção conta com profissionais excelentes do mercado audiovisual, que estão juntos em Uberaba para fazer um filme especial. A intenção é mostrar uma história de vampiro, com personagens profundos, de uma forma original e com características de terror, e que gere orgulho para os fãs desse gênero e para a população da cidade”, explicou o diretor Jotagá.

*Assessoria de Comunicação Technoscope Films/Secretaria Especial de Comunicação – 02/07/25*

terça-feira, 1 de julho de 2025

"Homenagem ao Pelé do Mercado Municipal"

Por iniciativa do presidente Lourival Ferreira da Costa, a CDL Uberaba (Câmara de Dirigentes Lojistas), por meio do Museu do Comércio Fulvio Ferreira, prestou uma merecida homenagem a Benedito Sebastião de Souza Coelho, ou Pelé do Mercadão — figura icônica do nosso comércio local. Ele chega aos 75 anos de idade, dos quais 60 dedicados ao trabalho exemplar e reconhecido plenamente. 


Benedito Sebastião de Souza
 Coelho/ Foto Reprodução. 

Pelé iniciou suas atividades em 1965, ao identificar uma oportunidade em um serviço ainda raro entre as bancas do Mercado: as entregas. Com visão empreendedora, antecipou-se às necessidades do público e aplicou, de forma intuitiva, os princípios que hoje reconhecemos nas startups — identificando “dores” do mercado e validando soluções com eficiência.

A cerimônia foi realizada nesta terça-feira, dia 24 de junho, às 17h, nas dependências do Museu do Comércio Fulvio Ferreira, na sede da CDL Uberaba, na Rua Luiz Soares, 520, Vila Olímpica. O local faz parte do Geoparque Uberaba e foi escolhido por sua representatividade histórica, turística e comercial — assim como o Mercadão, onde Pelé construiu sua trajetória. (CDL).

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Pelos 200 anos de falecimento de Tristão de Castro

A “Fabrica da Matriz de Santo Antônio e São Sebastião”, pelo seu fabriqueiro, o benemérito Monsenhor Inácio Xavier da Silva, representada pelo Dr. Felício Buarque de Macedo, intentou, em Outubro de 1909, uma ação de reinvindicação contra a Câmara Municipal, pretendendo as terras da doação de TRISTÃO de CASTRO. Doação essa sabida pelo Marquez de São João da Palma, governador da “província de Goyáz” e outorgada por Dom João VI, em 13 de faveiro de 1811, sendo umas das datas do aniversário da cidade de Uberaba, discutido no futuro.

Imagem: foto meramente ilustrativa, editada
 por Guido Bilharinho.

A Câmara, tendo como Agente Executivo Dr. Felipe Aché e como advogados o Cel. Antônio Cesário da Silva e Oliveira, Mário de Mendonça Bueno de Azevedo e Dr. Antônio Garcia Adjuto, contestou os pretendidos direitos da Matriz. Em 6 de março de 1911, a causa, que apaixonará toda a população, foi julgada procedente por sentença do Dr. José Júlio de Freitas Coutinho, no impedimento do Juiz de Direito Dr. Epaminondas bandeira de Melo, sendo condenada a Câmara Municipal.

Mas, a Câmara apelou dessa sentença (Apelação nº 2.912) e por Acórdão de 4 de fevereiro de 1914, o Tribunal da Relação de Minas julgou a ação improcedente e vitoriosa à Câmara Municipal.

Essa causa, avaliada em “5000$00 Conto de Réis”, deu lugar a numerosas e necessárias publicações sobre o início da história de Uberaba, entre as quais dois luminosos trabalhos do Dr. Antônio Garcia Adjuto, dois outros do Dr. Josée Felício Buarque de Macedo e um dos doutores Alexandre de Souza Barbosa e Silvério José Bernardes, intitulado a “Estrada do Anhangüéra”.

A proposta dessa questão, o Dr. Hildebrando Pontes, em magnifico artigo publicado no jornal o “O Triângulo, de Araguari, escreveu:

Os nomes de TRISTÃO de CASTRO e sua mulher Dona FRUTUOSA RODRIGUES PIRES, como DOADORES do Patrimônio da Igreja Matriz de Uberaba, em 1812, quando aqui apenas havia uma aldeia de índios e a povoação de civilizados só se fundara em 1817, não podem figurar por absurdo. Esses nomes entram na questão como Pilatos no Credo. Mas, nem por isso, se deve pensar em tirar da Rua Tristão de Castro este nome, porque, sem o saber nem o querer, dera ele motivo à reunião da maior cópia possível de documentos para a História de Uberaba.”

O Tristão e sua esposa, Frutuosa, são daqueles personagens históricos, que mesmo tenha sido fundamental para início de empreitadas ou pioneirismo, pouca coisa se sabe, informações perdidas na bruma dos séculos.

Segundo Hildebrando Pontes, em à História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central, Tristão de Castro Guimarães, natural de Ouro Preto –MG, onde nasceu em meados de 1745, foi dos primeiros habitantes da região da Farinha Podre, estabelecendo-se como propriedade rural às margens do Lajeado dos Ribeiros, cerca de dez quilômetros a nordeste da Uberaba atual, dedicando-se ao cultivo da terra e à criação de gado.

Conforme senso de 1855, realizado pelo Tenente Coronel Antônio Borges de Sampaio e Professor Manoel Garcia da Rosa Terra, registraram o nome RUA do AZAGAYA, sendo alterada apenas em 1896 em homenagem o cidadão benemérito. 

Nas vésperas dos 24 de junho de 2025, ao assinalar os 200 anos da memória de seu falecimento em 24 de junho de 1825, sepultado no inexistente cemitério São Miguel, nota-se a ausência de iniciativa dos responsáveis do Arquivo Público e Câmara Municipal, realizar estudos e conscientizar a importância histórica da Rua Tristão de Castro, para o desenvolvimento comercial

Rua essa que foi ofertada para Matriz, 1 légua em forma de quadro, e que depois servil de via para interação da saída de Uberaba aos sertões das “províncias do Goyás e Mato Grosso”, além da expansão da cidade para a antiga praça Dr. Adjunto, que foi tomada para instalação da Têxtil Triângulo e hoje se notabiliza pela instalação de novos comércios.

Fonte: GUIDO, Bilharinho. Personalidades Uberabenses. Uberaba; CNEC, 2014

Anuário de Minas Gerais - Bello Horizonte, 1906. Ano I. Escritura do Tristão de Castro e doação. 


sexta-feira, 20 de junho de 2025

SALÃO DO GENERAL, FAZ BARBA E CABELO LEGAL"

Este foi o Salão do General que existiu na década de 1970, na rua Quintiliano Jardim, centro, em frente a Embratel, de propriedade do Sr. Domingos Caparelli Maiolino, conhecido como General Barbeiro, falecido em 01/08/1993.

Foto de acervo de Uberaba em Fotos.

Na barbearia  havia quatro cadeiras - ainda de madeira - e ele trabalhava junto com seu filho Natal Rafael, Miltinho, Antônio, Waltinho e Naldo Lira, engraxate. Em frente às cadeiras, a mesa com espelhos de forma retangular e em cima dela a máquina de cortar o cabelo,  a navalha para fazer o pé do cabelo, a  tesoura, o pente que era de casco de tartaruga, o vidro com água e o talco. Para os que faziam a barba era usada a loção, que era borrifada com uma bombinha de borracha e o pincel de pelo de porco legítimo, e usava ainda o “leite de rosas” ou “leite de colônia” pós barba e a pedra hume. Tinha ainda o avental para o cliente e o do barbeiro.

O "seu" Domingos trabalhou no mesmo ponto por várias décadas. Hoje os barbeiros foram sendo gradualmente substituídos pelos cabeleireiros e as novas técnicas. Dessa classe, poucos restaram, mantendo um pequeno público fiel. 

(Antônio Carlos Prata)

quinta-feira, 19 de junho de 2025

O HOMEM INVISÍVEL

Dele pouco se tem informações, muito embora seja uma figura importante na história local sequer sabemos se seus pais tinham origem europeia ou africana. Natural de Coromandel, MG, onde nasceu em 1823, filho de Zózimo de Moura e de Joaquina da Conceição, ele mudou-se para Uberaba em 1860, vindo de Franca, SP, aqui passando a exercer relevante atividade empresarial e social. Tendo por atividade principal próspera tenda de ferreiro onde produzia foices, machados, enxadas e ferragens para carros de boi, ele também atuou nos ramos escolar e da hotelaria.

Imagem: foto meramente ilustrativa,
 por Moacir Silveira editada, tendo por fundo
 registro iconográfico da Comissão Cruls.

Sua tenda de ferreiro ficava no alto do morro da onça, hoje Praça Sta. Terezinha, onde ele foi seu primeiro morador. Na ampla área chegavam e saiam mercadorias destinadas ao comércio local e região norte do país. Ali, bem defronte ao seu estabelecimento, ficavam estacionados os carroções de boi carregados com açúcar, sal, querosene e utensílios domésticos.

Cinco anos após sua chegada, em 1865, por ocasião da passagem das tropas em direção à Guerra do Paraguai, a cidade se viu assolada por sério surto de varíola, com as dependências do Hospital da Misericórdia lotadas de bexiguentos, contando com apenas dois médicos, ele, sem hesitar, se dispõe a abrigar doentes em seu hotel.

Demais disso, como homem diletante e despreendido nada cobrava para ensinar a ler e escrever, bem como a arte de ferreiro, pelas escolas da cidade.

Por ser um autêntico liberal foi espancado publicamente, em 1887, por adversários políticos apenas “por ter dito que dois chefes conservadores, negociantes, estavam quebrados.”

O seu nome era Fabrício José de Moura Marinho, que viria a morrer em 1895, aos 72 anos de idade, sendo só o que dele se sabe, não restando qualquer imagem, registro ou maiores informações a justificar os motivos pelos quais ser ele o único personagem da história local a identificar importante área da região central, ou seja, o Bairro do Fabrício, em decisão oficial da Câmara Municipal, realizada oito antes de seu falecimento.

Até que dele se encontre alguma imagem e para que não figure como homem invisível relegado aos limbos da história é que faço esse singelo registro para os anais de Coisas e Fatos Antigos de Uberaba.

Moacir Silveira


Fontes: - Arquivo Público de Uberaba; - Diário de Uberaba, de Marcelo Prata, (Vol. I, páginas 306, 531, 579, 580 e 762);

- Site Genea Minas e recorte do Jornal do Comécio, do RJ, com nota de falecimento enviada pelo correspondente local Antônio Borges Sampaio (ambos gentilmente enviados pelo historiador André Borges Lopes.



domingo, 15 de junho de 2025

Nota de Pesar pelo falecimento do Dr. João Gilberto Rodrigues da Cunha

É com imensa tristeza que comunico o falecimento do Dr. João Gilberto Rodrigues da Cunha, um profissional ímpar que marcou sua trajetória pela excelência na Medicina e pela dedicação exemplar à sociedade uberabense.

                 Dr. João Gilberto Rodrigues da Cunha.
                                        Reprodução. 

Além de médico, foi sócio da Casa de Saúde José, empresário, escritor, articulador do Jornal da Manhã e agropecuarista reconhecido internacionalmente por seu trabalho de seleção da raça zebu, foi três vezes presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (1972/74 e 1986/90).

Como médico e professor, Dr. Gilberto foi uma referência, entregando-se com competência e humanidade ao cuidado de seus pacientes e alunos. Como pai, foi um exemplo de amor e dedicação, um verdadeiro alicerce para sua família.

Sua atuação no Conselho Regional de Medicina de Uberaba também merece destaque especial. Dr. João exerceu com brilhantismo o papel de conselheiro, sempre defendendo a ética médica, a qualidade do atendimento à saúde e o fortalecimento da classe médica. Seu compromisso incansável com os valores que regem a profissão deixa um legado que continuará a inspirar a todos nós.

Neste momento de profunda consternação, manifestamos nossas mais sinceras condolências à sua família, amigos e colegas. Que a memória de sua vida e obra nos conforte e inspire a continuar trilhando o caminho da excelência e do respeito pela Medicina. 

O corpo será velado no Salão Nobre da ABCZ,  a partir das 12h de hoje (15/06) e o cortejo será às 17h, chegada ao cemitério São João Batista, às 17h30.

Antônio Carlos Prata 

quarta-feira, 14 de maio de 2025

MÉDIUM DIVALDO FRANCO MORRE AOS 98 ANOS

Morreu em Salvador, na noite desta terça-feira (13), o líder religioso Dilvado Franco.
Divaldo lutava contra um câncer na bexiga desde novembro do ano passado e, nesta noite, teve falência múltipla dos órgãos, segundo a assessoria do Centro Espírita Mansão do Caminho, entidade representada por Divaldo.

          Divaldo Franco. Foto/ Reprodução.

O velório será realizado nesta quarta (14), no Ginásio da Mansão do Caminho, na capital baiana, das 9h às 20h. Já o sepultamento ocorrerá na quinta-feira (15), às 10h, no Cemitério Bosque da Paz.

Conhecido como embaixador da paz no mundo, Divaldo foi responsável por mais de 20 mil conferências, realizadas em mais de 2.500 cidades e 71 países.
Nascido em 5 de maio de 1927, em Feira de Santana, na Bahia, o líder religioso se tornou um dos maiores oradores espíritas da atualidade e se destacou pelo forte dedicação às causas humanitárias.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

RELEMBRANDO OS CARNAVAIS DE OUTRORA EM UBERABA

No Carnaval, à noite, os foliões se dirigiam aos clubes: Tênis Clube, Jóquei Clube, Sírio Libanês, Elite Clube, Associação Esportiva e Cultural.

Foliões. Foto autoria desconhecida. 

O clube, com suas ornamentações, do teto ao chão, onde as noitadas de folia, sempre começavam às 22 horas e adentrava à madrugada. No palco, os músicos da orquestra, tocando músicas marchinhas e, às vezes, eles faziam coreografias com movimentos prá lá e prá cá. As músicas, que fizeram sucesso nos carnavais do Brasil, nos anos 60 e 70: Ô Abre Alas; Mamãe Eu quero; Aurora; Allha-Lá-Ô; Balancê; Me Dá um dinheiro aí; A Jardineira; Cachaça; Saca Rolha; Chiquita Bacana e tantas outras mais. 

No período da tarde, via-se um grande número de famílias e foliões, nas principais vias da área central.  Com seus blocos de rua, escolas de samba, desfiles de carros, entre outras manifestações, fazendo a festa carnavalesca como um todo. A Escola de Samba Bambas do Fabrício, se destacava mais entre outras e, também, a Escola de Samba Abadia, Grêmio. O bloco de rua mais famoso de Uberaba, era a “ Banda da Maria Girisa ”. Quem não se lembra do lança perfume? Já fiquei “zonzim” (tonto) com o lança perfume embebecido no lenço. Neste momento, eu via a Praça Rui Barbosa bem pequenina. No corso, os motoristas retiravam o cano de escape dos veículos e o barulho era insuportável. Fazia o contorno na praça e voltava pela rua Arthur Machado, ia até a avenida Fidélis e retornava na mesma via. No trajeto havia um pessoal que jogava urina.

Infelizmente, sempre tem alguém  no meio das pessoas que se divertem, que são mal caráter, e se revelam, ultrapassam o limite, do comportamento. (Antônio Carlos Prata).

quinta-feira, 1 de maio de 2025

NO PARQUE FERNANDO COSTA, NOS ANOS SESSENTA EM UBERABA

Parques de diversões, sempre foram grandes atrações na Exposição. A chegada deles em Uberaba, nos anos sessenta, me faz lembrar dos caminhões desses parques, carregados de brinquedos, a exemplo dos carrosséis; ou dos carrinhos de bate-bate. Da emblemática roda-gigante – às vezes nem tão gigante assim – ao variado cardápio de guloseimas, que inclui pipocas coloridas, cachorros-quentes, maçãs do amor, quebra-queixos e o chocolate conquistado na pontaria, o trem assombrado; as canoas que subiam e desciam no vai e vem; os carros bate-bate; o capitão Tony, no globo da morte, os aviões, que giravam e faziam o som de aviões de verdade, mas sem causar acidente e, que era a atração principal. Os rodeios marcados por competições emocionantes, como a montaria em touros e cavalos.

Interior do Parque Fernando Costa.
 Foto Antônio Carlos Prata.

Nós (a meninada), corríamos para o Parque Fernando Costa, Bairro São Benedito, para ver o descarregamento e, em seguida, observar o trabalho dos empregados, montando os brinquedos, mas, o que mais chamava a atenção, era a montagem da roda gigante. A roda gigante, com aquela armação de ferro sustentada por centenas e centenas de parafusos pequenos, médios e grandes, cabos de aço, com cadeiras pintadas de várias cores, uma cor para cada cadeira, tudo isso sustentado por macacos hidráulicos. Tinha ainda, as barracas do tiro ao alvo, onde se ganhava pequenos brindes, para quem derrubasse o patinho amarelo, que passava bem devagarzinho, por cima de um tablado; o jogo de argolas, entre outros. Para os adolescentes – rapazes e moças - com hormônios à flor da pele, era a oportunidade da primeira namorada, que poderia vir através dos recados das difusoras do parque e das músicas apaixonadas dos cantores da Jovem Guarda - Wanderley Cardoso, Jerry Adriane, Roberto Carlos, Wanderleya, Renato & Seus Blue Caps, Os Incríveis, os Golden Boys e tantos outros. Lembro-me, quando a roda gigante parava, para alguém descer ou embarcar, os casais, que estavam nas cadeiras lá no alto, ficavam naquele amasso. 

Havia, também, na área externa, os vendedores ambulantes de: churros, de amendoim torrado, de pastéis, e outras guloseimas a exemplo da pipoca do seu “Nicanor”, um senhor magro, baixo  e muito sério, era a preferida dos jovens. Em 30 de abril de 2025. Às 22h. (Antônio Carlos Prata).